Você está num bar, na casa de amigo, na balada ou numa festinha aleatória e conhece uma menina muito gata, muito gente boa. Ela é maneira, engraçada, dá um mole fodido para você e a conversa flui como se vocês se conhecessem há 10 mil anos. A tensão sexual é nítida, mas não chegaremos ao bem-bom: foquemo-nos na interação. As preliminares sociais, por assim dizer.
Preliminares sociais
Por mais que ela seja linda e esteja dando mole, você vai apertar a bunda dela e fazer uma piadinha a respeito? Talvez sim, dependendo da brecha do momento, mas é bem improvável. Assim como é pouco provável que você fale daquela broxada antes do primeiro sexo anal com sua ex. Pode ser que vocês conversem tudo isso e mais um pouco, mas convenhamos, é raro. Para que tal intimidade aconteça, é necessário que vocês se identifiquem como unha-e-carne, jiló-e-talo, castanha-e-caju em poucos instantes. Não é impossível, apenas bem raro. O normal é que tais intimidades surjam com o tempo.
O mesmo se aplica ao sexo propriamente dito, como apontei no meu texto passado sobre mulheres, intimidade, safadeza e sexo. Muitos leitores questionaram:
Ser “puta” ou “não puta” depende agora não mais de transar ou não de primeira, mas sim do que a menina libera logo de primeira.
Tsc tsc, por favor… Liberar “tudo” – seja se entregar psicologicamente ou sexualmente – exige certo grau de conforto um com o outro. Intimidade e carinho fomentam a entrega mútua total, a vontade de se mostrar para o outro como não se mostra para ninguém. Confiar totalmente em qualquer um é uma ingenuidade que normalmente não tem bons resultados.
Vejamos a visão da mulher:
“Ah, e se eu quiser dar o cu e levar esporro na cara logo de primeira? Significa que sou puta?”
É claro que não. E mesmo que ela faça de tudo, não significa que ela seja nada além de uma mulher com fantasias peculiares. Veja bem o caso da Lasciva, por exemplo, que inclusive publicou no PdH o manual “Deep throat em 7 passos“. Uma mulher inteligente e bem decidida que não apenas faz de tudo na primeira vez, mas gosta disso e ainda conta tudo pra gente na internet! É algo reprovável? Jamais, de forma alguma… Pelo contrário, sou fã e leitora assídua. Mas quantas mulheres assim existem?
Realizar suas fantasias é um direito seu, mas a impressão que passa é que você faz de tudo com qualquer um que te dê tesão. Como diz a sábia Stoya, “homens não gostam de pensar que todo mundo já esteve ali”. Passa-se a impressão de que ela é um brinquedo a mercê da vontade do outro, que qualquer coisa que qualquer homem peça você faz. Como citei anteriormente, isso é coisa de mulher que tem fetiches específicos.
Da mesma forma que não conto tudo para todos, na primeira vez que faço sexo com um cara sou tachada de “meiguinha”. Só depois é que os adjetivos vão se intensificando: sedenta, devassa, minha gostosa, minha safada etc. Eu nunca fui do tipo que precisa da aprovação das outras pessoas (se assim fosse, não escrevia sobre sexo na internet pra todo mundo ver minha cara, né?), mas existem certas coisas que eu simplesmente não faço de primeira. Por “vergonha”? Será que este é o termo certo?
E nem me refiro às coisas cabulosas. Até mesmo alguns atos simples, como por exemplo fazer e receber sexo oral com contato visual. Tendo-se um relacionamento mais íntimo, tal ato torna-se padrão, mas qual não foi minha surpresa quando algumas amigas minhas me confessaram que nunca olharam nos olhos de seus namorados durante o oral. Elas disfarçam dando uma de “sensual” e jogando os cabelos no rosto por pura vergonha, o que já julgo ser um pudor demasiado e desnecessário.
De qualquer forma, retornamos à questão que pus no primeiro post: a puta safada existe, mas eu preciso de um mínimo de intimidade para deixar a bruxa à solta, e isso pouco tem a ver com a sua beleza, charme ou performance. É simplesmente uma questão de intimidade.
De coisas belas, sujas e gostosas
Ah, mas como eu era saidinha e porra-louca quando mais nova! Selvagem no auge dos meus 20 e poucos anos, saía, dançava, era desejada e escolhia o rapaz mais legal – nunca o mais bonito, por ironia do destino – para flertar mais seriamente. O tempo passou e meus dias de sexo leviano e descompromissado foram trocados por relacionamentos firmes e íntimos. Tal mudança me fez perceber que eu não sabia nada sobre sexo! Você aprende muito sobre homens quando foca mais em quantidade do que em qualidade, mas você aprende muito mais sobre pessoas – especialmente sobre si mesmo – quando se aventura na intimidade mais insólita de uma pessoa só.
