As atividades físicas envolvem mais do que um simples movimentar de ossos e músculos ou um aumento do fluxo sanguíneo pelo sistema circulatório. Quando movimentamos nossos corpos, uma sensação única surge das fontes internas e externas, elevando nossas emoções, pensamentos e outros estados internos. Tais sensações associadas às nossas interpretações dos seus significados constituem a experiência subjetiva da atividade física.

Essas experiências subjetivas são importantes, não somente pelo papel significativo na determinação das nossas preferências de atividades, mas também pelo fato de constituírem a razão primária para se engajar e aprender sobre nós mesmos nos ambientes de exercícios físicos.

No que se refere à escolha de qual prática pode ser mais interessante, é impossível não fazer pequenas deduções de qual perfil pessoal se adequaria à determinada modalidade. O principal desafio à obtenção de resultados é, além de promover a adoção de programas de exercícios, estabelecer estratégias para que essas pessoas permaneçam nos programas e se beneficiem dos resultados.

Uma dessas estratégias é a escolha coerente dos exercícios físicos.

Com todas as delícias sedentárias e palatáveis que enfrentamos, manter um estilo de vida saudável pode ser bem penoso caso a modalidade que escolhemos não tenha absolutamente nada em comum com nossas vontades, nosso tempo e com o valor que podemos investir. Quando algo não dá certo e essas desistências se acumulam, dispendiosas física e financeiramente, a desmotivação é certeira, fazem nos sentir inaptos e assumir que não somos pessoas pró-atividades físicas.

Obviamente, as experiências que tivemos e o nosso desenvolvimento motor influenciam nossas autopercepções físicas a determinados exercícios, mas mesmo adultos, inaptos, sedentários e cheios de manias podemos nos identificar com alguma modalidade ou, ao menos, excluir as que temos certeza que preferiríamos bater a cabeça na quina a fazer meia hora daquilo.

Dentre todas as modalidades possíveis e vigentes, resolvi escolher as que encontramos facilmente na atualidade, seja em clubes, academias, ou espaços públicos. Para nossa sorte, as tendências fitness mudam constantemente, ou ainda estaríamos nas aulinhas de Axé. De doer.

Musculação

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A cada repetição, tenho vontade de gritar a todos que a felicidade existe e está além daquelas paredes. Me pergunto com curiosidade científica sobre quem é o indivíduo que tem genuíno prazer com a musculação. Aparentemente muitos, transbordantes, viciados. Aplausos sinceros.

A musculação é certeira, segura, eficaz, quase matemática. Equivale à confeitaria da Gastronomia, onde o peso, volume e intensidade são prescritos em medidas precisas de acordo com os objetivos individuais.

E a cereja do bolo: ela está sempre pronta para você, todos os dias e horários da semana.

As pessoas que escolhem a musculação geralmente querem liberdade de horário, resultados pré-estabelecidos (perder peso, definição muscular, resistência muscular, hipertrofia etc), e solitude. Ela está feliz com a sua companhia, com seus exercícios, com sua música, com seu corpo em movimento no espelho. Se limite, por favor, a um cumprimento breve a uma pessoa que está de fone de ouvido numa sala de musculação.

Uma referência: Ryan Gosling.

Exercícios Funcionais/Pilates

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A grande liberdade dos funcionais se deve às inúmeras possibilidades de espaços. Em casa, em academias especializadas, em parques, em frente ao mar. Característicos de pessoas que não morrem de amores por ambientes fechados e monotonia. Cada dia é um treino e um desafio diferente. A chave é o aprimoramento da capacidade funcional (força, velocidade, equilíbrio, coordenação, flexibilidade, resistência) por meio de aparatos simples como cordas, plataforma deslizante, Bosu, TRX, elásticos, bola suíça e bolas medicinais.

As pessoas que não têm muito tempo, que viajam com frequência, ou que simplesmente querem o conforto de seu lar, sacada, varanda, quintal, se identificam com a modalidade. No entanto para se fazer sozinho, é necessário uma tremenda motivação intrínseca e não tem professor nem u-hu, a-ha suficientes que nos ensinem isso, só depende de você.

Para evitar possíveis lesões, é interessante contratar um profissional ou uma academia especializada por um tempo para se aperfeiçoar e entender toda a lógica e aprendizado dos funcionais.

Uma referência: Gabriel Medina, surfista brasileiro que está prestes a se tornar campeão mundial de surfe.

CrossFit

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A preparação física CrossFit é o principal programa de treino de força e condicionamento físico usado em muitas academias de polícia, grupos de operações táticas, unidades de operações especiais do exército americano e atletas de elite.

Pode parecer masoquista, mas a pessoa que se encaixa nessa modalidade tem como objetivo final “sobreviver” a um treino de exercícios funcionais de altíssimas intensidades.

Se a musculação se equivale à confeitaria, isso aqui é o açougue, o destrinchar de ossos.

Não dá para se preocupar com a unha, com a camiseta que vai sujar ou se magoar com um grito. É pauleira, é loucura, é descobrir seu limite. Numa sessão, todos realizam o mesmo tipo de treinamento, mas com as devidas adaptações de carga e intensidade. É simplesmente delicioso e seguro.

