Não sei você, mas eu sofro toda vez que penso nos lugares que ainda gostaria de visitar, nas comidas que gostaria de provar, nas paisagens que desejo ver e nas pessoas que espero conhecer. A tecnologia diminuiu o mundo, é verdade, mas essa tal de “aldeia global” continua gigante. Quase sem fim.
Ninguém deixa esse mundo tendo visto realmente tudo – nem aquele cara que se orgulha de ter pisado em todos os países do globo. Afinal de contas, uma coisa é visitar algumas capitais de um país. Outra bem diferente é desbravar todas as maravilhas dele. Por exemplo, o Brasil. Nosso país tem segredos escondidos em cada esquina e rende um número infinito de viagens.
Essa introdução é para dizer o óbvio: não adianta, meu amigo, você não vai sair desse mundo tendo conhecido tudo que gostaria. Portanto, é preciso fazer escolhas. Nos outros textos da série sobre como viajar mais falamos sobre a parte burocrática da jornada (documentos, visto, vacinas, etc) e da parte, err, complicada da viagem – dinheiro.
Neste texto, a ideia é te ajudar com outra coisa nem tão simples assim: como organizar a viagem? Como montar seu roteiro?
Passo 1: Como escolher o destino
Numa boa, esse pode ser o passo mais complicado. Como são muitas opções, sonhos e desejos, é difícil bater o martelo na hora de escolher onde passar as férias. Se você já sonha há anos com um lugar, talvez o seu caminho comece por aí. Talvez. E se você sonha em conhecer o sudeste asiático, mas só tem férias na época das monções? Ou se você quer ir ao Japão, mas não dá conta de pagar as passagens aéreas?
Tudo isso pesa na escolha.
Eu adoto outra saída. Tenho uma lista mental de lugares que quero visitar. A partir dela, fico de olho em promoções de passagens aéreas. Quando aparece uma, escolho meu destino. Foi assim que vim parar em Belém, no Pará, onde estou neste momento, enquanto escrevo este texto. Foi assim que garanti minhas passagens para Fernando de Noronha, no mês que vem. Quando a oportunidade surge, eu escolho com base naquela listinha dos sonhos.
Eu já falei isso em outro texto, mas não custa repetir: o site para achar promoções de passagens aéreas é o Melhores Destinos. Vale baixar o app deles, que é gratuito e avisa de todas as promoções que surgem.
Se você tem uma viagem para determinado país e que precisa ser somente numa época do ano, outra opção é o site Skyscanner, que dá os dias em que as passagens estão mais baratas, informa quais cidades têm os voos mais em conta e ainda te manda alertas por e-mail caso os preços baixem. Por fim, o Google lançou recentemente uma ferramenta interessante, o Google Voos.
Mas uma palavra de cautela: se você tem certeza do destino que deseja visitar, pense duas vezes antes de topar qualquer parada em busca de um preço menor. Por exemplo, se você sonha em conhecer Nova York, pode não valer a pena pegar aquela passagem para Miami só porque o voo mais barato é para lá. É preciso pensar e se planejar com cautela – ou então o barato sai caro.
Além das promoções, a parte burocrática também pesa na escolha. Não adianta ter certeza que você quer ir aos Estados Unidos, saber a data da viagem e achar aquela promoção… mas não ter o visto. O orçamento também tem seu papel aqui, óbvio. A melhor viagem é aquela que você tem condições de organizar nesse momento de vida.
Se você ainda estiver com dúvidas e não conseguir nem montar aquela listinha dos sonhos, uma saída possível é pensar em viagens temáticas. Pergunte-se: de que você gosta? Aventura? História? Comida? Festas? Há várias viagens para cada uma dessas (e muitas outras) opções. Já escrevi um texto sobre esse assunto aqui no PdH.
Como montar o roteiro
Nem toda viagem exige a organização de um roteiro complexo. Se você vai só para uma cidade – Londres, por exemplo – não precisará pensar em deslocamentos para outros lugares, dividir o tempo entre as cidades ou coisas do tipo. Bastará pensar o que você quer fazer com seu tempo lá.
E há viagens que já vêm com o roteiro montado para você: são os pacotes comprados com agências, os cruzeiros ou aquelas viagens para relaxar. Como um resort all inclusive. Você senta na espreguiçadeira e pede uma bebida. Simples assim.
