Gato Mia!

Tenho saudades das brincadeiras de criança, daqueles jogos antigos da época que não tínhamos Internet e o computador era apenas uma grande caixa luminosa. Evoluímos muito em termos tecnológicos, inventamos novas formas de entretenimento, mas acabamos deixando a diversão como conhecíamos um pouco de lado. Preferimos reproduzir com fidelidade o futebol da vida real, ao invés de sair e jogar uma pelada com a galera.

Organizei alguns jogos de rua, os mais divertidos da minha época, brincadeiras que essa nova geração já não conhece mais. Passo pelas ruas e não vejo mais crianças correndo, fazendo marcas de giz no chão ou se escondendo atrás das arvores.

Proponho que todos que lerem esse artigo tentem marcar uma tarde para curtir com a galera.

Bete (Taco, Bets)

Bete é um jogo de rua inspirado no Críquete. Dizem por aí que recebeu esse nome em homenagem à Rainha Elizabeth I. Sendo um dos jogos mais populares na minha infância, o jogo pode ser praticado em qualquer lugar que uma bola de tênis ou borracha consiga rolar. Jogávamos até em ruas bem inclinadas.

Link YouTube | E é assim que não se joga bete. E nem adianta dizer o contrário

O Bete é um jogo de duplas. Enquanto uma dupla rebate, a outra dupla arremessa a bola. A dupla que está rebatendo deve manter o taco na base durante todo o jogo, protegendo a lata de ser derrubada pelos arremessadores. A base é um circulo desenhado de giz do tamanho que fosse não tão grande, nem tão pequeno. Sabe como é, era no instinto.

A “lata” podia realmente ser uma lata de óleo velha ou uma garrafa pet preenchida com agua para não cair com o vento, mas não muito cheia. Caso o rebatedor tire o taco da base, o arremessador pode derrubar a lata imediatamente, assumindo a posição de rebatedor. Se os rebatedores pisarem na linha da base, eles podem ser “queimados” com a bola, também perdendo o taco.

Os pontos acontecem quando um dos jogadores rebate a bola e trocam de base enquanto a outra dupla busca a bola. Quanto mais longe a bola for, mais eles podem correr antes de um arremessador tentar derrubar a lata ou queimar um dos rebatedores.

Caso um rebatedor consiga segurar a bola no alto antes de tocar no chão, é declarado “vitória”. Em algumas regiões do Brasil “vitória” determina o fim da partida, em outros lugares os rebatedores apenas perdem os betes. Durante o jogo é permitido pedir “licença bete”, para tirar o taco da base.

Pique-bandeirinha (pique-bandeira)

Pique-bandeirinha é ótimo por permitir que muitas pessoas joguem ao mesmo tempo, desde que os times sejam equilibrados. O local ideal para se praticar é uma quadra ou em um campo bem espaçoso. Esse jogo é o motivo de gostarmos tanto de jogar “Capture the Flag” em jogos de tiro. O objetivo é capturar a bandeira do time inimigo e levá-la para o seu campo.

Tendo o espaço de uma quadra de esportes como referência, desenhamos um circulo com giz no chão ao fim do campo de cada time, que vai servir como a base onde ficará a bandeira. O centro da quadra é a divisão entre os times e aquele que atravessar o campo pode ser congelado com um toque, só podendo sair se for resgatado por outra pessoa do mesmo time, que deve tocar nele para "descolar".

Link YouTube | Pique-bandeira levado ao extremo (claro que sempre dá pra incrementar uma simples brincadeira de rua)

Vence o time que colar todos os adversários, ou que conseguir atravessar a bandeira de lado. A bandeira pode ser qualquer coisa que possa ser carregada. Na minha época utilizávamos um galho de arvore com muitas folhas. A sugestão é jogar bêbado, fato que pode garantir uma diversão extra.

Balonete (Arma de Balão)

Antes das armas de airsoft e dos campos de paintball se popularizarem por aqui com replicas idênticas de fuzis e pistolas, utilizávamos os balonetes para criar nossa própria versão de um “team deathmatch”. Por muitos anos era o mais próximo que poderíamos chegar de um “jogo de guerra”.

Balonetes são feitos com canos de PVC e balões de festa. Encaixamos os balões no fundo do cano, prendemos com durex ou fita isolante. As munições podem ser feijão ou milho, normalmente optávamos por milhos, feijão desmancha na boca depois de muito tempo.

Colocamos uma boa quantidade de munição na boca para carregar a arma com mais agilidade durante o jogo. A maior diversão do balonete consiste na criatividade em produzir seu armamento.  Já produzimos de armas com cano duplo e carregador automático, até armas com mira laser, mesmo a precisão da arma sendo a pior possível.

Normalmente jogado em time, ganha o time que eliminar mais integrantes do time adversário. Não é válido atirar de muito perto, também não é permitido fazer reféns ou render um adversário. O uso de óculos escuro é praticamente obrigatório, sendo indicado o uso de óculos comprados no camelô por 10 reais.

Muito cuidado ao decidir o espaço permitido, em uma área muito grande é muito fácil não encontrar um inimigo por muito tempo.

Esse aqui é o modelo básico. E não se deixe enganar pelo tamanho ou simplicidade. Essa porra dói

Chuta-Lata

Conheço poucas pessoas que chegaram a brincar de Chuta-Lata. É uma forma de pique-esconde com uma variação interessante para dificultar a vida do “pego”. É ótimo para brincar em lugares com prédios e blocos residenciais e é uma brincadeira para lugares com obstáculos. Ao contrário da versão tradicional de pique-esconde, o tempo para se esconderem é determinado pela distância que a bola toma. O tempo que o pego levar para buscar a bola é o tempo que as pessoas terão para correr.

Coloque a bola voltada para um lugar aberto e uma das pessoas (que vai se esconder) é escolhido para chutar a bola o mais longe possível. O "pego" deve correr para buscar a bola e devolvê-la a base, para depois ter que encontrar os escondidos. Quando achar, deve correr até a bola, e gritar o nome da pessoa e o lugar onde estava escondido, para não poder blefar. Na minha época, era o famoso “1-2-3, FULANO-DE-TAL ATRÁS DA LIXEIRA”. O pego deve sempre se manter atento na bola que, vulnerável, alguém pode vir correndo e chutar novamente, deixando todos os que já foram encontrados livres para se esconder de novo. O primeiro a ser encontrado se torna o novo “pego”.

Gato Mia

"Gato mia" é uma ótima brincadeira para brincar dentro de casa ou apartamento, principalmente em lugares bem escuros, sem ser possível ver qualquer coisa com a luz apagada. Na minha época, era a brincadeira preferida da galera. Aproveitávamos o clima escuro para trocar carícias com as meninas.

Ninguém tinha muita ideia do que estava fazendo, mas muitos beijinhos aconteceram em brincadeiras de Gato Mia. Da última vez que brinquei, já tínhamos uns 18 anos e estávamos oito pessoas, entre homens e mulheres, em um quarto de hotel. Não prestou.

No Gato Mia, o “pego” tem os olhos vendados com uma camiseta ou alguma coisa que tire completamente a visão dele, as luzes são apagadas para diminuir ainda mais a visibilidade e ele conta até 30 para as pessoas se esconderem.

"Achô"

Toda a graça está na movimentação cuidadosa do "pego" que, não enxergando nada, tem que ir bem devagar e apalpando tudo. Quando o pego encontrar alguém, ele deve perguntar “Gato mia?” e a pessoa deve responder “Miau” da forma mais escrota que conseguir. Se o pego reconhecer a voz da pessoa, ela se torna o novo pego.

O resto é só festa.

Convide os amigos

Ligue para os amigos e chame-os para jogar alguma dessas brincadeiras. Tenho certeza, principalmente se forem adultos, que vão se empolgar demais em relembrar as brincadeiras e sair da mesmice dos programas de domingo.


publicado em 22 de Janeiro de 2012, 22:10
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Alberto Brandão

É analista de sistemas, estudante de física e escritor colunista do Papo de Homem. Escreve sobre tudo o que acha interessante no Mnenyie, e também produz uma newsletter semanal, a Caos (Con)textual, com textos exclusivos e curadoria de conteúdo. Ficaria honrado em ser seu amigo no Facebook e conversar com você por email.


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