Mário Prata uma vez escreveu uma crônica apontando que todo o universo gira por um propósito muito primitivo e até instintivo, a vontade (necessidade?) de copular. O exemplo, usado por Prata, foi do mineiro – em plena corrida do ouro em Serra Pelada – que respondeu à pergunta “Por que o senhor veio para cá?” com um simples pácumêmuié.
Eu, infelizmente, terei de discordar dele. A maior força do universo é o cagaço.
Na história da humanidade há provas disso. Pegue, por exemplo, o medo de ir para o inferno e tudo o que ele causou no curso da história (achei um vídeo em inglês, muito interessante e bem-humorado, explicando exatamente isso).
Levando para o indivíduo, o medo pode tomar diversas formas, tamanhos, cores, sons, odores e texturas. Pelo que sei, tenho apenas três grandes pavores particulares: aracnofobia – medo de aranhas; acrofobia – medo de altura – e por último e mais aterrorizante; tripofobia – medo de buracos (círculos) pequenos em conjunto.
Sim. Eu tenho horror, completo, total e irremediável disso. Só o fato de pesquisar o nome tripofobia já me ferrou, porque você, assim como eu, sabe que, querendo ou não, vai aparecer alguma imagem na pesquisa.
Dizem que fobia é diferente de medo no sentido de que, quando você sente medo, seu corpo é injetado com adrenalina, e meio que entra em modo survival, ligando tudo no 220v para que você salve a sua preciosa vida.
Já fobia é aquilo que faz você se encolher no canto e gritar feito um menininho mijão.
Agora que introduzi o assunto e fiz você refletir sobre o poder do cagaço, pensar nas fobias que tem, e pesquisar o que diabos é tripofobia para ver se tem também, quero apresentar algumas vídeos curtos de pura genialidade que despertam esses sentimentos na gente. Como bônus, coloquei microcontos que não necessariamente têm a ver com os vídeos, mas que vão ajudar a colocar você no clima.
Então pegue na minha mão, e tente não molhar as calças…
Gumshoe
“Você chega em casa, cansado após um longo dia de trabalho e pronto para uma noite tranquila sozinho em casa. Aí você alcança o interruptor para acender a luz e encontra outra mão lá.”
Pegando leve, um curta quase bem-humorado numa estética noir que simplesmente vai criar muitas perguntas…
Cólera
“Eu não consigo me mexer, respirar, falar ou ouvir e é tudo escuro o tempo todo. Se eu soubesse que ia ser tão solitário, teria pedido para ser cremado.”
Eu consigo sentir a cabeça de todo mundo maquinando, imaginando e desenhando o que irá acontecer no futuro dessa vila.
Lights Out
“Minha filha não para de chorar e gritar no meio da noite. Eu continuo indo ao túmulo dela para pedir que ela pare, mas não adianta.”
Esse inclusive já foi alvo de texto aqui no PdH. O que eu gosto nesse curta é que ele representa um medo que absolutamente todo mundo já teve. Quantas vezes, sozinho em casa, você não ouviu uns barulhos meio estranhos, uma luz, que devia estar apagada, acesa, uma porta fechando sozinha?
Cam Closer
“Tem uma foto minha dormindo no meu telefone. Eu moro sozinho.”
Putamerda.
Pictured
“A última coisa que eu vi foi meu despertador piscando às 12h07, antes dela apertar meu peito com suas unhas podres, sua outra mão tampando minha boca, abafando meus gritos. Eu me levanto abruptamente, aliviado por ser só um sonho.
Olho então para meu despertador marcando 12h06 e ouço a porta do meu armário abrindo…”
Como eu estou assistindo, e escrevendo sobre cada vídeo em sequência, você pode imaginar o meu estado agora. Eu estou tremendo. E não, você não está maluco, esses três últimos vídeos fazem parte de uma trilogia dirigida por David F. Sandberg. Esse cara é bom. Esse cara é muito bom.
Not So Fast
“Em todo o tempo em que vivi sozinho nessa casa, eu tenho a mais absoluta certeza de que fechei mais portas que abri.”
Mais um do David. E nesse aqui eu confesso que tive um pequeno faniquito. Me lembrou inclusive de um conto que eu escrevi há tempos atrás. Esse negócio de não conseguir alcançar algo mesmo estando na sua frente já foi tema principal de vários pesadelos.
Tuck Me In
“Ela me perguntou porque eu estava respirando tão pesadamente.
Eu não estava.”
Eu quase gargalhei no final pela inteligência. É de explodir a cabeça.
Marble Hornets
“Acordei com o som do monitor de bebês transmitindo uma voz confortando meu primogênito. Quando me ajeitei para dormir numa outra posição meu braço roçou na minha esposa, que dormia ao meu lado.”
Vocês precisam saber sobre isso. O canal Marble Hornets é na verdade uma websérie sobre ninguém mais, ninguém menos que o Slender Man, muito famoso após o jogo online de mesmo nome lançado há dois anos. O Slender Man é quase uma versão do bicho papão, uma lenda urbana. E cara, você precisa ver essa série, veja o vídeo abaixo e siga pelos próximos capítulos, é simplesmente fantástico.
Landau 66′
“A última pessoa viva na Terra estava sentada dentro de um quarto quando ouviu batidas na porta.”
Curta brasileiro, dirigido por Fernando Sanches, muito bom. Roteiro muito legal, argumento bacana. Quase um contos da cripta.
Mamá
“Após um longo dia de trabalho, eu chego em casa para ver minha namorada fazendo carinho no nosso filho. Eu não sei o que é mais aterrorizante, ver minha namorada morta em meu filho natimorto ou saber que alguém invadiu meu apartamento para colocá-los lá.”
Por que né cara? Por quê?
LOT254
“Eu nunca vou dormir, mas eu continuo acordando.”
Objetos antigos guardam segredos aterrorizantes. Odeio brechós e lojas de usados. Odeio.
* * *
O que eu gosto nessas histórias curtas, é o fator “Ómeudeusdocéuoqueacontecedepois?!”. Normalmente, o final aberto deixa que você, na sua cabeça, termine a história. E isso é assustador, porquê, querendo ou não, você se coloca na história. Quando o terror está na sua cabeça, no seu imaginário, ele é muito, muito mais forte.
Acho que esse é o motivo deu estar tão apavorado agora. Ou isso ou esse barulho horrível da terra caindo em cima do meu caixão…
Mecenas: Alien Isolation
Mais medonho do que assistir filmes e ler contos é viver a história dentro de um jogo.
Alien Isolation é um game baseado no clássico filme de Ridley Scott de 1979, no estilo “Survival Horror”. Ou seja, diferente da maioria dos jogos de primeira pessoa, a criatura está à sua caça e você está claramente em desvantagem. Qualquer barulho fará com que a criatura vá buscar de onde veio o som e, se ela o avistar, vai persegui-lo até ter a sua carne dilacerada na boca.
O jogador precisa buscar maneiras inteligentes para se manter vivo e obter sucesso na sua missão.
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