Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Camões sabia das coisas, minha gente. 

Pois a verdade é que, em pleno século XXI, nossas vontades em relação ao sexo também mudaram. Mais parceiros, mais experiência, menos tolerância com certos comportamentos e uma mudança naquilo que se espera de uma noite (ou outras tantas) de sexo casual.


Neste nosso admirável contexto novo (nem tão novo assim), algumas expectativas vão surgindo. Há um set de regras costumeiras que se estabeleceram e, de uma maneira ou de outra, influenciam ambos os sexos na hora do vamos ver. Ouvindo relatos aqui e acolá, achei por bem sintetizar o que mulheres (e homens) têm a dizer sobre a nova etiqueta sexual, vulgo “o que fazer e o que não fazer no tocante ao rala e rola”.

Observação: as “regras” foram escritas da perspectiva de uma mulher quanto a um casal hétero, mas a etiqueta se aplica a qualquer praticante do sexo casual.

A elas!

Camisinha, por favor


Em primeiro lugar, camisinha é fundamental. Soa óbvio, mas eu fico embasbacada quando vejo pesquisas que comprovam que uma parcela significativa da população sexualmente ativa não liga para camisinha. 

“45% dos brasileiros não usam camisinha com parceiros”
do Estadão, janeiro de 2015 

Crescemos com o mantra do “use camisinha”. No Brasil, conseguimos a dita de graça em qualquer posto de saúde. E aí entram duas perspectivas – a feminina e a masculina – que, se não dissonantes, dão m*.

A perspectiva masculina: 

É ruim. Sexo sem camisinha é infinitamente melhor. Aperta. Fico com medo de broxar. Só dessa vez. Eu sou limpinho.

A perspectiva feminina: 

Nossa, ele deve gostar mesmo de mim. Uma vezinha só não tem problema. E se eu disser não? Capaz de ele ir embora.

* * *

Vamos dizer a verdade, de uma vez por todas: se ele está pedindo/ela está aceitando, boas chances de não ser a primeira vez que isso acontece. Vai arriscar? Sabe-se lá onde e com quem essa pessoa esteve.

A perspectiva masculina: 

Senhores, deixem de frescura. Essa coisa de que com camisinha é pior é puramente psicológica. Se aperta, você está comprando o tamanho errado. Se a sensibilidade fica comprometida, compre a fininha. Se você fica com medo de broxar, pense na DST linda que pode aparecer no seu pau e imagine o que alguns minutos de prazer podem fazer no seu futuro. 

E no de todas as suas outras parceiras. Respeite.

A perspectiva feminina: 

Meninas, se o cara está disposto a expor vocês a uma DST e a uma gravidez, fica a dica: ele não presta. Simples assim. Que tipo de parceiro é esse que não tem a dignidade de respeitar a parceira que ele está levando para a cama? A meu ver, é motivo para levantar e ir embora. 

Um cara desses não merece seu repertório.

Recapitulando: 

Dar a entender/sugerir/fazer doce para transar sem camisinha é o cúmulo daquilo que não se deve fazer no sexo casual. Fazer-se de desentendido e ir enfiando, então, é motivo para termination

Sem falar que, não havendo o consentimento da parceira para isso, é estupro.

Higiene é fundamental (e tão importante quanto o uso da camisinha) 


Tome banho antes. 

Melhor ainda: tomem banho juntos! É ótimo para quebrar o gelo e para começar a mostrar sua habilidade nas preliminares.

Bonus track 1: 

Cueca-sunga deveria ser abolida da face da terra. Nada mais broxante do que abaixar a calça de um cara e topar com aquela bizarrice estética. Compre boxers, seja feliz e faça muitas mulheres igualmente felizes.

Bonus track 2: 

Coloque seu chuveiro e sabonete à disposição também no pós-coito. Dependendo do grau de lambança, é mais que gentileza, é imprescindível.

Bonus track 3: 

Roupa de cama limpa não é essencial, mas é legal. Roupa de cama fedida é um no-no. Melhor explorar o sofá (ou o chão) nesse caso.

Só avise  


Caso você não queira que o alguém passe a noite com você, avise antes (do dia, do sexo, de gozar, sei lá. Só avise). 

É meio climão quando a coisa toda termina e um dos envolvidos começa a ficar agitado e dar indiretas toscas para o outro ir embora.

A comunicação na cama


Fazer comentários depreciativos é coisa de gente mal-resolvida. Evite também abordar qualquer assunto objeto de complexos por parte de ambos os sexos (tamanho de partes corporais, presença ou não de pelos e celulite… por mais que você ache bonito/agradável/gostoso daquele jeito. Complexo é complexo). 

Evite também abordar comparações (com os ex-parceiros, com os atuais parceiros).

Se tiver críticas em relação à habilidade, faça de forma construtiva e sem ofender. Exemplos:

1. “Ai, faz assim, é tão bom/gostoso/sexy”;

2. “Se você diminuir a velocidade/pegar mais leve vai ficar perfeito/eu vou gozar”;

3. “Sabe qual é a minha posição preferida?”;

4. “Adoro quando você …”.

Bonus track: com gemidos a dica sempre fica mais gostosa.

Pode dar merda, claro (o famoso shit happens)


E como em toda situação desagradável, há formas e formas de se lidar. 