Por outro lado, há viagens que demandam a organização de um roteiro detalhado. Cada um faz o seu de acordo com os próprios gostos e preferências. Eu gosto de seguir uma regra básica: não transformarás sua viagem numa maratona.
É, eu sei, são tantos lugares que sonhamos em conhecer que fica fácil cair nessa tentação. Eu diariamente converso com viajantes que tentam encaixar Uruguai, Chile, Argentina e Peru em 20 dias de viagem. A pergunta é sempre a mesma: dá tempo?
Dá. Sempre dá. A questão é se você quer fazer uma viagem corrida ou se prefere ter tempo para conhecer as coisas, relaxar e ver tudo com calma. Eu acredito no mantra “viaje devagar”. Se estou numa grande cidade, reservo ao menos quatro, cinco ou, dependendo do caso, até uma semana para conhecê-la. A partir daí, sigo viagem.
A tentativa de colocar muita coisa no roteiro é um caso crônico da Europa, que tem várias cidades incríveis bem próximas. Antes de tentar encaixar Madrid, Roma, Paris, Londres e Amsterdam em 10 dias, lembre-se de algumas coisas:
1. Considere o tempo de deslocamento entre esses lugares. Principalmente se envolver um aeroporto, que representa um gasto de tempo bem maior que o do voo.
2. O dia que você chegar de viagem e o dia que você for embora não contam, principalmente se forem viagens intercontinentais. Acredite, não vai dar tempo para fazer muita coisa.
3. O fuso horário pode te pegar. Se isso acontecer, seus primeiros dias do outro lado do mundo terão um ritmo mais lento.
4. Não há nada mais chato numa viagem que o procedimento de fazer check-in e check-out de um hotel. Onde deixar as malas? Posso entrar no quarto na hora que chegar? Tenho que sair no meio da manhã?
Esses são alguns pontos que mostram por que um roteiro muito apertado pode não dar certo. Mas vamos para a próxima etapa: escolhi uma quantidade razoável de cidades. E agora? Como me desloco entre elas?
Antes de mais nada, abra um mapa e tente pensar num roteiro lógico. Veja as distâncias entre as cidades e a região que elas se encontram. Uma vez feito isso, é hora de pensar em como você vai se deslocar entre elas.
Viagens de avião só compensam caso o destino não seja relativamente perto. Você tem que chegar uma hora antes do voo. Além disso, aeroportos costumam ficar longe dos centros das cidades. Com isso, o tempo de voo pode ser muito menor que o tempo gasto com os procedimentos de embarque, incluindo a ida até o aeroporto. Por isso, pode não compensar pegar um avião caso seu próximo destino seja acessível por terra em menos de quatro ou cinco horas.
E não despreze o transporte por terra. Há países em que os trilhos funcionam muito bem, obrigado. Esse é o caso de quase toda a Europa Ocidental. Se você estiver com viagem marcada para o Velho Continente, leia o texto que escrevemos sobre como viajar de trem pelo países europeus. E mesmo quando o sistema ferroviário é falho, como em boa parte da América do Sul, é possível cobrir grandes distâncias por terra.
Exemplo de um roteiro simples de fazer por terra, incluindo Uruguai, Argentina e Chile. Compre uma passagem multidestinos, chegando por Montevidéu e indo embora por Santiago. Comprada a passagem, curta alguns dias na capital uruguaia (uns três, pelo menos). Vá para a rodoviária de Montevidéu e pegue um ônibus para Colonia del Sacramento.
Cerca de 2h30 de viagem e você estará lá. Aproveitou a cidade? Então siga para Buenos Aires, na Argentina. Basta pegar um dos barcos que cruzam diariamente o rio da Prata, em cerca de uma hora de viagem. Depois de passar alguns dias em Buenos Aires (uns quatro ou cinco), pegue um ônibus noturno para Córdoba, segunda maior cidade da Argentina. Um lugar cheio de bares, boates e vida noturna agitada.
Passe alguns dias lá e siga para Mendoza, também num busão noturno – e confortável. Depois de beber bons vinhos e apreciar a vista das montanhas, pegue um ônibus para o Chile. São cerca de seis horas de viagem. Pronto, você precorreu quase dois mil quilômetros. E sem notar – bastou fazer um percurso lógico. Lá no 360 eu escrevi um texto com cinco sugestões de roteiros de mochilão pela América do Sul – este é um deles. Também temos textos semelhantes para a Europa e Sudeste Asiático.
