Já se foi o tempo em que viajar era algo complicado, uma aventura que uma pessoa normal, seja lá o que esse termo queira dizer, só encararia com ajuda de uma agência de viagens. Qualquer um, não importa a idade, pode cair na estrada. E pode fazer isso por conta própria, sozinho e organizando a viagem da sala de casa. Basta usar a Internet.
Já escrevi vários textos sobre viagens aqui no PapodeHomem. A partir de hoje, a ideia é mais, digamos, audaciosa: um guia para tornar essa viagem possível, seja sua aventura um fim de semana em Buenos Aires ou uma viagem pela transiberiana.
A intenção é responder dúvidas e dar dicas, passo a passo, das mais básicas até as nem tão básicas assim. Para começo de conversa, é hora de falar de um das partes mais chatas de qualquer viagem: a burocracia.
Sim, a danada da burocracia adora atrasar (e encarecer) viagens, do mesmo jeito que ela faz com nosso dia a dia. No entanto, uma boa notícia para quem sonha em viajar mais pelo Brasil – essa é a viagem menos burocrática que você pode fazer. Faça as malas, defina seu meio de transporte vá. Pronto, sem complicação.
Agora, falou em atravessar fronteiras e a coisa complica um pouco. É preciso pensar em passaporte, vistos, seguro, carta-convite e mais uma infinidade de coisas, dependendo do tipo de viagem que você vai fazer.
De novo, destaco que vou começar do básico. Viajantes experientes, tenham paciência, beleza?
Passo 1: Passaporte
O passaporte é o documento em que o governo brasileiro apresenta você à autoridade estrangeira, pedindo que ela permita sua entrada no país e “preste ao titular auxílio e assistência em caso de necessidade”. Você sempre precisará do passaporte para viajar ao exterior, exceto em nove países, todos da América do Sul.
O passaporte é emitido pela Polícia Federal e vale por cinco anos. No ano passado, um decreto do Governo Federal ampliou a validade para 10 anos.
Você não precisa estar com a viagem marcada e nem ter as passagens para fazer seu passaporte. Basta entrar no site da Polícia Federal, preencher os seus dados, emitir e pagar a taxa, que mudou de R$ 157,05 para R$ 257,25, um aumento de 64,8% (com o dobro de tempo de validade). Depois, você volta ao site da PF e agenda uma data e local para entregar os documentos. O prazo de espera para marcar a data costuma ser longo (eu esperei um mês), por isso agende a sua bem antes da sua viagem.
E atenção nessa parte! Fui renovar meu passaporte recentemente e fiquei impressionado com a quantidade de gente que chega no posto da PF sem os documentos necessários. Então leve com você:
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Protocolo de solicitação de passaporte;
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Comprovante de pagamento da taxa;
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Documento de Identidade válido e com foto (e em bom estado);
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CPF;
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Título de Eleitor e comprovante de votação nas últimas eleições (dois turnos, se houver), ou justificativa eleitoral, ou certidão de quitação eleitoral;
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Documento de quitação do serviço militar (para homens);
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Passaporte anterior, se houver.
Revise os documentos antes de ir. Mesmo. Muita gente esquece e a coisa não avança por conta de detalhes.
Esses são os documentos básicos, mas o processo muda dependendo das circunstâncias. Por exemplo, no caso de quem mudou o nome, por causa de casamento ou não, ou para menores de idade. Lá no 360meridianos tem um passo a passo para tirar o passaporte brasileiro, incluindo dicas de como preencher as informações no site da PF, tela por tela.
Opa! E esses países que não exigem passaporte?
São os vizinhos do Brasil, que fizeram acordos diplomáticos e dispensam a apresentação de passaporte. Você só precisa do seu RG para viajar para Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
É só o RG mesmo, nada de Carteira de Motorista. O documento precisa estar válido, em bom estado (esquece aquela carteira detonada, beleza?) e com uma foto relativamente atual, em que seja possível te reconhecer. O Itamaraty recomenda que seu RG tenha sido emitido há no máximo 10 anos.
Passo 2: visto
Alguns países curtem complicar ainda mais a sua vida, caro viajante, exigindo que você tenha também um visto, que é afixado ao seu passaporte. O caso clássico é o dos Estados Unidos, mas não o único.
Existem vários tipos de visto. O consular, caso dos Estados Unidos, é aquele visto que precisa ser tirado em uma repartição dos Estados Unidos no Brasil, antes de você viajar para lá. Como a Terra do Obama é o destino favorito dos brasileiros, deixo aqui um guia para quem desejar saber como tirar o visto americano. Spoiler importante: você não precisa ter as passagens aéreas ou estar de viagem marcada para solicitar o visto, que hoje tem boa taxa de aprovação: 96%.
