Certo motorista tinha acabado de comprar um carro seminovo – e estava feliz da vida com isso. A lataria do veículo estava em bom estado e não havia sinais de acidentes graves. Mas quando esse cliente parou o carro na minha oficina, perguntamos se havia revisões recentes feitas pelo ex-dono. Ele não soube informar. Aliás, sequer sabia algo sobre o estado dos pneus.
Por isso, educadamente recomendamos uma revisão geral, com troca de correias, velas e cabos, filtros, além de um rastreamento da injeção eletrônica. O cliente, também educadamente, contestou a necessidade da revisão e disse acreditar nos elogios feitos pelo vendedor da agência. Isso não significava que algo de grave necessariamente iria acontecer. Mas qualquer avó já repassou aquele conselho: paciência e caldo galinha não fazem mal a ninguém.
Duas semanas depois recebemos um pedido de socorro. Era esse mesmo carro, que parou “do nada”, como disse o motorista. Imediatamente fizemos o diagnóstico e o veículo teve que ser rebocado. Resultado? Correia dentada partida, perda de sincronização do ponto e empeno de todas as válvulas que ficam dentro do motor. O motor precisaria de uma retífica. O que antes custaria cerca de 200 reais custou para o dono mais de 1000, fora o período que o carro ficou parado.
Me chamo Fernando Ivanenko, trabalho com mecânica automotiva e sim, tenho uma oficina em Belo Horizonte, minha cidade natal. Mas não é por causa da oficina que resolvi fazer esse texto para o PapodeHomem. É que, além de trabalhar em uma oficina mecânica, tenho outra paixão: escrever.
Foi para isso que criei o blog Mãos ao Auto, onde dou dicas diversas e tento compartilhar um pouco do meu conhecimento com outros motoristas, novatos ou não. Por exemplo, dicas de como escolher bem um carro seminovo, começando do básico. Dicas que poderiam ter sido úteis para aquele motorista, como as que seguem abaixo.
Vai comprar em uma loja? Procure por boas referências
Não é assim com tudo que fazemos no dia a dia? Não é melhor saber se o que compramos, comemos ou vestimos tem boas referências?
Não é diferente no caso da compra de um carro. Normalmente essas referências são repassadas por amigos ou parentes que compraram um carro usado recentemente.
Então, busque sempre por uma loja indicada por alguém que você confia.
Jamais adiante dinheiro
É direito seu, além de obrigação para uma boa compra, vistoriar o máximo possível o carro que te agradou.
Portanto, esta deve ser a primeira atitude de quem vai comprar um carro: vistoriar, sem dinheiro envolvido. Mostre seu dinheiro somente quando for pagar, com tudo já decidido.
A escolha do modelo
Preocupe-se com a modernidade, mas isso não significa que seu futuro automóvel tenha que ter a mais nova tecnologia.
Modelos que deram certo no mercado e que são fabricados há anos do mesmo jeito também podem ser boas opções. Pesquise sobre isso.
A escolha da cor é opção pessoal. Se você se preocupa com uma revenda futura mais valorizada, escolha uma cor que valorize o carro, como os modelos de cor cinza e prata. Carros da cor branca estão na moda, mas durante muito tempo tiveram o valor de revenda menor, por ser a mesma cor usada em táxis (assim como o amarelo) em muitos estados. Como táxis são veículos que rodam muito, isso pode causar uma queda do valor do veículo.
Mas, apesar disso, não receie escolher uma cor que te faça sentir bem, que reflita sua personalidade.
De forma geral, evite comprar carros fora de linha, aqueles que não são mais fabricados. E pesquise se determinado modelo vai sair de linha em breve. Isso porque a fábrica não está obrigada a continuar produzir peças para veículos fora de linha, o que pode encarecer a manutenção. A regra não vale, claro, para quem é apaixonado por carros assim, como o tão querido fusquinha.
Qual a sua necessidade?
Sua família é grande? Será um carro para transportar crianças, ou só para você?
