Imagine criar um coquetel utilizando uma marca que tem 230 anos de tradição. Some a essa responsa o desafio de desenvolver uma receita que tem como ingredientes uva verde e goiaba que, pra minha sorte, estão juntas num líquido com textura altamente borbulhante. O que você vai ler daqui para adiante é todo meu processo de criação de um coquetel.

O conceito

O Grape Fusion mistura uvas verdes com goiaba. Uma mistura um tanto inusitada, ainda mais se levarmos em conta a textura “carnosa” da goiaba. O resultado é uma bebida levemente frutada, com borbulha abundante, pouco doce, com sabor suave das duas frutas em questão conversando muito bem. Mas isso por si só não me aponta nenhum caminho criativo.

Para avançar no desenvolvimento, fui pesquisar na história a busca de algum insight. Ele veio quando percebi que a marca foi responsável pela existência de um clássico indiscutível da coquetelaria e que voltou com força à moda devido ao renascimento do gin: o Gin&Tônica, que você já aprendeu a fazer por aqui.

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Entendi por onde deveria seguir. A marca tem grandes ligações com a Inglaterra e, consequentemente, com a Índia. Isso meu deu grandes ideias, pois abriu meu leque de possibilidades evitando mais frutas e licores, mas abrindo todo um novo mundo quando refletimos sobre a possibilidade de combinações de sabores possíveis com especiarias.

Nesse momento, estava criado o conceito: um coquetel que combinasse com especiarias indianas., uma vez que percebi pontos marcantes fortemente ligados ao período colonialista britânico, quando a Índia foi “colonizada” pelo exército imperial britânico. Foi nessa época que foi desenvolvida a água tônica de quinino, agente anti-malariante, na tentativa de auxiliar na imunidade dos soldados ingleses que sofriam de todo tipo de mal em território indiano por conta das diferenças climáticas, de alimentação e, principalmente, de higiene. Uma das mais antigas do mundo, a água tônica me deu o caminho para criar um coquetel para outro sabor.

Genial!

Como nasce um cocktail

Uva verde, goiaba, borbulhas e, agora, especiarias. O caminho é esse, mas em que copo? Qual destilado usar? Precisarei de algum tipo de licor ou combinações de? Batido ou mexido? Em que copo? Qual a textura e aroma do conjunto? E quanto ao retrogosto? Qual copo usar?

Essa é apenas uma pequena amostra da quantidade de questionamentos que passou pela minha cabeça quando tinha, diante de mim, um papel escrito “uva verde, goiaba, borbulhas, limão siciliano (o cítrico já se mostrava necessário para balancear as duas frutas da bebida original) e especiarias.

Seguindo a forma mais clássica de um coquetel, optei por me ater a desenvolver melhor essa equação com poucos ingredientes a ter mais elementos na equação.

Obs histórica: a primeira vez que se usou essa expressão — coquetel (ou cocktail) — foi para designar uma mistura de um spirit (destilado) com água, açúcar e bitters. Todo o vasto resto de combinações que conhecemos são variações dessa fórmula primitiva, descrita pela primeira vez em um jornal em 1806 e que, hoje, chamamos de Old Fashioned (À Moda Antiga).

A forma mais acessível de fazer isso para que todos vocês, amigos leitores, pudessem reproduzi-la, seria usar vodka como destilado, uma vez que esse spirit é neutro (como uma tela em branco), nos possibilitando pintá-la a nosso bel prazer. Assim é mais fácil de fazer com que o coquetel seja entendido, aceito e reproduzido. Afinal, o que todos nós queremos é beber bem, mas sem deixar a diversão de lado.

À moda antiga
À moda antiga

Para manter a forma clássica aqui, já tinha água (saborizada e gaseificada) e um destilado (vodka). Mas ainda faltava casar as especiarias com açúcar ou bitters. O processo de produção de bitters envolve muito tempo, ingredientes nada fáceis de encontrar e um estudo muito profundo sobre o efeito de cada um no sabor final. A melhor forma de explorar as especiarias foi criando um xarope, assim o açúcar entraria com louvor na equação final.

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Como a receita original do Old Fashioned era de um tempo que mal existia gelo, resolvi fazer um long drink de forma a poder explorar mais a textura das borbulhas, o que me fez ir para um formato mais parecido com um Collins, cuja receita original já é de um spirit, um adoçante, suco cítrico e água gaseificada.