Nunca conheci uma menina que a) não tivesse experienciado uma broxada ao vivo e em cores; e b) não tivesse sido compreensiva. Se acontecer, aconteceu. O problema costuma ser a ansiedade – e, assim sendo, não ajuda muito ficar insistindo, senhores.

Leia também  Guia do carnaval de sofá

Conheçam seus limites.

Eu brinco que, na primeira transa (às vezes na segunda e na terceira também), sempre acontece alguma coisa constrangedora. Alguém escorrega, alguém dá um soco/chute no nariz do outro sem querer (principalmente na cena de mudar de posição, é um clássico), alguém quebra alguma coisa, alguém solta um pum, flatos vaginais correm soltos, ninguém consegue abrir a p* da camisinha. 

Faz parte, minha gente. 

É quase um movimento do universo para reestabelecer o equilíbrio e a ordem – uma pitada de desgraça em meio a tanto calor humano. Isso dito, há basicamente três caminhos para lidar com esse bando de xabu:

1. Rir. Tudo bem, dizem que rir é o melhor remédio, mas nem sempre. Tato é fundamental – lembra da questão do tópico anterior, sobre comentários depreciativos? Às vezes o riso é muito pior que qualquer comentário. Portanto, saiba contornar uma situação de forma bem-humorada (e saiba quando isso não é possível).

“Poutz, pelo menos, entre mortos e feridos, salvaram-se todos!”

“Na verdade esse vaso espatifado está reestabelecendo o equilíbrio no universo, saca?”

“Quebrou? Tá doendo muito? Mas veja só, é seu dia de sorte – sexo libera uns hormônios anti-dor aí…”

2. Encasquetar. Olha, essa costuma ser a pior opção, configurando o passaporte para encerrar a situação e ir embora. Se era isso que você estava querendo all along, fica a dica: deixe todos os envolvidos bem constrangidos e saia para nunca mais voltar.

“Como assim?? COMO ASSIM??”

“Ah, inferno.”

“Por que você fez isso, caralho?”

3. Ignorar. Definitivamente a melhor pedida para os flatos vaginais.

O que acontece no pornô fica no pornô


Para alguns é óbvio, mas ainda tem muita gente que acha que toda mulher esguicha, todo cara está sempre sedento e necessitado, toda mulher adora ser asfixiada com um pau, todo cara fica duro por quatro horas, toda mulher adora um anal. 

Pela milésima vez: a situação do pornô é uma cena interpretada por atores. Geralmente a mesma situação não pode nem deve deve ser repetida na vida real.

Falando em asfixiar


A etiqueta do sexo oral é bem delicada.

1. Em primeiro lugar, não peça se você não está disposto a retribuir. É uma falta de noção sem tamanho.

2. Não pegue a cabeça da parceira como se fosse uma bola e fique quicando no seu pau. Isso machuca (e se em algum momento um dente despontar ali… vix).

3. Gozar na boca sem avisar é falta de educação E falta de consideração. 

Quem tem muitos parceiros sabe que engolir é porta para DSTs. Não exponha sua parceira. Além disso, o gosto e o cheiro da porra toda não costuma ser o de um buquê de flores. 

Se você gozar mesmo assim, não ouse ficar ofendido se ela cuspir.

Bonus track: meninas e meninos, vocês estão de dieta há meses e não emagrecem? Pois a culpa pode ser da porra. Há estudos dizendo que uma colher de chá contém 1 caloria e estudos dizendo que chega a 20 calorias. E você achando que era porque faltou na academia semana passada, tolinha.

Importantíssimo: 


Não faça aos outros o que não gostaria que fizessem com você (e, dependendo do seu nível de kinkyness, não faça com os outros mesmo que você gostaria que fizessem com você).

1. Não é não. Se ela disse “não” para qualquer coisa e você continuou, é estupro.

2. Se você tem mais de 12 anos, deixar chupão é terminantemente proibido. Assim como qualquer tipo de marca deixada por tapas, mordidas, arranhões ou demais consequências físicas do calor do momento. Ok, você é uma pessoa empolgada. Não-ok deixar prova disso.

3. Tem gente que tem a pele bem fininha e bem branquinha. Tem pessoas que são mais sensíveis que outras. Mano, essa tua mão vai marcar, esse chupão vai forçar a menina a usar cachecol por uma semana. Seja educado: tudo bem derrubar comida no chão (desde que limpe depois), mas nada de quebrar os talheres (e os pratos, os copos…).

4. Tapa na cara: se ela não pediu, qual é o seu problema, cara?

“Ah, mas eu já transei com uma mina que pedia pra eu dar tapas fortes, eu já transei com um cara que mandava eu arranhar as costas dele.”

Volte ao item “Comunicação na cama”. 

Bonus track: nem tudo o que o outro pede deve ser atendido. Nunca se sabe o grau de loucura e, se de perto ninguém é normal, no sexo a coisa assume proporções assustadoras. 

Ligar no dia seguinte 


Não é parte da etiqueta sexual e é totalmente prescindível. Em tempos de sexo casual, ninguém precisa ligar para saber se foi bom, não? Aposte no seu taco e bola pra frente.

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Nicole Fobe

Por um erro de cálculo, formou-se em Direito. Agora luta para abandoná-lo. Enquanto as circunstâncias não permitem, dá umas aulas, escreve uns artigos e tenta concluir uma dissertação. Seus vícios incluem ler Drummond, ouvir o silêncio e procrastinar até o pânico bater.