Para finalizar este tópico, saiba que existem duas palavras mágicas, principalmente na Europa: low cost. São empresas aéreas que vendem passagens por preços baixíssimos. Para viajar com elas, no entanto, é preciso estar leve, muitas vezes só com bagagem de mão de até 10kg, já que toda mala despachada é cobrada. Além disso, essas empresas podem operar em aeroportos mais afastados e em horários ingratos.
Antes de pegar aquele voo com preço inacreditável, veja se:
1. é fácil chegar ao aeroporto de transporte público, ou então o barato pode sair caro.
2. lembre-se que um voo às 6h significa que você precisará estar no aeroporto às 5h (pelo menos). E que chegará ao seu destino bem antes da hora do check-in do hotel. Esses voos da madrugada não são baratos por acaso – muitas gente prefere outras opções.
Passo 3 : como escolher onde vou ficar
Roteiro definido, agora é a hora de escolher sua hospedagem em cada cidade. Antes de decidir o tipo (se é hotel, hostel ou apartamento), duas coisas são importantes. A primeira, assim como nos casos anteriores, é o orçamento. Não adianta querer todo o conforto do mundo, mas não ter a grana para bancar isso.
Uma vez que você sabe quanto pode gastar com hospedagem (geralmente fica em torno de ⅓ do orçamento diário), o próximo passo é escolher a localização ideal. Para isso, não tem jeito, você vai ter que estudar sobre a cidade. Entender o mapa, saber o que tem por perto e quais os pontos positivos e negativos dos principais bairros.
Para isso, use e abuse do Google. Existem centenas de relatos de gente que foi, viu e voltou para contar suas impressões. No 360meridianos, nós já escrevemos sobre as melhores regiões para se hospedar em várias partes do planeta. Se você tem uma dúvida de um lugar específico, basta perguntar – se eu já visitei a cidade em questão, te indico um caminho.
Depois de escolher a região, é hora de definir qual a hospedagem. Toda reserva pode ser feita online, em sites como Booking, Hoteis.com ou Hostelbookers. Na maioria das vezes, você reserva pela internet e paga o valor total na hora que chegar no hotel.
Hostels são ótimos para quem viaja sozinho. Tanto porque neles você tem a possibilidade de conhecer outras pessoas, quanto porque fica muito mais barato. Hotéis e pousadas podem ter bons preços, principalmente se você viaja acompanhado e vai dividir a diária. Por fim, ainda é possível alugar apartamentos (e se sentir um morador local).
Essa é uma ótima solução principalmente para grupos maiores, como famílias. Eu já aluguei apartamentos em Paris e em Milão – e foram experiências fantásticas. É possível alugar apartamentos por sites como o Airbnb ou mesmo pelo Booking.
Achou uma boa opção? Leia atentamente as instruções, inclusive de cancelamento, possíveis taxas, proximidade com transporte público (de preferência uma estação de metrô) e, claro, as avaliações de quem já se hospedou por lá. Os próprios sites de reservas já costumam ter essas avaliações. Eles também organizam os estabelecimentos num ranking, de acordo com as notas dos hóspedes.
Outra opção é conferir as avaliações do TripAdvisor. Mas não pule fora só porque alguém está falando horrores de um hotel. É preciso filtrar comentários negativos. Por exemplo, é muito comum que brasileiros reclamem do café da manhã de hotéis do exterior, que não costumam ser tão fartos quanto o nosso. Além disso, tem muita gente que pega a opção mais barata possível, mas depois reclama (sem motivo) do que escolheu.
Basta usar o discernimento para evitar situações assim.
Alguma dúvida? Só perguntar.
Percurso “Como viajar mais, passo-a-passo”
Como viajar mais, passo-a-passo | Vencendo a burocracia
Como viajar mais, passo-a-passo | É hora de falar de dinheiro
Como viajar mais, passo-a-passo | Mala ou mochilão? Como escolher e organizar sua bagagem
Como viajar mais, passo-a-passo | Dicas pra quando você já estiver na estrada
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