Quando crianças, somos vestidos. Não estamos empossados de conhecimento para definir como queremos nos vestir, quais mensagens a nossa roupa passa para as pessoas. A verdade é que nem concebemos a ideia de que passamos informações, já que estamos bem atarefados tentando entender como engatinhar. No máximo, começamos a sacar que somos atendidos de determinadas formas quando choramos de um jeito específico. 

Somos anjos para nossos pais, eles nos vestem com essa carga de candura. Usamos cabelo “tigelinha”, sapatinhos brancos, seguimos nossos primeiros anos carregados de símbolos de inocência, envoltos em tons de azul celeste. O contraste se dá no desejo inconsciente de que sejamos ativos, pentelhos, sapecas, “encaradores” de situações desde criança. Roupinhas cândidas, mas folgadas, confortáveis, versáteis.

Começamos aqui a construir um arquétipo típico do masculino, de “herói” aventureiro, aquele que não vai desistir nunca para alcançar seus objetivos. Obstinado. 

Menino

Quando adolescentes, nos encontramos com a necessidade de demostrar que temos mais controle sobre nossos atos, que não somos mais aquela criança submissa e direcionável. Aumentamos o som do rádio, escolhemos nossas próprias músicas, começamos a escolher roupas que vão causar estranhamento nas pessoas mais velhas, uma ruptura em forma de camisetas de rock, bonés maiores que nossas cabeças, tamanhos que folgam demais ou apertam demais, um soco direto nos olhares mais tradicionalistas.

É um momento intenso em que começamos a buscar outras formas de atitude: fisicalidade, autenticidade, espontaneidade. Ficamos mais brutos e pragmáticos, usamos coturnos ou vestimos camisetas com estampas agressivas, frases fortes, desenhos violentos. Rasgamos nossos jeans e buscamos afirmação o tempo inteiro. “Eu posso, eu quero, eu consigo”.

Jovens, a sensualidade e os sentimentos florescem e a ansiedade também. É nesse ponto que começamos a prestar muita atenção no que falamos, em como falamos, de qual maneira as menininhas da escola e da turma do bairro vai olhar pra gente. Passamos a tomar mais banho, a nos perfumar melhor. Mesmo que para ir apenas ao shopping, vestimos nossas melhores roupas, começamos a reparar nos modelos de tênis que lançam a todo o momento, em como os caras que vemos na tevê e no cinema se vestem, se comportam, o olhar mais sisudo, o comportamento mais calado, a postura ereta. É aqui, neste ponto, que as mensagens que passamos com nossas roupas começam a fazer mais sentido. Passamos a entender que isso gera vantagens quando as meninas nos acham o mais bonitinho da classe ou quando nossa mãe se enche de orgulho de como estamos bem arrumados para ir ao casamento da prima dela e nos trata melhor.

Poxa, é asism que eu quero ser

Começamos a sacar qual é a do capital erótico

Beleza, sensualidade, visual, sexualidade, carisma, vivacidade. Aprendemos melhor a sermos animados, alegres, “maduros”, a mostrar que somos mais independentes, que temos planos para o futuro, que somos aventureiros e fortes e decididos.

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E chegamos a fase adulta com a necessidade de impor nosso espaço no mundo. Precisamos trabalhar e ter estudo e buscar conquistas, carros, mulheres, amigos, viagens, dinheiro. Prisões masculinas acumuladas em anos de anseios. Com sorte, sacamos todo o jogo, toda a artimanha, começa a ficar mais fácil se entendermos essas ansiedades e o quão fugazes elas são.

Tudo faz parte de recortes. Entendemos que podemos apresentar determinadas facetas de acordo com ocasiões, e que podemos ser nós mesmos em todas elas, transmutando apenas a mensagem que passamos com nossas roupas, com o nosso estilo. Compreendemos a qualidade significativa da nossa fala muda, do que passamos quando nos vestimos e passamos a usar isso como arma. Peças começam a variar em nosso guarda-roupa, estilos vão variando e se moldando, as cores já nos auxiliam em cenários e condizentes com nosso tom de pele e não que somos mais ou menos homens por usar essa ou aquela colocação.

Um homem que existe de fato

Usar uma boa camisa em situações profissionais mais formais e uma camiseta quando se está tranquilo na praia ou no bar com amigos. Ganhar masculinidade, robustez quando se usa uma bota sem precisar ser, necessariamente, bruto ou robusto. Jaqueta quando quer passar um pouco de rebeldia, um sapato dockside para quem quer andar com uma cara mais arejada. Qual composição vai te deixar mais sedutor para sair com alguém dependendo de qual gosto a outra pessoa tem e qual lugar vocês escolheram para sair juntos. Qual corte de cabelo pode deixar seu rosto mais simétrico e ainda manter um estilo que condiz com o que você quer dizer, que mostrar? A coisa começa a tomar forma e, quanto mais complexa fica, mais fácil é de sair dos emaranhados e olhar tudo de cima, o macro da coisa. Você pode ser quem você quiser sem deixar de ser você mesmo.

Não precisa bancar o tipo de homem tradicional, provedor, autoritário, bem sucedido. Também não precisa buscar o ideal incansável de “homem moderno” que cozinha e sempre sorri e cuida dos filhos e acha tempo para sair com os amigos e encontrar seu hobby. Somos todos homens possíveis, detentores de muitas qualidades e diversas falhas. E tá tudo bem. 

Entendemos, enfim, o poder das sutilezas e das mil faces. Conseguimos estar em diversos recortes da vida apenas entendendo quais histórias estamos contando quando nos vestimos. 

Mecenas: Malbec Absoluto

O estilo e a coerência estão nos pequenos detalhes, eles são parte do repertório que separa homens comuns de homens marcantes.

Conheça o Repertório Absoluto e descubra o que do seu repertório te faz um homem marcante. 

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados