Filho de Marvin Gaye não quer que façam um filme sobre o cantor

Saiu na Folha, por esses dias, uma informação de que um dos filhos do Marvin Gaye "desaprova" a produção do filme sobre um recorte da vida do cantor americano que, por hora, tem o nome de Sexual Healing e conta com o também cantor, Lenny Kravitz, no papel principal.

"Eu acho que [Lenny] não tem ideia alguma de que somos contra o filme", afirmou o filho ao site "TMZ", acrescentando que vai questiona-lo sobre isso. Kravitz e Marvin Gaye 3 foram colegas de classe na infância.

Gaye e Kravitz

E aí que vem o embroglio na minha cabeça. Quem é que tá certo nessa situação? Tirando todo o fator comercial (se não entramos numa discussão infinita), estão certos os responsáveis pela produção da película, pessoas que querem contar como foi a parte conturbada da vida de um dos cantores mais sensuais de todos os tempos ou seria mais justo respeitar a vontade de quem cuida do legado do cantor assassinado em 1984 pelo próprio pai, um pastor fervoroso que não conseguia ver seu filho ganhando a vida com depravação?

Ainda segundo o filho, Marvin Gaye 3, as pessoas envolvidas na produção do filme desconhecem a trajetória verdadeira do pai e estão apenas apelando pro sensacionalismo da época que querem retratar, o momento em que Marvin Gaye morou em Londres e estava afundado em depressão e problemas com o álcool.

"Os produtores e diretores desse filme estão muito equivocados e é vergonhoso", afirma. "[Eles] estão tentando fazer um filme sobre um curto período da vida dele. Eles nem sabem a história toda", argumenta.

Sem dúvida alguma Marvin Gaye teve uma vida conturbada e, sim, muitíssimo interessante. Suas indas e vindas em uma carreira brilhante, levadas com um talento incomum que transformaram um negro da capital americana em um dos maiores astros da Motown, uma das gravadoras mais importantes que já surgiram na música mundial. Pessoas querem conhecer essa história, querem ver o que não viram. Não há como negar esse conhecimento e homenagem ao poeta morto.

Já do outro lado do ringue, sem sabermos ainda detalhes sobre como a ideia do fime está sendo levada adiante, fica também um sentimento de que tudo tem que ser feito, claro, com um esmero especial, para que não saia na tela um recorte doloroso para a família do cantor, uma deturpação errônea do que foi aquele período diante de toda a vida de uma pessoa de enorme carisma e que, como qualquer ser humano, teve muitos altos e baixos.

Fico sim com uma dúvida imensa, afinal, não seria a primeira prova de que a indústria do cinema consegue transformar uma enorme expectativa num grande fracasso artístico e, para o mal deles, financeiro.

Link YouTube | Marvin Gaye fazendo o que fazia de melhor, sem se preocupar com filmes, legados, filhos, atores e nem a porra toda.

Muito antes da coisa toda se concretizar - independente do que venha -, vale essa reflexão. Tanto para quem faz o filme quanto para quem pode querer, pelo simples fato de um laço de sangue, querer impedir que as belezas e falhas da vida do cantor Marvin Gaye sejam retratadas na tela do cinema.


publicado em 04 de Dezembro de 2012, 09:57
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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