O Google publicou um vídeo para explicar o funcionamento da sua famosa engenhoca de tradução.
Como muitos já sabiam, o sistema não é apenas um simples dicionário gigante, contendo quase todas as línguas do mundo, mas um mecanismo de comparação entre traduções humanas e páginas originais. É uma máquina que aprende.
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Curiosamente, esse avanço é similar ao que ocorreu com mais profundidade no universo da inteligência artificial. No começo, os pesquisadores tentavam entender a mente humana e reproduzi-la com uma série de leis e programações específicas nos robôs, do tipo: "Se ouvir isso, fale isso". Depois eles se deram conta de que não é assim que nossa mente funciona.
Rodney Brooks, do MIT, foi um dos primeiros a abandonar o representacionismo, a ideia de que o mundo existe "lá fora" e deveria ser representado de alguma forma para o robô, assim como aconteceria na mente humana. Ao contrário do que se pensa, o mundo que vemos ao nosso redor só existe porque temos o corpo que temos e a história que temos. Ele não é assim objetivamente, por si só, independente de nossa percepção.
O que isso muda na robótica e nas pesquisas de inteligência artificial? Em vez de tentar reproduzir a mente humana e se preocupar com que o robô mapeie seu ambiente corretamente, a programação é feita sem comportamentos pré-definidos, com foco na aprendizagem. Ou seja, o robô é programado para aprender, para improvisar.
"When we examine very simple level intelligence we find that explicit representations and models of the world simply get in the way. It turns out to be better to use the world as its own model." –Rodney Brooks
O principal é que a programação seja plástica e que ele seja jogado em algum ambiente – igual aconteceu com cada um de nós, aliás. Assim ele consegue desviar de obstáculos e mapear seu ambiente com muito mais sucesso do que se tudo isso tivesse sido pré-programado. Ele será inteligente na medida em que conseguir construir um mundo – repito, igual acontece conosco.
É por isso que sempre digo que a educação deveria focar muito mais em como se aprende, em ensinar a aprender com o mesmo empenho que ensinamos conteúdos específicos. Para nós, já formados, vale o mesmo: se quiser aprender mais, cultive uma mente aberta, curiosa, cética, experimental, científica, flexível, plástica, em vez de se preocupar em digerir fatos, teorias, regras, padrões e informações.
Com a linguagem, não é diferente. O melhor jeito de aprender uma nova língua não é colecionar palavras e frases, mas entrar no mundo, na cultura que produziu aquele idioma. Construir uma realidade e agir a partir dessa nova matriz, que abre espaço para novas piadas, novos olhares, ironias, ideias, conexões, argumentos, cantadas, visões de mundo...
Slides de uma palestra que já ofereci sobre todas essas questões: linguagem, educação, realidade, conhecimento, inteligência...
Para quem tiver interesse, mais sobre Rodney Brooks:
- "Intelligence without representation"
- "Elephants don't play chess"
- "The relationship between matter and life"
- "A robot that walks"
publicado em 12 de Agosto de 2010, 11:53