Estamos em 2016 e o mundo das drogas ainda é tratado como criminoso e só. Ponto final. Uma guerra iniciada no meio do último século já gastou um sem número em investimentos de repressão e não fez arredar um passo para trás a produção e consumo de substâncias ilícitas. Questões de saúde psíquica e pública, os gastos com encarceramento em massa e a tentativa nula de reabilitação de usuário e pequeno vendedor são deixadas de lado em nome da correção.

A punição é o regime.

E o mais trágico é que, enquanto continuamos discutindo o problema, pendendo para um lado ou outro, aqui na América do Sul, o coração da cocaína consumida no planeta, a população mais carente é que paga o alto preço de estar no meio do fogo cruzado, coagida pelo narcotráfico e abandonada pelos Estados. Favelas brasileiras e argentinas, famílias hondurenhas e guatemaltecas nas cidades mais violentas do mundo, campesinos mexicanos e colombianos produzindo e transportando para organizações criminosas que ganham muito mais dinheiro do que conseguem gastar.

Em Guerras Alheias, documentário da HBO Latin America que estreia em 13 de junho, vemos a comunidade rural colombiana sofrendo com os efeitos da guerra às drogas desde os anos 90, quando os governos colombiano e estadounidense decidiram em conjunto atacar o cultivo de coca por meio da pulverização aérea com glifosato, um herbicida apontado como agente potencialmente cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde em 2015 (mesmo voltando atrás agora, em 2016). A Colômbia era o único país no mundo com permissão de derramada de químicos pelo ar, “como bombas”.

O processo constante e incorreto da derramada de veneno deu doenças nos campesinos, afetou a agricultura familiar de banana e mandioca, contribuiu com o deslocamento em massa do povo do campo, sendo o terceiro maior deslocamento de população nos tempos modernos, atrás do Sudão e, hoje, da Síria, dois países com pesados conflitos armados.

Leia também  Ele queria chegar no outro cara, mas não sabia bem como | Do Amor #84

Link YouTube

E a produção, venda e consumo de cocaína vai de vento em popa no mundo. O declínio leve do consumo nos Estados Unidos e Europa são boas novidades, de acordo com o World Drug Report da ONU de 2015, mas a droga ainda é preocupação em toda a América Latina, sendo que, aqui no Brasil, o consumo é quatro vezes maior que a média mundial.

Acha muito? A previsão do jornalista e escritor italiano, Roberto Salviano, autor do bestseller Gomorra e do livro que fala sobre o mundo da cocaína no mundo, o Zero Zero Zero, é que “quem controlar o mercado chinês de cocaína vai governar o mundo”, uma população de um bilhão e meio  em que boa parte trabalha em horários extensos e condições precárias. 

Meus amigos, quando a cocaína chegar lá de jeito…

Mais campesinos latino americanos terão destinos de má sorte, se a guerra contra as drogas permanecer assim, burra.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados