Na primeira parte, falei da dupla Stan Lee e Jack Kirby, da segunda formação dos X-Men e da edição de HQ mais vendida da história.
Nessa continuação, comento as versões para o cinema e o mandato do grande Joe Quesada.
4. Das pequenas páginas para as grandes telas
Quem abriu as portas do cinema para os quadrinhos foi a DC. A (ótima) sequência do Super-Homem, que imortalizou o ator Christopher Reeve como o homem de aço e rendeu a deliciosa atuação de Gene Hackman como Lex Luthor, foi o pontapé inicial (pelo menos foi o primeiro a realmente dar certo), seguido pelos Batman, do diretor Tim Burton. Depois, o homem morcego caiu nas mãos do canastrão Joe Schumacher e suas sequências de péssimo gosto viraram piada, transformando a ideia de fazer grana com filme de quadrinhos em uma piada ainda maior.
Mas ainda no final do milênio, a Marvel entrou em ação – claro que com a ajuda e visão de grandes estúdios de Hollywood.
Aproveitou a aperfeiçoamento dos efeitos especiais (em 1999, o filme Matrix provocou alvoroço com seus efeitos incríveis e sua regada frenética de quadrinhos, mangás e animes) e lançou (em 2000), após a boa aceitação do público com a adaptação para as telonas de Blade, O Caçador de Vampiros (de 1998), o muito comentado X-Men – O filme.
A película tem lá seus defeitos, mas foi muito bem recebido e, a partir daí, redescobriu-se a galinha dos ovos de ouro.
Ótimos filmes vieram:
- Homem-Aranha e suas sequências,
- Blade II,
- Homem de Ferro
e péssimas adaptações fizeram outros personagens serem esquecidos ou colocados na geladeira:
- como o Demolidor,
- o Justiceiro,
- Elektra.
Afinal, a moda hoje é fazer um reboot pra apagar algumas cagadas. Dessa forma, a Marvel ficou ainda mais poderosa, querida e ainda abriu espaço para adaptações de outras editoras.
Quem ganha mesmo são os amantes de HQs e da sétima arte, que viram surgir novos gêneros e puderam palpitar sobre as grandes furadas:
- Motoqueiro Fantasma,
- Quarteto Fantástico,
- Superman Returns
e admirar as qualidades de boas obras como:
- Sin City,
- 300 e
- Batman – The Dark Knight.
5. Joe Quesada, grave esse nome
Na hierarquia da Marvel, aquele que cuida dos projetos criativos, rumos e estratégias para toda a gama de heróis da editora é chamado de Editor-chefe.
Esse cargo, que já foi de Stan Lee (1941-42 e 1945-72), chegou a ser extinto em 1994, substituído por um conselho de cinco editores que tinham, por sua vez, outros editores subordinados. A função foi novamente unificada no mesmo ano e segue até hoje com uma só mente por trás de todas as tramas e caminhos seguidos nas revistas.
Desde 2000, Joe Quesada é o boss por trás do Universo Marvel e é, de longe, o mais controverso editor-chefe que a empresa já teve.
Joe é esperto, marqueteiro de primeira, turrão, encrenqueiro e em menos de dez anos virou uma celebridade no mundo dos quadrinhos, tornando-se tão adorado e odiado quanto os heróis e vilões da editora que comanda. Criou, desde os tempos em que ainda fazia freelance pra Marvel, a Marvel Knights (vertente onde se publicam histórias um pouco mais maduras, para os adolescentes mais velhos) e posteriormente a MAX (que, por consequência, é o espaço voltado para publicações mais complexas e voltadas para o público adulto).
Joe Quesada chamou a atenção da imprensa diversas vezes com suas atitudes inesperadas e às vezes até absurdas. Intimou Todd McFarlane (que na época estava bastante afastado dos argumentos e traços de sua “cria-do-inferno”) a voltar a desenhar e fazer um crossover entre Spawn e Homem-Aranha.
Convidou também o escritor Allan Moore a fazer alguns especiais na Marvel (mesmo sabendo das brigas intensas entre o britânico e a editora). Claro que todas essas manobras deram ótimo grau de visibilidade para a empresa.
Quesada também virou o Universo Marvel de cabeça pra baixo, sumindo com alguns heróis, tirando outros do ostracismo, zerando cronologias, dividindo histórias em mais de uma revista e fazendo cair por terra diversas tradições, como o que aconteceu com o Homem-Aranha. Na saga One More Day, que veio logo após Guerra Civil, quando foi feita uma manobra que apagou mais de 30 anos da cronologia do cabeça-de-teia, que hoje não está mais casado com a ruiva Mary Jane, dentre outras bizarrices.
Muitos desses feitos irritaram os fãs de quadrinhos. Hoje toda declaração que sai assinada por Joe Quesada – dizendo que em breve revelará informações ou surpresas incríveis – causa um arrepio na espinha de qualquer nerd de plantão.
Seja o que for e faça o que tiver de fazer, Joe Quesada tem um magnetismo que fortalece a imagem da poderosa Marvel.
O Capitão América pode morrer, Peter Parker pode voltar a ser solteiro, os X-Men podem mudar sua base de NY para San Francisco. Joe Quesada continuará reinando por bastante tempo e tem a frase perfeita para suas atitudes e estratégias:
“Nossos fãs são vorazes. Eles farão tudo que puderem para superar as dificuldades.”
Declaração dada para a pergunta:
“Os leitores estarão dispostos a bancar mais uma revista mensal, já que os preços estão subindo?”
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É. Leia também a segunda parte do texto sobre a Marvel nos anos 90, no Ministério da Verdade, sobre Marvel vs DC e games!
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