“Celebro mi destino
de sentir como siento,
de vivir como vivo,
de morir como muero.”
Atahualpa Yupanqui

Improvável, excessivo, este mundo por onde vamos carece de realidade. Crer nele é um descuido.

Nos falamos, nos vemos, tocamos as coisas, e é incrível que isto seja possível. Que os bebês saibam sorrir. Que haja rochas pelo céu com um trajeto previsível. Que chova, que faça sol e que o calor seja suficiente. Que sejamos diferentes, que nossos rostos não se repitam. Que haja coisas inexistentes: as possibilidades, os algarismos, a música, a fé, a estética, a memória assombrosa e os sonhos. Que meu nome (esta palavra com que me chamam) e meu sangue talvez sigam e sejam o peso de outro. Neste mundo tão diverso, que eu seja isso, assim. Que eu esteja aqui, que eu escreva e me sinta repentinamente surpreso.

E há uma grande impostura em minha vida: imagino que se eu hesitar por um instante apenas, se desfará algum tipo de equilíbrio delicado que nos sustenta. A verdade é que não importo. Sou esta coisa qualquer que surgiu há pouco e já vai desaparecer, que será esquecida, que sorri e finge não ter medo. (No momento seguinte, tudo continuará bem, improvável, excessivo.)

***

(Este texto apareceu originalmente no Não2Não1, blog sobre relacionamentos mantido pelo nosso Gustavo Gitti.)

Fábio Rodrigues

<a>Artista visual</a>

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