George Arias: vivo de boxe há 25 anos | Caixa-preta #10

Na vida e na luta, um campeão não se faz sozinho

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70 lutas, 56 vitórias, 42 por nocaute. Conquistou uma série de títulos, manteve por 27 embates seu cinturão nacional, o que é um recorde. Chegou a 2ª posição na Organização Mundial de Boxe e disputou uma final mundial, em 2001, onde perdeu por pontos depois de 12 rounds de intensos socos desferidos. Eis parte da carreira do George Arias, décimo entrevistado do Caixa Preta e um dos maiores nomes da categoria dos peso pesados do boxe nacional. 

Um atleta vencedor, como na infância sonhou ser. Mas que pouco fez sozinho para chegar até este lugar, como assume. Nos momentos das maiores perdas, das derrotas que aconteceram, encontrou nos familiares e amigos o combustível para seguir.

George é um campeão forjado não só pelos seus músculos e suor, mas também, em igual medida, pelos de sua família. 

E a motivação que o fazia seguir com uma carreira já tão longeva e bem sucedida era a pergunta que circulava em minha mente, momentos antes da entrevista, e que esperava ter respondida em nossa conversa. Mas mal precisei questioná-lo para esboçar uma resposta. Ao entrar em sua academia, ainda carregando com esforço os equipamentos que em breve seriam usados para a gravação, encontro sobre o chão de cimento um grande ringue. Ele toma quase inteiramente o salão, que é o principal espaço daquele centro de treinamento, e pouco parece com o imaginado para um atleta que por muito tempo esteve na elite de sua categoria.

Na sala ao lado, atrás de quase meia dúzia de sacos de areia, estavam incontáveis imagens, manchetes e até um curioso retrato de papelão em grande escala tomam a parede. Os grandes momentos de sua carreira se mesclam com fotos de momentos comuns, muitas tiradas ali, naquela academia. "Nunca planejo sair daqui, o espaço é da minha família, cada canto tem uma história", me conta depois, já no meio do papo. 

Mas não é só a academia que transpira o amor ao boxe e a importância da família ali. George faz o mesmo em cada momento de nossa conversa. Seja contando como vê o ringue não como um espaço de violência, mas sim como palco para manifestar sua técnica, ou falando de sua maior derrota e de seus sentimentos de incerteza. Ele mostra como, em parte, compartilhou esses momentos com as pessoas próximas, como as manteve perto, caminhando juntas. E entre todas essas pessoas, em especial, ele chega próximo de marejar os olhos ao falar de Santos Arias, ex-pugilista, seu primeiro e por muito tempo único treinador e, sobretudo, seu pai. 

Aí a história ganhou outros contornos, dignos de enredos como os de Raging Bull ou Rocky, que sintetizaram o espírito de um boxeador. A faceta que esperava encontrar, séria, de um boxeador peso pesado, experiente e com as marcas da passagem do tempo, se mesclaram com a imagem do filho que encontrou em seu "velho" um treinador, e posteriormente em sua esposa a pessoa responsável pelos seus treinos. Que aceitou um método pouco ortodoxo, ainda que em diversos pontos discordassem. Que escolheu a academia de bairro em detrimento dos grandes centros, o pai como treinador, a mulher como treinadora, os amigos como suporte e soube ouvi-los nas derrotas, e sua comunidade como caminho para ser campeão. 

Me preparando para a entrevista, encontrei na página do Arias uma frase que me colocou por alguns minutos a refletir. Dizia que "as pessoas podem se tornar estrelas casualmente, mas os campeões se fazem por um processo normalmente demorado e difícil pelo qual poucos querem passar". Não pude concordar mais. Porém, agora, preciso acrescentar, olhando para história do George, como o caminho pode ser mais lúcido com pessoas ao seu lado.

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Textos nossos para se aprofundar mais, que contribuíram para a construção deste:

Você pode ver os outros vídeos do Caixa Preta clicando aqui.


publicado em 11 de Maio de 2017, 13:00
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Bruno Pinho

Estagiário do PapodeHomem e estudante de jornalismo.


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