O Gabo não tá nada bem. O maior escritor do século 20 está com 85 anos e, de velho, já não é considerado capaz. De acordo com o site Dom Total, Gabriel García Márquez perdeu a memória e tem imensas dificuldades em reconhecer amigos e familiares. No começo desse mês, Márquez deu uma rara entrevista a um amigo íntimo, o jornalista Plinio Apuleyo. Plinio contou que foram duas horas de bate-papo e que, hoje, Gabriel não consegue mais escrever e tem dificuldades de reconhecer as pessoas que permeiam sua vida.
“Nas últimas vezes que conversamos pessoalmente, na Cidade do México, ele repetiu várias vezes: ‘Como anda você? O que tem feito? Quando volta de Paris’? Muitos amigos comuns com quem falei sobre o assunto disseram que com eles aconteceu a mesma coisa. Gabo fez as mesmas perguntas. Existe a suspeita de ele tenha algumas fórmulas. Se não reconhece alguém, não pergunta ‘quem é você’?. Prefere fazer perguntas genéricas. Dói muito vê-lo assim. Gabo sempre foi um grande amigo”.
Plinio Apuleyo
O colombiano vencedor do Prêmio Nobel de literatura (1982) foi um jornalista formidável, tendo seus trabalhos periódicos publicados numa série de 5 livros que vão, desde suas crônicas até as reportagens políticas mais importantes. Como escritor, foi o expoente maior da América Latina e, dentre sua vasta obra, concebeu o clássico 100 Anos de Solidão, considerado um dos livros mais importantes da literatura latina e mundial, além de ser o ápice do chamado “realismo fantástico“, estilo literário que se viu muito importante nas décadas de 60 e 70. É aí que mora toda a ironia do mundo.
Não haveria clichê nessa vida que me fizesse não dizer que Gabriel García Márquez é um dos meus escritores preferidos. Macondo permeia a minha imaginação até hoje, desde quando comecei a ler a primeira página, vendo o Coronel Aureliano Buendía se lembrando do gelo pouco antes de um fuzilamento. Toda vez, sem exceção, que eu falo ou escrevo de amor, sempre me vem à mente a febre de amor do Amor nos Tempos do Cólera, a espera, a entrega. Não há amor como esse. Não haveria de existir, a não ser na mento linda do Gabo, do grande e criativo Gabriel García Márquez. Sua influência na literatura é facilmente visível, impossível de se esquivar. No mundo da escrita, não se pode ignorar o Gabo. Seguir sua linha não se faz necessário, mas deixá-lo de lado seria, no mínimo, um disperdício.
E aí que o ele não tá nada bem. Ainda de acordo com a notícia acima, quando o escritor britânico Gerald Martin escreveu a biografia oficial de Márquez, Uma vida, chegou a perceber a deterioração da mente do escritor:
“Ele era capaz de recordar a maioria das coisas do passado distante, embora tivesse dificuldade em recordar os títulos de seus livros. Mas mantivemos uma conversa normal, até divertida”
Reparem bem como a vida brinca com a gente e como a gente brinca com a vida. Uma das pessoas mais criativas desse mundo, que desenvolveu – como diriam muitos – com perfeição o realismo mágico, que foi além do que se existe pra compor histórias lindas e fantásticas, acaba do jeito mais mundano, comum e triste: com a cabeça se esvaindo como o leite derramado. E ainda dizem que não podemos chorar por isso.
Ora bolas, como ela é bandida! Brinda o homem com uma criatividade sem limites e o transforma em um saco vazio, oco de ideias! Pobre diabo. Pobres leitores que não podem contar mais com essa mente brilhante.
Safados somos nós, que botamos todas as cobranças em uma simples pessoa, uma pessoa como nós. Batemos na mesa exigindo cada vez mais dele, de um senhor de mais de 80 anos que deu muito mais que poderíamos pedir. Por qual razão justo o grande Gabriel García Márquez não poderia se redimir ao fato de ser um velho gagá? Somos mimados.
Triste o fim de um escritor. Triste a nossa ansiedade, a nossa impaciência. “Por que ele?”
Por que não, ele?
Talvez não seja algo pra se entender. Talvez seja o caso de aceitar que vai-se o presente que deus deu para o Gabo, e ficam os presentes que esse escritor nos deixou. Seus livros continuam por aí, assim como continuam os amores dos fãs para com ele, de sua família e amigos.
De tantas opções, essa parece ser a mais digna. Para ambos os lados.
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