Por exemplo, o tal do olhar nos olhos. Por mais rotineiro que seja, é algo que exige muita intimidade pra mim. Eu simplesmente não vou fazer um oral com carinha de safada em qualquer um, de forma alguma. É uma entrega que demanda intimidade, carinho, uma conexão além da física.
Tal conexão também é necessária, por exemplo, para o sexo anal, ainda tabu para muita gente. Sei que existem mulheres que adoram e que só atingem o clímax dessa forma mas, na minha visão, é um ato de submissão completa, de total entrega ao parceiro. Precisa-se de um conforto extremo um com o outro, assim como o meia-nove. Não tem nada demais: é apenas um sexo oral mútuo. Mas acho que se torna muito mais gostoso e promíscuo quando o casal tem uma cumplicidade plena para se lambuzar sem restrições um no outro. Fazer por fazer não vale à pena.
Outra coisa que é furada fazer de forma leviana são os swings, ménages e surubas. Terreno perigosíssimo, posto que é necessário uma parceria e intimidade nível bróder para colocar outras pessoas no relacionamento. É muito fácil a garota aceitar um ménage só para agradar o parceiro e ficar se roendo de ciúmes depois. Para tal assunto surgir em pauta também é necessário aceitar totalmente o desejo do outro. Uma vez, o tema “ménage a trois” surgiu com um ex-namorado e eu disse que dependia muito de encontrar a garota certa. Pra minha completa surpresa, a resposta dele foi:
“Garota? Eu tava pensando em um outro homem.”
Isso só mostra que, por mais liberal que você seja, existem coisas que ainda surpreendem e testam/ultrapassam seus limites. Na época eu não topei o ménage, e acho que dificilmente toparia. O tempo passou e graças aos céus agora eu tenho um namorado, digamos, “normal”. (Sem preconceitos, mas acho que a maioria dos rapazes preferem duas moças, certo?)
Falando em normalidades, outra coisa que é bem comum mas exige intimidade é o tal do dirty talking. Eu tenho o terrível mal da verborragia, e com gemidos a coisa não é diferente. Já me zoaram muito porque eu gemo de prazer até mesmo quando devoro alguma refeição muito deliciosa. Imagina a barulheira em outras situações tão ou mais prazerosas… Pode tampar minha boca, me sufocar ou me dar uma fronha pra morder: controlar vocalizações pra mim é difícil. Ainda assim, tem um naipe de baixarias que apenas o namorado está destinado a ouvir. Em fodas levianas fala-se o leviano, mas as putarias mais íntimas e deliciosas… há de se chegar até lá.
Freud explica por que alguns homens têm tesão em gozar no rosto das mulheres?
Uma vez levei uma amiga minha recém-casada na sex shop. E ela estava bolada porque o marido começou a pedir pra gozar na cara dela, e ela com mil minhocas na cabeça.
“Será que ele está me desvalorizando? Será que ele está perdendo o tesão em mim? Por que ele está fazendo isso agora?”
Tranquilizei a moça com o seguinte pensamento: ele sempre teve esse tesão em ser dominador, mas só agora se sentiu confortável para submeter a esposa a isso. Abraça o papel de putinha, amiga! Ele é seu macho, uai. Se ele sente tesão nisso, e se receber uma porrinha ocasionalmente não te incomoda, vai na fé e dá corda pra fantasia dele! Isso só vai fortalecer a relação.
Link Vimeo | Quem não curte?
Aliás, é interessante que homens que curtem essa parada de gozar na cara da mulher geralmente curtem também o tal do tapinha. Essa é clichezíssima! Tal manobra, creio eu, contém muito mais receio do homem do que dá mulher, afinal, não dá para o cara saber a reação da moça que leva um. Entretanto, da mesma forma que eu desconfio da performance sexual de um homem que não come de tudo, desconfio da capacidade de ser safadinha de uma menina que reclama de uns tapas. Um belo tapa na bunda de uma mulher é um “puta merda, como você é gostosa!”. Assim como um belo apertão na bochecha de um nenê é um “puta merda, como você é fofinho!”. É saudável e recomendável não apenas receber um belo de um tapa com um gemido de prazer, mas também pedir por isso, provocar isso com esfregadas e gemidos estratégicos. Opa, mas que papo quente, hein? Acho que já deu por aqui.
Para concluir rapidamente – de repente surgiram coisas melhor pra fazer, if you know what I mean –, não precisamos julgar ninguém: nem porque fez-se sexo de primeira, nem porque fez-se um sexo clichê, ou selvagem ou na beira de um penhasco com uma plateia olhando. Estamos falando do que “normalmente” acontece, e “normalmente” os primeiros sexos num terreno novo são rascunhos. Quanto mais se pratica, mais próximo se chega de uma obra-prima.
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