Receita do xarope de especiarias do Dr. Drinks

Sempre curti coquetéis que proporcionam sensações complexas. O uso de especiarias causa isso de forma muito natural, uma vez que vão de um simples aroma à ardência incandescente com dois ou três tipos de ervas ou raízes. Depois de duas viagens à Índia, aprendi um pouco sobre o uso dos mais variados tipos de “temperos” em coquetéis. Por isso esse xarope tem o melhor do que aprendi.

Você vai precisar de:

  • 5g de gengibre (8 fatias finas aprox.);
  • 3 sementes de cardamomo;
  • 4 cravos;
  • 4 pimentas pretas inteiras;
  • 1 pauzinho de canela;
  • 4 anises-estrelados;
  • 50g de açúcar (o que você quiser usar);
  • 100mL de água.

Modo de preparo:

Numa panela em fogo médio, ponha a água e as especiarias, deixe em infusão até levantar fervura. Deixe ferver por 2 minutos.

Desligue o fogo e coe o “chá”. Leve a panela (limpa!) novamente ao fogo médio, adicione o açúcar e o chá de especiarias.

Mexa de vez em quando e deixe a mistura no fogo até que torne-se homogênea. Não é necessário ferver. Deixe esfriar, guarde em um recipiente com tampa na geladeira por até uma semana.

Agora que você já aprendeu um dos ingredientes-chave desse coquetel, vamos à receita propriamente dita.

Dr. Drinks ensina a fazer o Asian Breath

Um hindu devoto ora depois de um mergulho sagrado no Sangam, na confluência de três rios sagrados - o Ganges, o Yamuna e Saraswati mítico - durante o festival Kumbh Mela em Allahabad, na Índia
Um hindu devoto ora depois de um mergulho sagrado no Sangam, na confluência de três rios sagrados – o Ganges, o Yamuna e Saraswati mítico – durante o festival Kumbh Mela em Allahabad, na Índia

Muitos de vocês devem estar se perguntando de onde saiu o nome desse coquetel. A resposta está justamente no ingrediente-chave de onde se desenvolveu todo conceito: as especiarias. Assim, a bebida ganhar um ar asiático, ou, no bom inglês britânico onde a marca se desenvolveu, an Asian Breath.

Você vai precisar de:

  • 2 oz (60mL) de vodka (nesse caso utilizamos Stolichnaya por seu caráter neutro e textura);
  • ⅔ oz (20mL) do xarope de especiarias;
  • Schweppes Grape Fusion, para o top;
  • Suco de meio limão siciliano;
  • Bitters de grapefruit (opcional);
  • Gelo;
  • Coqueteleira;
  • Strainer;
  • Copo Longo;
  • Espremedor de limão;
  • Faca;
  • Descascador de frutas;
  • Cerejas ao maraschino para decorar;
  • Zest (casca) de limão siciliano;

Modo de preparo:

Na coqueteleira cheia de gelo, adicione nessa ordem: o xarope, a vodka, o suco de limão e o bitter (caso esteja usando-o). Bata bem, sirva em um copo longo (Long Drink, Highball ou Hurricane) com bastante gelo até ⅔ do copo.

Complete-o com a bebida gaseificada servindo vagarosamente para evitar que o coquetel espume por conta do xarope.

Decore com uma cereja ao maraschino e um zest de limão, que deve ser passado nas bordas do copo antes.

Sem falsa modéstia, esse coquetel ficou sensacional. Para testar a receita antes de gravar o vídeo, fiz uma pequena “gig” de umas 15 pessoas e a média foi 2 coquetéis por pessoa. Precisa falar mais alguma coisa sobre o sucesso que ele fez?

Espero sinceramente que vocês o façam também, qualquer dúvida usem os comentários para saná-las. Bebam com responsabilidade e não dirijam depois de beber!!!

Um beijo e até o Dia Mundial do Rock, quando teremos uma surpresa inusitada para comemorar os 4 anos de Dr. Drinks!!!

Junior WM

Um grande apreciador de história e histórias. Vive a vida de forma que seja lembrada como honrada e humana. Ama os prazeres da vida e sua família. Escreve sobre passar pelo mundo com dignidade e alegria. Contribui com a revolução digital por acreditar em seu caráter humanitário e num mundo melhor.