Pedro Taques | Homens que você deveria conhecer #6

“Água? Café? Certeza? Eu quero, por favor. Sem açúcar”. Foi oferecendo e pedindo que Pedro Taques recebeu o PapodeHomem para uma entrevista exclusiva em seu escritório localizado no bairro Santa Rosa, em Cuiabá (MT).

O homem mais jurado de morte da história de Mato Grosso estava na nossa frente. E bebendo café. Sem açúcar, justamente como devem ser as xícaras de café.

José Pedro Taques, cuiabano, 42 anos, ganhou notoriedade nacional pela postura firme e notável capacidade de articulação. Nos anos 90 atuou como Procurador do Estado de São Paulo e foi Procurador da República, sendo designado para agir nos estados do Acre e Rondônia. “Eram terras sem leis. Pistoleiros mandavam e desmandavam. Fiquei 40 dias sem sair da procuradoria”, disse. “Tinha medo?”, questionei. “Meu único medo sempre foi ter medo”, respondeu de bate pronto.

Essa falta de medo fez com que Taques denunciasse a prática de nepotismo no Tribunal de Justiça do Acre e Rondônia. “Pedi a anulação do concurso para Juiz do trabalho. Quase todo mundo tinha o mesmo sobrenome na lista de aprovados”, comentou. Abri um sorriso. Ele continuou sério.

Um dos primeiros feitos do ex-procurador a ganhar proporção nacional foi em 1995. Ele participou ativamente das investigações contra Hildebrando Pascoal, então deputado federal do Acre acusado de liderar um grupo de extermínio, integrar esquema de crime organizado para tráfico de drogas e roubo de cargas. Hildebrando foi condenado por tráfico, tentativa de homicídio e corrupção eleitoral.

No ano seguinte Pedro Taques foi transferido para Mato Grosso, onde, aí sim, ganhou ainda mais fama e popularidade através de feitos inimagináveis para a época e situação política e histórica do estado.

Foi através de uma denuncia da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) que Pedro Taques iniciou as investigações de João Arcanjo Ribeiro. Arcanjo, considerado o Al Capone de Mato Grosso, teria envolvimento com o crime organizado e desembargadores do Tribunal de Justiça de MT.

“Eu havia visto Arcanjo uma vez em Cuiabá, num restaurante. Cheguei na porta banheiro e um segurança não deixou-me entrar. Achei estranho. Só depois de Aracanjo sair do banheiro que o segurança liberou a passagem das pessoas. Suspeitei. Aquilo era muito poder para os tempos de hoje. A denuncia da Abin só confirmou a suspeita.”

Durante o período de investigação sobre as ligações de João Arcanjo com o crime organizado, Taques ajuizou ação contra José Osmar Borges, um dos sócios de Jader Barbalho. Jader, presidente do Congresso Nacional, teve o mandado cassado em 1998. A operação ficou conhecida como Caso Sudam.

Ainda em 1998 as investigações sobre João Arcanjo vazaram e foram paralisadas. “Foi um golpe, mas ao mesmo tempo uma confirmação que havia mais gente envolvida com essa máfia. Não foi à toa que as informações vazaram”, comentou.

“E o que o senhor fez durante esse tempo de paralisação nas investigações, uma vez que o Caso Arcanjo era prioridade?”. “Denunciei Leopoldino Marques do Amaral (TJ/MT), aquele que desviava dinheiro de contas judiciais, e ajuizei ação para que a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) não cobre taxa de inscrição do vestibular de estudantes de baixa renda”, respondeu.

Em 2001 as investigações foram retomadas. E Taques ganhou da embaixada norte-americana um curso sobre lavagem de dinheiro e combate à organização criminosa em Washington (EUA). “Com certeza eles já investigavam Arcanjo. Ele tinha patrimônios em território americano. Eles também estavam de olho no que acontecia aqui”, disse. Passou 45 dias estudando nos EUA.

A operação pra prender Arcanjo começou meses depois da viagem. Em dezembro de 2002, Arcanjo e coronéis envolvidos com a máfia dos caça-níqueis começaram a ser procurados. Arcanjo fugiu. E, nem tão surpreendentemente, começaram a ser detectadas ramificações de Arcanjo com a mesa diretora da Assembléia Legislativa de Mato Grosso.

Arcanjo foi preso no Uruguai no inicio de 2003. “Fui dezenas de vezes ao país negociar a extradição”, diz. João Arcanjo Ribeiro, ex-policial civil e responsável por uma organização que movimentou cerca de R$ 900 milhões de 1997 a 2001 sem declarar à Receita Federal, foi condenado a 37 anos de prisão por formação de organização criminosa, crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro.

“Não tenho orgulho de prisões. Apenas faço meu trabalho. Estudo, sigo e cumpro as leis”, diz de modo, aparentemente, inocente. Mas com a expressão de quem tem conhecimento das leis e, principalmente, do modo como aplicá-las.

Falando em orgulho, Taques, antes da terceira xícara de café, relembrou uma atitude que mexeu com o brio de milhares de brasileiros em 2004. “Eu liguei o computador e li uma noticia que dizia que todo brasileiro estava sendo obrigado a deixar impressões digitais ao desembarcar nos Estados Unidos. Pensei: ‘por que não estabelecer uma igualdade de tratamento entre norte-americanos e brasileiro?’. Liguei para o Julier [Julier Sebastião da Silva, juiz federal] e ele adotou a decisão”.

O ato teve repercussão internacional, fazendo com que outros países tomassem a mesma atitude. Pedro Taques foi convidado para palestrar em diversos locais sobre o tema. A imagem de um piloto americano fazendo um gesto obsceno quando é fichado circulou o mundo e traduziu a revolta norte-americana. “Eu só, mais uma vez, cumpri a lei”, diz Taques, que pediu demissão do cargo publico e filiou-se ao PDT, onde é pré-candidato ao Senado Federal.

Em determinado momento da entrevista, após atender uma ligação, Taques perguntou se eu criaria um artigo ou apenas redigiria a entrevista. Quando respondi explicando que ele seria personagem de uma série chamada “Homens que você deveria conhecer”, sorriu. E disse:

"Em 1999, depois de cinco júris em Roraima, a Folha de S. Paulo publicou um artigo intitulado ‘Pedro Taques, eis um homem que FHC deveria conhecer’."

“E conheceu?”, perguntei.

“Não. Mas quem sabe ele leia seu site.”

Quem sabe, Pedro.


publicado em 12 de Julho de 2010, 03:01
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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