Uma referência: Channing Tatum

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Tênis

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O que vejo todos os dias em quadras, e diferentemente de outros esportes, são pessoas das mais diferentes idades começando do zero com suas raquetes e em poucos meses estarem aptas e com os olhos brilhando de paixão. É um esporte que não depende de muitas pessoas para se jogar, e geralmente seu local de prática é bem bonito e agradável, o que por si só já é bastante estimulante.

Sou suspeita ao tentar definir um perfil específico de praticante, pois vejo de fato pessoas com as mais diversas características jogarem tênis. A competição é um adicional à atividade física para torná-la alegre e nos estimular a níveis maiores de performance, afinal não podemos negar, somos intrinsecamente fascinados em ajustar nossos talentos com os de outros.

A prática somada ao sol, à sujeira saudável do saibro, ao altíssimo gasto calórico e ao fato de poder dar literalmente uma raquetada em alguma coisa é demasiado terapêutico e transgressor, o típico esporte que podemos envelhecer fazendo.

Já foi sim uma modalidade destinada a uma minoria, hoje não, temos quadras em diversos lugares, com preços de aulas e materiais bem acessíveis e próximos dos valores que pagaríamos em academias.

Uma referência: Ronaldo.

Esportes Coletivos

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Esse é o setor de bebidas. Os que se encaixam nesse perfil gostam de convivência, espírito de equipe, colaboração e principalmente aquela sensação de pertencimento e entusiasmo coletivo que nos acomete antes e depois dos jogos.

Mais novos, como nosso maior objetivo era ser feliz, facilmente reuníamos 10 adolescentes animadíssimos e sedentos por uma bola por horas seguidas. Hoje, tristemente constato que se já é muito difícil reunir 4 amigos, imagine um time de vôlei ou de basquete.

Têm felizardos que conseguem se reunir para jogar futsal, futebol, regados à cerveja e churrasco, digno, válido, no entanto, como geralmente esses encontros são realizados uma vez na semana ao máximo e gastronomicamente fartos, se descaracterizam como sendo um exercício físico contínuo e “válido” ao bom condicionamento físico.

Aos que escolhem essas modalidades, seria interessante, se possível, praticá-las ao menos 3 vezes na semana e com o menor nível etílico possível.

Uma referência: Romário.

Esportes Individuais: Corridas/Natação/Ciclismo

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Uma pessoa que coloca um tênis e sai para correr ou pedalar, ou mergulha numa piscina ou mar desenfreadamente, a qualquer horário e clima me mata de inveja. Por experiência, não penso que é apenas uma questão de começar, é questão de ter o perfil.

Afinal, posso correr algumas semanas, mas manter essas atividades numa rotina constante e feliz é para poucos e bons, para os muito interessantes que passam aquele tempo todo com seus pensamentos, através de seus corações, pulmões e psicológicos invejavelmente sadios e não surtam.

Morro de inveja de vocês.

Essas modalidades individuais geralmente são pouco dispendiosas e requerem uma aprendizagem motora fácil, no entanto seu preparo físico requer treinamentos praticamente diários; é a alternativa perfeita para quem quer autonomia e liberdade, e perda rápida de gordura corporal.

Uma referência: Edward Norton, que belamente se tornou maratonista para arrecadar fundos a uma organização que se dedica a conservar os ecossistemas e a biodiversidade no leste da África.

Independente da modalidade escolhida, bem como as inúmeras aqui não citadas, para se ter o tão sonhado prazer pela prática e o aprimoramento da aptidão física é necessário continuidade e progressão.

Um dos princípios mais importantes do treinamento dessas modalidades é o da adaptação. Se um sistema corporal é solicitado por um estímulo (treinamento), sua capacidade se expande. Para conseguir uma mudança positiva, a capacidade do sistema corporal deve ser desafiada até além de um mínimo denominador limiar de treinamento.

Se ultrapassar esse limiar, passa a constituir uma sobrecarga e ocorre habitualmente o processo de uma mudança fisiológica positiva (aprimoramento da aptidão física + adaptação hormonal = autopercepcções físicas positivas).

À medida que a capacidade do organismo se expande, o estímulo do treinamento inicial pode ser denominado sublimiar e a carga de trabalho deve ser aumentada (com progressão) para manter a sobrecarga (aumento de peso, repetições, séries, velocidade de execução, diminuição de tempos e marcas, nos exercícios).

Ou seja, treinar três, e somente três, meses não são suficientes para grandes mudanças. E quando paramos antes de notar resultados significativos nesse contexto que investimos enfaticamente, a sensação de fracasso é terrível e essas retomadas são sempre dolorosas fisicamente e frustrantes psicologicamente.

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Pagar o plano anual da academia e encher a geladeira de frutas coloridas é fácil. A labuta, a mochila preparada para o fim do dia, seu exame de Colesterol HDL (o bom) bombando na casa dos 70, é a parte difícil. Peço apenas um pouco de resistência e paciência para chegar à deliciosa sensação de quando os hormônios se alinham e fazem o que têm que ser feito.

Boa sorte na escolha e bons treinos!

Débora Navarro Rocha

Educadora Física, mestre em Exercício Físico e Saúde para Populações Especiais. Atualmente é Docente do Instituto Federal do Paraná.