Marlon Brando, Clark Gable, Bruce Willis, Johnny Depp, Gary Cooper, Sean Connery, Danny Trejo, Tony Ramos, Erasmo ou mesmo o Roberto Carlos, todos exemplos de masculinidade. Modelos que a gente acaba levando em consideração, mesmo sem querer, quando o assunto é definir o que consideramos masculino.
Senso de competição, quantas mulheres deve comer, pegar, namorar, casar, quantos filhos você deve ter, quais carros deve escolher, quais esportes deve assistir, quais músicas pode ou não ouvir, quais filmes deve ver. Há dezenas, centenas de imposições mais ou menos sutis por todos os lados.
Chad States é homem, porém alguém que sempre se sentiu em algum lugar entre o masculino e o feminino. Esse sentimento o motivou a ir em busca daquilo que define masculinidade.
Para isso, colocou um anúncio no Craigslist:
Você é masculino?
Estou fazendo um projeto de fotografia sobre masculinidade. Se você se identifica como masculino, por favor, entre em contato.
Ele deixou o anúncio o mais neutro possível, para que pessoas de diferentes gêneros e sexualidades pudessem se manifestar. Alguns dias depois, apesar de a maioria das respostas ter sido de homens, algumas mulheres e transexuais também entraram em contato.
Durante o processo de combinar as condições do ensaio, Chad perguntou o porque de eles se considerarem masculinos. As respostas vem junto das fotografias, como títulos, uma forma de dar voz às imagens.
Todas as fotografias foram feitas dentro da casa dos modelos, com os objetos e na pose de sua preferência, apenas com o foco de posar da maneira que considera mais masculina.
O resultado foi uma série de fotografias repletas de seres variados, tentando encontrar o seu espaço, expondo aquilo que consideram o seu melhor. Um homem nu, deitado na cama, um homem que se orgulha do peso ganho com os anos, um cara dizendo que não se preocupa com a opinião dos outros – no entanto, o único usando máscara –, um cego que não suporta as pessoas oferecendo ajuda. Figuras às vezes bastante caricatas, bizarras, de um jeito que a gente pode não gostar de admitir, mas sim, masculinas.
Tanto quanto você e eu.
Mas e se a gente colocasse a necessidade de definir masculinidade na parede?
"Seja homem!"
Muitas vezes há o sentimento de ter algo engasgado, que a gente nunca consegue admitir. Há um monte de solidão, raiva e frustração na necessidade de se portar de um jeito e não de outro, para enfim ser reconhecido como um "bom homem".
Nós temos, o tempo inteiro, alguém para nos dizer como devemos nos relacionar, como devemos transar, qual deve ser o tamanho do nosso pau, que homem que é homem não acha outro homem bonito e, muito menos, diz que ama.
A gente acha que homem não pode trepar com outro homem, porque homem que é homem, gosta de mulher.
A gente acha que não pode chorar naquele filme, Antes do Pôr do Sol, quando o casal se reencontra, quase dez anos depois daquele único encontro maravilho e inesquecível. Não dá, a gente não pode ser sensível desse jeito. Isso não é coisa de homem.
Homem não pode se vestir como mulher. Homem tem roupa de homem e deve usar apenas isso. Exceto no carnaval. No carnaval pode tudo.
Se, por qualquer motivo, a gente decide que é melhor não trabalhar tanto, que os filhos estão crescendo e é melhor aproveitar os dias contados que teremos ao lado deles, fodeu. Os dedos julgadores apontam, um ressentimento vindo de algum lugar misterioso aparece. Uma certa vergonha surge. "Você não está agindo como homem".
O preço de agir contra o establishment, é ser condenado perante os olhos da sociedade – e os seus próprios, muitas vezes –, por não aceitar o papel que lhe cabe.
Mas que papel é esse?
Já está ficando claro que definir um modelo predominante não parece mais ser suficiente para traduzir toda a enorme paleta de características que pode nos definir como masculinos.
Se o que faz um ser masculino são uma série de adereços, de papéis, habilidades e qualidades como coragem, assertividade, independência, honestidade, clareza de pensamento e raciocínio, absolutamente nada impede que qualquer pessoa possa se considerar masculina.
Nada impede que uma mulher, um homossexual, uma travesti ou transgênero possam se achar mais masculinos que eu, por exemplo. E, se me perguntarem, vou dizer: provavelmente são mesmo.
Ao mesmo tempo, nada impede que um homem possa se considerar masculino por manifestar qualidades ditas femininas. Você poderia perfeitamente se considerar masculino justamente por ser mais sensível e compassivo ao sofrimento dos outros, por gostar de cuidar dos seus filhos ou, talvez, por se dedicar e cuidar dos seus relacionamentos.
Chad foi perguntado se o projeto afetou o senso da sua própria masculinidade:
Não. Mas foi bom ver que eu não era o único que pensava sobre masculinidade. Questionar publicamente sua masculinidade é definitivamente incomum nos EUA. Foi legal poder compartilhar e discutir ideias do que é masculinidade com meus sujeitos. Tive longas conversas sobre masculinidade com quase todos eles e não só num esquema de entrevista. Eu tive que ser aberto e compartilhar com eles se eu quisesse que meus sujeitos compartilhassem comigo.
Não me admira que Chad tenha ido em busca da masculinidade e não tenha chegado a lugar algum.
A masculinidade não é mais algo a se definir.
Outras leituras recomendadas:
- O que é um homem? O que é uma mulher?
- "Queria ser hétero, mas não consigo"
- Solidão masculina
- O amor dos bróders
- Homem que é homem… chora. Porra!
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