Se estamos falando sobre o futuro da energia, é essencial passarmos sobre o que está sendo feito hoje, do nosso lado. O SWU é um movimento e festival de grande destaque no país, com uma série de obstáculos, falhas e méritos, que pode ser usado de exemplo – tanto positivo quanto negativo.
Quando o Guilherme me convidou para ir ao SWU, curtir os shows e principalmente participar dos fóruns de sustentabilidade, fiquei muito feliz. Sou formado em engenharia ambiental, e o evento (ou movimento, como os idealizadores o chamam) une duas coisas que eu gosto muito: a música e a preocupação com o meio ambiente. Ao final, fiquei com uma pergunta na cabeça: será que o SWU é apenas mais um festival de música, ou pode ser, de fato, o começo de algo maior?
O SWU acontece em um momento em que o mundo está se conscientizando dos efeitos adversos que as emissões de gases que contribuem com o efeito estufa estão causando ao clima da Terra. Logo antes da 17ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas (COP-17), que acontece agora entre os dias 28 de novembro e 9 de dezembro, em Durban, na África do Sul. A COP-17 tenta buscar a ratificação do segundo período de compromisso do Protocolo de Quioto que atuará durante o período de transição para um novo acordo internacional, a capitalização do Fundo Verde para o Clima criado em Cancun durante a COP-16 e a redução das emissões para limitar o aquecimento global para 2 graus centígrados.
Tendo este DNA de preocupação ambiental, o SWU não se limita apenas aos shows, tentando focar também em discutir novas formas de lidar com a natureza e com ações sociais através de fóruns de discussão ao longo dos três dias do evento, com participações de políticos e personalidades internacionais falando sobre o tema.
As discussões do fórum
Antes de contextualizar o evento deste ano, entendo ser importante citar que o SWU (sigla para “Starts With You”, que significa “Começa Por Você”), de acordo com seu idealizador Eduardo Fischer, é um movimento e, como tal, não deve ser apenas discutido durante os três dias do evento, mas sim permear o cotidiano daqueles que entendem que a causa é nobre e importante para a manutenção da qualidade de vida da geração atual e principalmente das próximas.
Logo no primeiro dia, Neil Young apareceu para falar sobre os fatos da sua vida que o fizeram ter uma mudança de pensamento em relação ao nosso impacto como indivíduos sobre os ecossistemas de nosso planeta. Mudanças que o levaram a alterar o motor de seu carro por um motor elétrico, por exemplo, e depois gravar um documentário sobre isso. Neste mesmo dia, o governador de São Paulo Geraldo Alckmin citou as metas de redução de emissão de gases de efeito estufa e a proibição da utilização de sacolas plásticas em todo Estado a partir de 25/01/2012 como exemplos de medidas em prol da sustentabilidade para o Estado de São Paulo.
No segundo dia do Fórum Global, Marina Silva foi a principal atração. Ela falou que o SWU acontece em um momento importante e que não há tempo a perder, citando a necessidade de equacionar a economia e a ecologia. Falou também que estamos passando por diversas crises. “Há a social, a econômica, a ambiental, a cultural, a política e a de valores. Portanto, é uma crise civilizatória”, disse ela, enfatizando que a ambiental é a que mais lhe preocupa.
Neste mesmo dia tivemos Mário Mantovani, do Instituto SOS Mata Atlântica, falando sobre a questão dos biomas e o retrocesso que o novo código florestal pode significar em nossa legislação ambiental, dando aval para aumentar o desmatamento em nosso país. Como exemplos, citou os topos de morros e as matas ciliares (vegetação densa nas margens de rios), que seriam reduzidos drasticamente.
No terceiro dia de fóruns houve a participação de Fábio Feldmann, que falou também sobre o retrocesso ao século XIX do novo código florestal e atentou para a posição do Brasil como o quinto maior emissor de gases de efeito estufa atualmente. Grande parte causada pelo desmatamento. Assim como Neil Young, lembrou também que os cidadãos devem ser mais conscientes no que forem consumir, levando em consideração a sustentabilidade do produto que estão adquirindo.
Depois de tanta gente inteligente e engajada em projetos sociais e ambientais falar sobre a sustentabilidade, ficou para a organização a responsabilidade de passar esta mensagem às pessoas que foram ao evento. O SWU tem a ideia de usar a música para atrair os jovens para a responsabilidade que nossa geração tem de mudar a maneira de ver o mundo. Como consumir e produzir de maneira consciente, de forma a manter nossas riquezas naturais para que futuras gerações também possam desfrutar.
Na arena, na prática
Infelizmente, o que se viu durante os shows foi o que se vê em qualquer grande festival de música. Em vez de sair discorrendo sem rumo sobre as questões que encontrei por lá, resolvi estruturar a coisa em cinco conselhos que eu daria para os organizadores da edição 2012 do SWU.