Outra modalidade de visto é o de aeroporto, casos do Nepal e da Indonésia. Você não precisa tirar o visto no Brasil, apenas solicitá-lo assim que chegar ao país, ainda no aeroporto. E pagar uma taxa, óbvio.
Não quer tirar vistos? Beleza! O Brasil tem vários acordos diplomáticos que dispensam a necessidade de visto. Esse é o caso de quase toda a Europa. Você não precisa de visto para viajar a turismo pelo Velho Continente por até 90 dias. França, Inglaterra, Alemanha, Espanha… tudo mais perto de você.
Isso, claro, é para turistas. Quem vai trabalhar, estudar ou morar no exterior pode precisar tirar um visto específico.
Passo 3: vacinas obrigatórias
Há países que exigem comprovantes de vacinação. O caso mais comum é o de Febre Amarela, que pode ser exigido de você para ir ao exterior.
Por isso, não tenha dúvidas: garanta seu comprovante de vacinação internacional de uma vez. Eu mantenho o meu grudado ao passaporte, independente da viagem, e nem me preocupo se o país exige ou não a vacina.
Para garantir o seu Comprovante de Vacinação Internacional você precisará do comprovante do posto de saúde. Perdeu esse papel? Ou você toma outra vacina ou então tenta conseguir uma segunda via no posto. Com esse documento em mãos, vá até um posto da Anvisa.
Há postos da Anvisa em aeroportos, mas eu aconselho que você não deixe para resolver isso no dia da viagem – melhor garantir antes. Vai que dá algum problema e não tem atendimento justo no dia da sua viagem.
A vacina precisa ser tomada 10 dias antes da sua viagem e o comprovante tem validade de 10 anos. Há casos mais complicados, tipo quem não pode tomar a vacina por motivos médicos. Veja informações (mais) detalhadas sobre o cartão de vacinação internacional.
Passo 4: seguro de viagem
Na boa, não viaja sem seguro não. Depoimento de quem já foi salvo da quase falência por ter um seguro. Na maioria das vezes você vai contratar o serviço e não usar. Na realidade, torça por isso. O melhor é que seja um dinheiro jogado fora mesmo.
Mas e se (bate na madeira) der um problema? Pode ser uma doença, um acidente, uma mala extraviada, um roubo ou a necessidade de cancelar a viagem e voltar mais cedo para casa. Um bom seguro te salva em todos esses casos. Há um monte de opções no mercado, com as mais variadas coberturas.
Muitas delas podem ser contratadas pela internet mesmo, com dois cliques. Você informa as datas da viagem, o destino, seus dados e pronto! Comprou o seguro, recebeu os dados por e-mail e está resolvido. Você receberá um número de telefone o o número do seu seguro. Emergência? Liga no número (costumam aceitar ligações à cobrar). O problema é grande? Vai pro hospital e contata o seguro depois.
Em todo caso, sempre leia as letras miúdas antes de contratar um seguro. Aqui você acha um guia sobre seguros de viagem e dicas de como escolher a cobertura certa para você.
Tenha em mente que alguns países exigem a contratação do seguro para que você passe pela imigração. É o caso do Espaço de Schengen, nome pomposo para falar da Europa Continental, que exige que você tenha um seguro com cobertura de 30 mil euros.
Por fim, uma dica esperta pra galera econômica. Alguns países aceitam que o seguro de viagem seja o nosso INSS: Portugal, Espanha, Grécia, Itália, Uruguai, Argentina, Chile e Cabo Verde.
Todo mundo que faz a contribuição mensal para a Previdência e vai viajar para esses países pode pedir essa assistência médica gratuita. Para isso, é preciso retirar um documento chamado Certificado de Direito à Assistência Médica Durante Estadia Temporária. E aí, no país de destino, caso tenha algum problema, basta utilizar o sistema público de saúde.
Se assim você economiza uns trocados, por outro lado fica na mão para outras situações, como no caso de roubo, cancelamento emergencial da viagem ou extravio de bagagem.
Vale também conferir se seu cartão de crédito não dá algum seguro, caso as passagens sejam compradas com ele. Pode acontecer.
Passo 5: Passando pela imigração
Ela é mais temida que deveria, mas com motivo: imagina o desespero que deve ser passar horas enlatado num avião para, ainda sonolento, receber um “não” e a ordem de voltar ao Brasil.
Para não correr riscos e, mais importante, para chegar tranquilo na imigração, esteja com tudo em ordem. Nenhum país do mundo quer negar a entrada de alguém que pretende viajar e gastar dinheiro por lá. Por outro lado, isso pode acontecer caso o oficial da imigração ache que você pretende viver e trabalhar ilegalmente por lá ou que possa representar um risco para o país.
