É sempre uma delícia ir ao BMW Jazz Festival. De verdade. Poucos artistas se apresentando por noite e todos muito, mas muito certeiros na proposta de música incrivelmente de qualidade. Ontem eu fui ao HSBC Brasil — mesmo com o trânsito absurdo por conta dos protestos contra o aumento da passagem de ônibus — e o que eu vi foi isso:

Noite de progressão musical

O grande esquema de ir a um show de jazz (ou vários shows de jazz) é saber entrar no embalo da coisa, penetrar mesmo no som de quem está tocando, fazer uma imersão pra entender o tema, pegar os improvisos, subestimar o músico que está se apresentando e estar (bem) preparado pra ser surpreendido com os golpes de notas tortas que ele (ou ela) pode te dar. Estando de bem com essa premissa de entrar justamente pra perder é que dá o gosto da coisa, é a surpresa grata que te joga no meio da catarse.

Ontem ocorreu uma progressão sonora em três consertos que, como a definição já aponta, foram ficando mais e mais poderosas e deliciosas.

James Farm esquenta a noite

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Um quarteto de jazz formado em 2009. Novinho de tudo, mas quente que só. Um saxofone, um piano, baixo e bateria, todos na pegada mais tradiça do jazz, mas mandando um som quentíssimo pra começar a noite. Um baterista insano e o , o saxofonista Joshua Redman, ensandecido que, entre um improviso e outro, dava aqueles berros de satisfação do jazzista quando sabe que fez a coisa certa, que esquentou do jeito certo.

Esperanza Spalding é linda

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Figurinha querida nos festivais de jazz aqui no Brasil, a baixista americana que fala português e sente um amor enorme (compartilhado com o autor que escreve esse artigo) pelo Milton Nascimento (que estava na plateia) levou ao palco onze músicos que formavam uma parede de 6 metais, 2 vozes, bateria, guitarra e piano.

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Foi um show doce e intenso. Ela sabe preencher o palco e fazer seu som se abrir mais, seja com a voz extremamente competente — no que vai direto ao ponto e quando improvisa acompanhando as notas do baixo) — ou tocando seu instrumento de forma exemplar. Esperanza improvisava quase sussurrando quando explodem os metais por trás.

Egberto Gismonti faz o que sempre fez: elevou

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O apresentador entra com um sorriso de orelha a orelha pra apresentar a última atração da noite:

“[…] e ele, a pessoa que mais sabe se divertir com música, Eguiberto Gismonti!”

O mestre da música brasileira levou ao palco a Orquestra Corações Futuristas, um grupo de 21 jovens que rapidamente transformaram tudo em Brasil. Baixo, piano, sopros, percussão, bateria.

Um sacolejo fino.

Egberto regia a orquestra e a música brasileira tomava conta de verdade, chacoalhava o HSBC Brasil todo. Foi um show de pé na terra, mato an bunda, vento na cara, Brasil na pele rasgada pela síncope única do nosso som. Foi sertão, foi floresta, mundão do jeito que o mundão vier. Egberto comandava tudo, sentou-se ao piano e humilhou toda a plateia nessa minha ideia de subestimar o que ele poderia fazer.

Não se subestima um músico desses.

Ainda tem BMW Jazz Festival!

O festival de jazz tem mais uma noite, hoje, só com essa programação aqui:

  • Brad Mehldau Trio
  • Johnathan Blake Quintet
  • Joe Lovano & Dave Douglas Quintet: Sound Prints
  • Featuring: Lawrence Fields, Linda Oh and Matt Wilson

E de graça no Ibirapuera!

  • Show gratuito no parque do Ibirapuera.

Plateia externa – show ao ar livre

Auditório Ibirapuera

Domingo, 9 de junho, à partir das 17h

Av. Pedro Álvares Cabral, s/n – Portão 2 – Parque Ibirapuera

Só aparecer.

Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna <a>Do Amor</a>. Tem dois livros publicados