Um elemento da composição imagética muito utilizado é o contraste, visto que é um poderoso instrumento de expressão, um meio para intensificar o significado, e, portanto, simplifica a comunicação. Ele está presente em quase todas as imagens comerciais, artísticas e publicitárias.
Tem-se como verdade que o alto contraste traz um certo requinte às imagens fotografadas, sendo um dos primeiros ajustes na pós-produção tanto na fotografia still como na fotografia cinematográfica. Para esse post, vou trabalhar com as fotografias still e, como conhecendo um pouco mais sobre os contrastes, podemos elaborar melhor uma foto.
O contraste é, na teoria cromática, uma relação entre as cores que definirá e quantificará a diferença entre elas. O contraste interfere na proporção das cores conforme a organização e a qualidade destas na composição, afetando reciprocamente todas elas. Na publicidade, o contraste cromático contribui para aumentar o grau de atenção dos anúncios coloridos. Pelo uso adequado dos tons, a mensagem escrita também pode se tornar mais sensível, mais dramática e com a capacidade de ser lida mais rapidamente quando os tons contrastam de algum modo.
Existem várias teorias sobre o contraste, como ele funciona e as “fórmulas para o sucesso”. Escolhi a teoria de Johannes Itten, um dos professores da Bauhaus, justamente para acabar com a ideia de regras “fixas”, pois sua teoria não parte de uma verdade absoluta, mas sim de um contexto visual.
Itten criou uma teoria de sete diferentes tipos de contrastes. Para ele, os contrastes ocorrem quando diferenças distintas podem ser percebidas entre dois efeitos comparados. Os efeitos cromáticos são similarmente intensificados ou enfraquecidos pelo contraste. Ou seja, não existe uma verdade absoluta como, por exemplo, “tal cor é clara e tal cor é escura”, o que existe é como aquela cor se comporta quando justaposta a outra.
Vamos aos tipos de contrastes que assim fica mais fácil de entender:
Contraste de cores puras
É o contraste entre as cores do próprio círculo cromático (cores puras como vermelho, azul, verde, magenta, amarelo, ciano…), vivas e saturadas (no Photoshop, seria aquela com 100% de saturação).
Esse contraste costuma ser bem assertivo quando o preto ou o branco estão fazendo parte da composição.
Contraste claro-escuro
É aquele que explora o uso da luminosidade e valor tonal das cores. É um dos contrastes mais explorados por fotógrafos, designers, cineastas e outros profissionais que lidam com imagem.
Existe uma escala de tons no rosto da modelo que ajudam a gerar volume, além de seu rosto “saltar para a frente” pelo contraste com o fundo escuro.
Contraste quente-frio
É o contraste entre tons quentes e tons frios. Costumam ser mais intensos quando as matizes são mais puras, pois são apoiados pelo contraste de cores puras (amarelo puro com azul puro, por exemplo).
Deve-se ressaltar que este contraste é dependente do contexto cromático, pois uma mesma cor pode exercer papel de cor quente em uma foto mas exercer o papel de cor fria em outra. Um exemplo desta dualidade é a cor roxa, que, se combinada com a cor vermelha se torna fria, mas, se combinada com a cor verde se torna quente.
Para entender melhor este contraste segue uma foto de exemplo:
Percebe-se que o tom de pele e da camisa do músico se destacam no fundo azul. Se o fundo fosse de outro tom, por exemplo um alaranjado, esta foto dependeria apenas do contraste de claro-escuro, o que não causaria tanto impacto nos observadores.
Contraste de cor complementar
Podemos dizer que a cores complementares são aquelas que, se unidas em seus matizes (estados puros), são uma combinação ou mistura agradável aos nossos olhos. É preciso ressaltar que, por termos como objetos de análises fotografias (e não peças gráficas cuja cor pode ser definida em um software), não poderemos obter, com fidelidade total, os matizes puros (como por exemplo, um vermelho sem azuis ou verdes em sua intensidade máxima).
Tendo em vista esta questão, o que se pode assimilar nas fotografias é uma proximidade destes matizes para cumprir seus objetivos ao criar uma foto harmônica a partir de cores complementares. Mesmo com esta condição, a complementaridade das cores ainda é um forte aliado na composição fotográfica.
O contraste por cores complementares ocorre na junção de matizes diametralmente opostos no círculo cromático (não existe um único e onipotente círculo cromático, o comunicador visual deve escolher aquele que atenda melhor a sua demanda).
