Fertilidade masculina: o que a ciência tem a dizer sobre a saúde dos seus espermatozoides

Aproveitando a promoção que está rolando essa semana aqui no PdH (um estímulo ao sexo protegido e à contracepção), dedico minha primeira colaboração à fertilidade masculina, caso o ganhador queira aumentar a população mundial 9 meses depois da noitada no motel.

Quer ficar bom em algo? Treine!

Lendo na BBC Brasil uma comunicação recente do Sydney IVF (um instituto australiano de fertilização in vitro) durante um encontro da Sociedade Européia para Reprodução e Embriologia, vi que seu grupo de pesquisas conseguiu melhorar a qualidade dos espermatozoides de seus pacientes (e, consequentemente, as chances de fecundação do óvulo), em apenas uma semana, com um tratamento bastante simples: ejaculações diárias, seja por meio de relações sexuais ou... você sabe como é.

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Papai orgulhoso da produção...

Ao final dessa semana de tratamento hedonista, 80% dos pacientes apresentaram uma melhora em relação a danos no DNA dos espermatozoides de 12%, em média. Outra constatação importante se mostraram mais ativos, com pequenas melhoras em sua mobilidade.

Apesar de a contagem total de espermatozoides ter caído bastante nesse período (de 180 para 70 milhões), manteve-se dentro da faixa normal. De acordo com David Greening (responsável pelo estudo), houve uma melhora considerável na qualidade e viabilidade destes espermatozoides pelo pouco tempo em que ficam armazenados nos epidídimos – pequenos ductos que coletam e armazenam os espermatozoides produzidos pelos testículos – em contato com radicais livres, de modo que o menor número é compensado por espermatozoides de maior qualidade, com mais capacidade de fecundação.

Adiar a ejaculação aumenta o volume, mas...

Em 2003, um grupo de pesquisas israelense liderado pelo Dr. Eliahu Levitas analisou 6000 amostras de homens em análise ou já em tratamento para infertilidade que se encontravam em períodos de abstinência sexual de até duas semanas. Apesar de o volume de sêmen ter aumentado entre períodos de abstinência de 11 a 14 dias, a contagem de espermatozoides manteve-se constante. O problema observado foi: a morfologia dos mesmos encontrava-se bastante deteriorada, ou seja, a qualidade dos espermatozoides estava visivelmente comprometida pelo tempo em que estavam "estocados".

Nesse estudo ficou claro que dar "aquela segurada", para fazer bonito nos momentos mais propícios da esposa, não funcionava, visto que qualquer intervalo superior a três dias de troca de óleo (“renovação do estoque”) já ocasionava grandes danos à estrutura dos espermatozoides, dificultando assim o processo de fecundação. Esses dados atualizados (com 9489 amostras) foram publicados no periódico científico Fertility & Sterility (2005; para assinantes, em inglês).

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Desenho do genial Tim Whyatt

Tenho mais algumas dicas que podem ajudar bastante quem está animado com a ideia de virar papai rápido, mas usem com moderação! Não quero ninguém falando “Tudo culpa daquele maldito que apareceu no PdH”...

Você é o que você come

Em mais um artigo que saiu na Fertility & Sterility (2009), cientistas espanhóis concluíram que a presença de antioxidantes em frutas, verduras e legumes pode aumentar a qualidade do sêmen, pela já mencionada proteção contra radicais livres, justamente o contrário do que acontece com você ao se entupir de fast food! Para ver se há o mesmo efeito com o uso de suplementos vitamínicos, esse estudo será reproduzido nos EUA, onde essa prática é bastante comum.

Deixe o ciclismo para o Lance Armstrong

É, seria uma boa desencanar de consertar a sua bike. Estudos recentes feitos com triatletas de elite que percorrem mais de 300km por semana de bicicleta constataram que apenas 4% dos espermatozoides têm aparência normal (leia-se saudável). Segundo Diana Vaamonde, responsável pelo estudo, a literatura disponível já trata de problemas de fertilidade masculinos e femininos em indivíduos que executam exercícios em alto nível.

Se quiser outras informações para justificar suas faltas na academia, leia os textos “O preço a se pagar pela preferência feminina”, que discute a igualdade de sucesso reprodutivo entre homens sarados e magrelos, e “É dos nerds que elas gostam mais”, que mostra que os nerds são mais eficientes na reprodução.

Continue com sua contemplação de vídeos pornôs

Num estudo publicado na Biology Letters, em 2005, Leigh Simmons observou que, para homens heterossexuais, imagens de um casal heterossexual são um estímulo maior para aumentar a qualidade do esperma do observador. Esse fato está de acordo com uma teoria chamada "Competição do esperma" (que discutirei em breve). Basicamente, a teoria discute que a percepção de um macho rival fertilizando uma fêmea desencadearia um aumento na produção de espermatozoides, acarretando assim uma maior qualidade. É, nós somos mesmo uns bichos!

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Pode parar de clicar. Links aqui só para artigos científicos. ;-)

Câncer de próstata e atividade sexual

Não pegar pesado nos exercícios, comer bem, praticar sexo regularmente, pornografia... Tudo o que eu listei até aqui sugere uma vida boêmia e hedonista. Deve ter muita gente com um sorrisinho no rosto enquanto lê esse texto ("Estou bem, já faço tudo isso"), só que agora é aquele momento em que eu venho e arranco a felicidade da cara de vocês, instaurando aquela pulga atrás da orelha.

Um estudo publicado em janeiro no British Journal of Urology International relacionou o nível do apetite sexual que os homens apresentam durante sua juventude com o risco de se desenvolver câncer de próstata em idades mais avançadas.

Ao compararem homens com câncer de próstata diagnosticado até os 60 anos com indivíduos saudáveis, observaram que a maior atividade sexual aos 20 anos estava relacionada à maior incidência da doença. Também foi observado que, considerando-se somente a masturbação, uma maior atividade aos 20 e 30 anos reproduziu o resultado anterior. Porém, ao se considerar somente o ato sexual, essa relação entre atividade sexual e câncer não foi observada (o que é uma ótima notícia para quem tem esposas, namoradas, casos constantes, ou simplesmente se dá bem direto com a mulherada).

Esse estudo ainda precisa ser melhor explicado, visto que outro resultado demonstrado pelos autores foi um efeito protetor relacionado exatamente ao que antes foi descrito como fator de risco, ou seja: elevada atividade sexual. Estranho uma atividade relacionada à doença aos 20 e 30 anos estar relacionada à proteção contra a mesma doença aos 50 anos.

Eu, pessoalmente, preciso de mais dados para entender melhor os resultados do último artigo que mencionei, mas esse assunto certamente será discutido em um grande número de trabalhos futuros (e, certamente, posts).

Fico por aqui. O recado está dado: comam seus vegetais, destruam suas bicicletas e, se forem praticar, convidem as mulheres!


publicado em 27 de Agosto de 2009, 03:23
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Gabriel Cunha

Gabriel Cunha é biólogo, começando o Doutorado em Biologia Molecular na UNIFESP. Coautor do blog de ciência RNAm no ScienceBlogs Brasil, também é professor e anda viciado em criação de conteúdo.


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