Mochilar é estar em movimento. Desde que resolvi colocar um mochilão nas costas e conhecer o mundo, fiz e refiz inúmeros roteiros de viagem. Muitos foram executados, mas a maioria deles permanece no plano imaginário, aguardando que tempo e dinheiro permitam que a viagem seja realizada.

Todos, porém, têm em algo em comum: são aquelas viagens que envolvem percorrer milhares de quilômetros e longos trechos por terra, conhecer várias cidades e, depois de algumas semanas, voltar para casa.

Numa viagem pela Europa, por exemplo, meu primeiro mochilão envolveu Madrid, Roma, Paris e Londres. É também comum o roteiro de mochilão pela América do Sul que começa na Argentina, dá uma passadinha pelo Uruguai e termina no Chile. Ou continua subindo, com fim somente na Bolívia ou Peru.

País continental, o Brasil permite inúmeros roteiros assim. Há pelo menos um destino incrível a poucas horas de estrada de você, não importa sua cidade.

Cidades Históricas Mineiras

Congonhas, Minas Gerais, onde ficam os doze profetas de Aleijadinho

Começo pelo quintal de casa. Belo-horizontino que sou, cresci visitando, de tempos em tempos, cidades como Ouro Preto, Mariana, Tiradentes, São João del-Rei e Congonhas. E, além delas, tem Inhotim, convertido num dos grandes destinos turísticos do estado.

Com sete dias é possível percorrer as cidades desse roteiro, mas quem tem mais tempo não reclama. Vá para Belo Horizonte e passe duas noites na capital mineira. Visite a Praça da Liberdade, o Conjunto Moderno da Pampulha e a observe a vista da Praça do Papa. Quem gosta de trilhas pode conhecer a Serra do Curral; quem prefere cerveja não vai se decepcionar: além de milhares de bares, a cidade tem algumas cervejarias artesanais. E não deixe de passar pelo Mercado Central.

De BH siga para Ouro Preto. Para isso, pegue a BR 040, sentido Rio de Janeiro. Siga na rodovia até o trevo do Alphaville, a cerca de 20 km de Belo Horizonte. Neste ponto, entre sentido Ouro Preto, seguindo pela BR 356. Cerca de 100 quilômetros separam BH de Ouro Preto. É possível fazer o trecho de ônibus, com a Viação Pássaro Verde. As passagens custam, em média, R$ 30.

De Ouro Preto para Mariana é um pulo, que pode ser feito de transporte público – as passagens custam R$ 3. Além disso, por ali vale conhecer também Lavras Novas, distrito charmoso de Ouro Preto (as passagens custam R$ 4,40). Eu fincaria base em Ouro Preto por duas ou três noites, aproveitando para conhecer as cidades ao redor, antes de seguir viagem para Congonhas.

Cerca de 60 km, pela MG 129, separam Ouro Preto de Congonhas, a cidades dos profetas do Aleijadinho e que, assim como OP, é Patrimônio Mundial da Unesco. Se não estiver de carro, vá para Ouro Branco e de lá pegue um ônibus para Congonhas.

Se você chegar cedo em Congonhas nem terá que passar a noite lá. Conheça o centro histórico da cidade e no fim do dia siga para São João del-Rei. A empresa de ônibus que faz esse trecho é a Viação Sandra. São João del-Rei está colada com Tiradentes. Eu passaria duas ou três noites na região, usando Tiradentes como base, mas aproveitando para também conhecer as atrações de São João.

Na hora de voltar para BH, quem estiver de carro pode fazer um desvio cerca de 30 km antes de BH, na entrada do Retiro do Chalé. Além da vista da Serra da Moeda, esse é um caminho alternativo para Inhotim, que fica em Brumadinho. Quem estiver de ônibus pode voltar para a capital mineira e pegar o transporte para o centro de arte ao ar livre a partir da rodoviária.

Sobrou tempo? Santana dos Montes, Sabará e a Serra do Cipó são outros destinos muito interessantes perto de BH. E sempre dá para esticar viagem até Diamantina, Capitólio ou o Caraça. Basta se planejar e escolher qual destino parece mais com você.

Praias do nordeste: Rota das Emoções

Jericoacoara, no Ceará

Existem dezenas de possibilidades de roteiros entre as cidades e praias do nordeste brasileiro – e nenhum destino precisa ser visitado isoladamente. Maceió e Aracaju, por exemplo, estão separadas por apenas 278 km. E com um monte de praias legais no meio do caminho.

Já a distância entre Recife e João Pessoa é ainda menor: 119 km. Escrevi um texto apenas sobre os roteiros de viagens pelo nordeste. Neste artigo, vou focar em um. E que passa por três estados e tem até nome – a Rota das Emoções.

Para realizar esse roteiro, a melhor saída, se você já não estiver no nordeste, é comprar uma passagem aérea de múltiplos destinos, com chegada em Fortaleza, no Ceará, e volta por São Luís, no Maranhão (ou o contrário).

Depois de passar dois ou três dias em Fortaleza e arredores, siga para Jericoacoara. É possível  ir de 4 x 4 (cerca de R$ 150) ou combinando ônibus e jardineira (em torno de R$ 65). Se optar pela segunda opção, a empresa que faz o trajeto é a Fretcar. Passe três ou quatro dias em Jeri e aproveite para balançar nas redes da região, conhecer as lagoas e a praia que fizeram a fama dessa vila do Ceará. De Jeri é fácil seguir para outro destino incrível: o Delta do Paranaíba, no Piauí. Esse percurso, feito por agências, custa caro, mas dá para ir por conta própria.  Basta ir até Camocim, numa viagem que dura cerca de 2h, em veículos 4 x 4. De lá é possível pegar outro ônibus até o Delta. A empresa Expresso Guanabara faz o trajeto.