De acordo com as teorias de harmonia de Itten, cores complementares, quando justapostas, intensificam-se ao máximo. Isso gera uma combinação muito harmônica, o que comprova que esta relação entre cores complementares é extremamente eficaz visualmente, o que justifica, também, sua popularidade.
Contraste simultâneo
Este contraste se relaciona com o contraste de cores complementares. É um processo fisiológico onde o olho, ao absorver uma determinada cor, busca a complementar desta, e, na sua ausência, tenta reproduzi-la.
Pode-se dizer que em uma composição, cada cor assume uma parte do tom complementar de outra. Basta rever a foto do item anterior para entender este contraste.
Contraste de saturação
Trata-se do contraste entre qualidade/intensidade de cor. É a combinação entre cores vivas e bem saturadas com cores de tom pastel, mais acinzentadas, ou seja, desaturadas.
É um dos tipos de contraste mais raro de ser percebido. Seu uso muitas vezes se limita ao destaque de um objeto colorido em meio a um cenário monocromático, como se nota em algumas cenas do filme Sin City: A Cidade do Pecado, dos diretores Robert Rodriguez, Frank Miller e Quentin Tarantino.
Embora esse recurso seja obtido através de uma seleção de cor em um software de pós-produção, é possível usar este contraste em produções fotográficas a partir da escolha dos objetos de cena.
Este contraste é pouco explorado devido à sua contradição com uma regra existente na composição visual, que se chama “similaridade de saturação”. Nesta, a combinação das cores com saturação igual ou semelhante tende a agradar os olhos dos espectadores.
Tal lei não é falha, mas isto não exclui a eficiência do contraste entre saturações. Cabe ao profissional de comunicação visual optar pela abordagem que será mais adequada para seus fins comunicativos.
Contraste de quantidade/extensão
O contraste de extensão é referente às áreas ocupadas por duas ou mais cores. Ele representa as relações quantitativas das cores e suas luminosidades numa composição. Itten acredita que para atingir uma harmonia na composição, deve-se distribuir as cores de acordo com suas luminosidades.
Ele praticamente exige uma regra de proporções de intensidades luminosas. Em outras palavras, se uma cor é naturalmente mais clara, como o amarelo, combinada com uma cor naturalmente mais escura, como o violeta, deve haver uma diferença de quantidade nas duas. A tendência é que a cor de natureza clara esteja sempre em menor quantidade do que a cor de natureza escura, embora não seja uma regra.
O verde da foto (de natureza mais escura do que o amarelo), em maior quantidade, condiz para que haja um contraste entre as duas cores. Mesmo que não se tenha numericamente uma exatidão na quantidade de cada cor, o balanceamento feito a olho nu já colabora com o contraste de extensão entre o amarelo e o verde.
Após apresentar estes sete tipos de contrastes, ficou mais claro perceber as diferentes nuances e formas de analisar as fotos. É importante apontar que estes contrastes estão sempre se misturando, ou seja, uma imagem não possui um único tipo de contraste. A união desses diferentes tipos coopera para que haja uma sensação agradável ao olhar as imagens.
Ainda sobre composição, percebe-se que algumas das fotos não chegam a ser intencionais do fotógrafo leigo de teorias de combinação, mas, por já ser agradável aos olhos, induz a pessoa a fotografar desta maneira. Conviver com cores e tais combinações (no cinema, na publicidade, nas artes plásticas, nas imagens eletrônicas) já influencia um certo comportamento na hora da foto.
Sobre as técnicas nas artes visuais, é preciso entender que elas não são formas de limitar a criação, mas sim um modo de apresentar elementos básicos que podem ser aprendidos e compreendidos por todos os estudiosos dos meios de comunicação visual.
As técnicas são os agentes no processo de comunicação visual; é através de sua energia que o caráter de uma solução visual adquire forma. […] São as técnicas que apresentarão sempre uma maior eficácia enquanto elementos de conexão entre a intenção e o resultado. – Sintaxe da Linguagem Visual
Espero que este post tenha ajudado a gerar um olhar mais crítico na hora de compor suas fotos. E não precisa seguir as regras a risca. A graça é experimentar e se divertir enquanto faz isso!
Se tiverem dúvidas, apontamentos, curiosidades ou algo mais a acrescentar, por favor participe dos comentários.
Obs: um muito obrigado à Andressa Carnevale pela paciência e pose nas fotos.
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