Por isso, leve com você, em uma pastinha e na mala de mão:
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Reserva da passagem de volta;
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Reservas nos hotéis;
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Comprovantes financeiros que mostram que você tem como pagar a viagem;
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Seguro de Viagem;
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Comprovante de vacinação (se necessário).
Antes de mais nada, fique tranquilo. O mais provável é que a pessoa pegue seu passaporte, fale “oi”, olhe para a tela do computador e dê a carimbada. Foi isso que aconteceu comigo em quase toda viagem que fiz, normalmente acompanhado de coisas simpáticas, como um “bem-vindo” ou “divirta-se”.
Em poucos casos eu precisei dar detalhes. Nessas situações, é comum que te perguntem sobre o que você pretende fazer no país, quantos dias vai ficar, qual o endereço da sua hospedagem, quais lugares pretende visitar e quanto dinheiro você tem para gastar. Falar a verdade e ter um pouco de informação sobre o país evitam problemas.
Em duas situações eu precisei fornecer detalhes: na Nova Zelândia e na Espanha. É nessas horas, quando o oficial da imigração pede para ver os documentos, que você abre aquela pastinha. Se a pessoa não pedir, esqueça da pasta e espere o carimbo.
Alguns países exigem que o viajante tenha uma quantidade mínima de dinheiro para entrar. Esse é o caso dos participantes do Espaço de Schengen, na Europa, que exigem um mínimo de 60 euros diários. Você não precisa ter todo esse dinheiro em espécie, mas tenha uma quantia razoável com você.
Passo 6: Carta-convite
Não vai ficar em hotéis ou hostels? Pode ser que você precise de uma carta-convite.
A carta-convite é um documento informal que confirma que você vai visitar uma pessoa em determinado país e tem acomodação pelo período. Ou seja, ela é necessária se você vai ficar hospedado na casa de um amigo ou parente e, por isso, não tem nenhuma reserva em hotel no destino de viagem.
O ideal é que a carta seja feita na língua do país do seu anfitrião. Você não precisa registrá-la em cartórios brasileiros, mas pode ser necessário fazer isso num cartório do país que você vai visitar. Cada país tem suas próprias regras, por isso, pesquise sobre o seu caso. Alguns países não exigem esse documento. Clicando aqui você acha um modelo para fazer a carta-convite.
Passo 7: Permissão para dirigir
Na maioria das vezes a Permissão Internacional para Dirigir é como o Título de Eleitor na hora de votar: você não precisa do documento, mas ele pode te ajudar.
Mais de 100 países aceitam que turistas habilitados dirijam com suas respectivas carteiras nacionais. Mas a PID é útil. Vai que a locadora de veículos encrenca e pede a carteira internacional? Ou, pior, vai que as regras e acordos diplomáticos até permitam que você dirija só com sua CNH, mas o guardinha da esquina não faz ideia disso?
Você não precisa tirar a PID para viajar. Eu só tirei a minha no ano passado, depois de anos de viagens sem ela. Mas pode ser uma boa optar por isso caso sua viagem seja uma longa road trip. Ou, claro, caso o país realmente exija a PID.
No mais, tenha em mente que alguns países não permitem turistas ao volante, com PID ou não. Esse é o caso da Tailândia. Muitas empresas vão alugar um carro para você lá, veja bem, mas isso é ilegal e desaconselhado pelo Consulado Brasileiro no país, já que muitas vezes o ato termina na necessidade de subornar um guarda de trânsito e nunca conta com a cobertura da seguradora do veículo.
Como a PID tem a mesma validade da CNH, uma boa hora para tirar o documento é quando você renovar sua habilitação. O procedimento (e as taxas) variam de estado para estado. Em alguns lugares basta solicitar o documento pela Internet e pagar um taxa pequena, em outros é preciso levar um monte de documento ao Detran e pagar mais reais do que seria razoável. Já escrevi sobre como tirar a carteira de motorista internacional, estado por estado.
Cada país tem suas regras
Deixei neste texto dicas gerais, mas cada país pode ter suas próprias regras de imigração, direção, visto e outras coisas. Por isso, pesquise a situação do seu destino antes de embarcar.
Mas e o dinheiro para viajar? E a organização do roteiro? A hospedagem? Isso tudo será tema dos próximos textos.
Percurso “Como viajar mais, passo-a-passo”
Como viajar mais, passo-a-passo | Como organizar uma viagem responsa
Como viajar mais, passo-a-passo | É hora de falar de dinheiro
Como viajar mais, passo-a-passo | Mala ou mochilão? Como escolher e organizar sua bagagem
Como viajar mais, passo-a-passo | Dicas pra quando você já estiver na estrada
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