1. Como eu disse anteriormente, o próprio idealizador do evento manifestou a necessidade de ter as ideias trazidas pelo SWU como parte do nosso cotidiano, e não apenas algo discutido durante o tempo do festival, uma vez por ano. Se o SWU traz esse assunto à pauta de maneira assim tão pontual, mas depois tira o time de campo até o próximo ano, a imagem que fica para algumas pessoas é a de que o festival usa o discurso de sustentabilidade apenas para vender ingressos para shows, e não por ser uma preocupação real e constante.
2. Ver o chão forrado de copos plásticos e latinhas de refrigerante foi marcante. Se quisermos mudar o mundo, temos que no mínimo começar pelo básico. Uma possível solução seria dar um desconto para quem fosse comprar outra cerveja com o mesmo copo plástico. Outra, seria cobrar por ele, para que as pessoas percebessem que aquele pequeno gesto era importante. Afinal, o melhor jeito de se educar alguém para a causa ambiental, seja uma grande empresa ou um mero indivíduo, é mexendo no bolso. Dar algum tipo de recompensa pelo ato de não sujar seria muito mais educativo do que simplesmente deixar a cargo da consciência das pessoas.
3. Durante as noites do festival, o assunto sustentabilidade saía quase completamente dos holofotes. Tirando os stands de ONGs engajadas na questão da sustentabilidade, apresentando diversas alternativas muito interessantes para consumirmos menos energia e protegermos a natureza, o que se viu foi mais um festival como outro qualquer.
A única presença do discurso ainda era ineficaz, na forma de algumas inserções de vídeo nos telões falando sobre as questões de sustentabilidade entre um show e outro. Os vídeos até que eram bons, mas eram muitas vezes vaiados por conta da ansiedade dos espectadores em assistir ao show desejado. Poderiam ser pensadas novas e mais eficientes maneiras de trazer o assunto aos olhos e ouvidos do público durante o espetáculo, mas sem ser chato. Dessa forma, foi mais desserviço do que conscientização.
4. Outra situação que acontece sempre em festivais, mas que não acho que deveria ser considerada normal em um evento com a proposta do SWU, foi ver diversos vendedores de cerveja (inclusive mulheres) carregando caixas grandes e pesadas de isopor entre o público. Acredito que este tipo de trabalho, por mais honesto que seja, não é mais ergonômico do que cortar cana, por exemplo, e não cabe em um evento que prega sustentabilidade e justiça social.
De nada adianta termos palestras inteligentes e poderosas no fórum, se depois o evento principal joga tudo ao alto e se comporta de maneira igual aos outros festivais “só de música”. É importante ensinar pelo exemplo, até para não ficar aquela sensação de “ah, se nem eles estão preocupados com isso, por que eu me preocuparia?”.
5. Por fim, eu sugeriria uma tenda com transmissões dos fóruns. A maioria dos palestrantes falava antes dos shows começarem, e apenas quem estava dentro do teatro ou estava vendo pela internet ou TV tinha acesso. Logo, as pessoas que lá estavam e não estavam previamente inscritas no fórum não tinham como assistir, e justamente essas pessoas casualmente curiosas deveriam ser o principal alvo do movimento.
Terminado o SWU, a minha sensação final foi a de ter participado de dois eventos distintos. Um fórum riquíssimo, com palestrantes das mais diferentes localidades do planeta falando sobre suas ações em prol de uma sociedade mais justa e sustentável, e um festival de musica como outro qualquer. Com bandas muito boas, é verdade, mas ainda assim um festival como outro qualquer.
É evidente que este é o segundo ano do SWU e melhorias serão feitas para os próximos, porém nosso papel é cobrar. O SWU diz que quer fazer, e nós, bem, nós queremos que ele faça bem feito.
Você foi ao festival e observou alguma coisa nesse sentido? Dê a sua opinião também.
Mecenas: Shell | Energia 2050
O objetivo da Shell é contribuir de forma responsável para este futuro energético por meio da entrega de:
Mais energia: estamos investindo pesado no desenvolvimento de novas fontes de óleo e gás, assim como em novas tecnologias para obter mais de nossos poços de petróleo, alcançar maiores profundidades e operar em ambientes desafiadores. Em 2010, a Shell investiu US$1 bilhão em tecnologia de pesquisa e desenvolvimento, mas do que qualquer outra companhia internacional de petróleo.
Energia mais limpa: estamos produzindo mais gás natural, o que representará metade de nossa produção em 2012. Esse é o combustível fóssil mais limpo, produzindo de 50 a 70% menos de CO2 que o carvão em usinas de energia.
Energia mais inteligente: oferecendo produtos que ajudam os consumidores a “obter o máximo de cada gota” da energia que eles usam. Isso inclui o investimento em biocombustíveis, que se destacam como uma das opções de baixa emissão de CO2 mais acessíveis a curto prazo e em eficiência energética, com combustíveis como o FuelSave, que ajuda os motoristas a economizar até um litro de combustível por tanque.
Estas são algumas das maneiras com as quais estamos trabalhando para contribuir para as demandas energéticas do futuro.
Envie suas ideias, sugestões e dúvidas pelo Twitter com a hashtag #Energia2050.
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.