Se assim for, faça uma pequena lista de quais modelos atendem melhor sua família.
Escolha o que oferece segurança e conforto, principalmente se houver planos de viagens com o veículo – quando for pegar a estrada, segurança vem em primeiro lugar. Itens como ar-condicionado e direção hidráulica são sempre bem-vindos. Inclusive, o preço desses veículos pode ser uma boa surpresa, principalmente na relação custo/conforto.
Tenha em mente fazer um bom negócio
Respire fundo e tente diminuir a empolgação. Seja equilibrado e vá preparado para os seus receios. Lembre-se que você é o cliente e que o vendedor precisa vender seu produto, ou seja, você estará no controle, será um pacote de dinheiro na frente do vendedor.
Tenha calma e não seja apressado.
Vistorias que você pode fazer
Fique de olho na quilometragem. Muitas vezes o carro que te agradou pela cor, conforto e modelo, pode estar muito rodado. Verifique a quilometragem no painel e saiba que, quanto mais quilômetros estiver marcando, mais o carro foi usado. Nesses casos, a vistoria deve ser mais atenta.
Verifique o estado dos pneus (até do estepe). Perceba se estão com frisos novos e desconfie de pneus brilhantes. Você também consegue saber se a bateria está em bom estado verificando se ela tem o selo do Inmetro na parte de cima. Ele é branco e bem visível. Com este selo na bateria, ela muito provavelmente será um produto novo e de qualidade.
Observar a marca também é de ajuda.
Leve um bom mecânico
Escolhido o carro, depois de uma vistoria inicial sua, leve um mecânico. Se não for possível, vá com amigo que entenda de carros. O importante é não ir sozinho. É um direito seu.
Peça ao seu mecânico que dê opinião sobre a lataria, barulho do motor, suspensão, e, sobretudo, que seja sincero. Afinal, ele está preparado para ver defeitos que você não verá.
Mas tenha consciência que nada é perfeito. Use eventuais problemas como poder de barganha.
Experimente o carro
Peça para que seu mecânico também dirija o carro. E enquanto ele faz isso, sinta o carro, tanto como companheiro do motorista ou sentado atrás. Peça para ligar o rádio, ar-condicionado e tudo que está instalado para dar conforto aos passageiros.
As lojas sérias, que prezam a qualidade do que vendem, sempre permitem que o comprador dê uma volta no carro. Normalmente um vendedor vai de companhia. Ao terminar seu teste e vistoria do carro, não comente perto de alguém da loja.
Converse em particular com seu mecânico de confiança.
Não feche negócio de noite ou com chuva
Essa dica vale principalmente se for uma compra direta com o proprietário, sem a intermediação de uma loja. Alguns compradores já foram enganados pela escuridão e chuva, percebendo defeitos dias depois.
Por outro lado, uma negociação direto com o dono permite discutir um preço menor do que o de uma loja, pois essas quase sempre vendem automóveis consignados e, portanto, mais caros.
Investigue a origem do carro
Essa é a parte mais burocrática, mas que vai te dar grandes informações sobre o histórico do carro.
Peça para ver o documento do carro e pesquise na Internet. Alguns sites podem informar quantos donos o carro já teve, se foi táxi, se é um carro sinistrado, entre outras pendências como multas e impostos atrasados.
Peça descontos e garantias extras
Normalmente a garantia é de motor e caixa.
Mas use o poder da compra, o medo que todo vendedor tem do comprador desistir do negócio. Sempre ofereça menos do que estão pedindo e peça garantia por escrito da bateria, pneus ou itens como amortecedores e freios. Não tenha receio de parecer um cliente chato. Feito o negócio, faça uma revisão de itens ocultos, coisas importantes, mas que são impossíveis de verificar fora de uma oficina.
E aí? Deu pra ter uma ideia mais geral? Tem alguma dica pessoal que possa ajudar a conversa aqui ou dúvida que possa levantar o papo nos comentários? É só descer e escrever aqui embaixo.
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