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Passe alguns dias no Delta e siga para o próximo estado do roteiro – e o ponto alto da viagem, já que próxima parada será nos Lençóis Maranhenses. Siga primeiro para Paulino Neves, viagem de 3h30 feita pela Viação Coimbra. De lá, pegue um 4 x 4 para Barreirinhas, o que vai exigir mais 2h30 de estrada. Cada trecho sai por cerca de R$ 25. Barreirinhas é a base para conhecer os Lençóis Maranhenses. Eu ficaria pelo menos cinco dias lá, sem medo de errar.

De Barreirinhas pegue um ônibus para São Luís. A CN Turismo e a Viação Cisne Branco fazem essa viagem, que custa entre R$ 30 e R$ 60 e dura entre 4 e 6 horas.  

Rota Rio Grande

Caxias do Sul, inverno, no Rio Grande do Sul

Até o ano passado eu não conhecia o Rio Grande do Sul. Depois da primeira visita, viciei. E cá estou novamente, escrevendo este texto enquanto tomo um chimarrão e escuto um dos melhores sotaques do Brasil.

As passagens para Porto Alegre, a partir de Belo Horizonte, estão entre as mais baratas que eu consigo encontrar. E além de adorar a capital gaúcha – vai ver é porque POA me lembra, em vários sentidos, de BH – a partir dela eu visitei lugares incríveis.

Depois de aproveitar tudo que POA tem de melhor, siga para Gramado e Canela, cidades irmãs separadas por oito quilômetros de avenida – e uma avenida cheia de atrações. POA está a 130 km de Gramado, trecho que é operado pela Viação Citral, com tarifas entre R$ 30 e R$ 45.

Quem vai de carro aproveita para conhecer outros destinos da chamada Rota Romântica, que tem cidades fundadas por imigrantes que vieram, principalmente, da Alemanha. São cidades como Morro Reuter, Dois Irmãos e Nova Petrópolis, lugares que valem ao menos a parada para um café.

Depois de passar alguns dias em Gramado e Canela, siga para a parte italiana da Serra Gaúcha. 110 quilômetros, via RS 235, separam Gramado e Bento Gonçalves, cidade base para conhecer o Vale dos Vinhedos. Agências oferecem o passeio, no esquema de bate-volta, mas o melhor é passar alguns dias em Bento. De ônibus, a Viação Citral leva para Caxias do Sul. De lá é possível pegar outro ônibus para Bento, que já estará pertinho.

Vinhos, comida fantástica e cenários lindos, como o dos Caminhos de Pedra, são alguns dos destaques dessa região, pra mim a mais legal do Rio Grande do Sul.

Outra opção é conhecer os cânions do Parque Nacional Aparados da Serra, em Cambará do Sul. A melhor forma de chegar lá é a partir de Gramado. São 124 km, pelas rodovias RS 020 e RS 235. E sempre dá para combinar esses destinos com outros do estado e da região sul do país. Nesse texto eu escrevi sobre roteiros de viagem envolvendo Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Amazônia

A Ilha de Marajó, no Pará

A Amazônia é mais acessível do que muito brasileiro pensa. Além de Manaus, que já ganhou fama internacional por servir de porta de entrada para a floresta, Belém, no Pará, é uma ótima alternativa para mochilar pelos rios amazônicos. E é fácil combinar Belém com Alter do Chão, Ilha do Marajó e destinos do Pará que ainda são pouco conhecidos no restante do país, como Algodoal.  

Depois de passar três dias em Belém, aproveitando também para conhecer os arredores da cidade, como os restaurantes da Ilha do Combu e as praias fluviais da Ilha do Mosqueiro, pegue um barco e prepare-se pata navegar pelos rios amazônicos. Seu destino? A Ilha do Marajó, um lugar interessante e relativamente barato para conhecer.

Embora a Ilha do Marajó seja enorme, os viajantes que se aventuram por lá têm destino certo: Soure, uma espécie de capital turística da ilha. No fim do ano passado começou a operar o Catamarã Tapajós, que faz o percurso até o Marajó em duas horas e custa R$ 48. Já os barcos mais lentos levam 3 horas na travessia e custam entre R$ 20 e R$ 40, dependendo da classe. Fique ao menos três dias no Marajó.

De volta a Belém, aproveite a cidade para seguir para Santarém. É lá que fica uma das praias mais desejadas do Brasil atualmente:  Alter do Chão. Você pode ir até lá de avião, num voo de 1h30 a partir da capital do estado, ou de barco – você gastará um dia de viagem a partir de Manaus e um pouco mais a partir de Belém. Eu ainda não fiz esse trecho, mas tá aí meu mochilão dos sonhos no momento. Quero percorrer a Amazônia de barco. Quem sabe um dia.

Junte roteiros

Pantanal, no Mato Grosso

Cada viagem tem suas dificuldades, claro. Meu objetivo aqui foi mais mostrar que é possível montar roteiros interessantes pelo nosso país, passando por vários lugares. Dá para fazer o mesmo no Centro-Oeste (Chapada dos Veadeiros ou Guimarães). Dá para combinar Bonito com o Pantanal; Espírito Santo com Bahia e São Paulo com Rio de Janeiro.

Não faltam destinos interessantes perto da gente. Algumas horas de estrada te separam de um destino que viajantes do mundo inteiro gostariam de conhecer. Uma vez lá, basta seguir em frente para achar outro lugar inesquecível. E assim, aos poucos, deixando a estrada te levar, o destino mais distante se aproxima um pouco.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.