Foi bom o reencontro, ex-amor

Porque as coincidências são generosas e sempre uma possibilidade de enxergar o outro com mais nitidez

Foi numa madrugada de domingo que meu celular vibrou com a mensagem dele. Abri o link que dava pra uma página de venda de Fuscas. Que interessante.

Dia seguinte ele perguntou como ia a minha vida e eu contei. E depois de seis ou sete anos ele lembrava meu nome e quem eu era. Me chamou pra dar uma volta às dez da noite e eu fui, pra passar a lua cheia conversando besteira com aquele que foi meu primeiro amor em tempos da menarca.

Foi louco. Bom te ver. Não teve frio na barriga, não teve sorriso derretendo, não teve desejo. Não amo mais você. Mas nenhum contato acaba, as relações sempre seguem.

Não tenho porque alimentar ideários românticos aqui: nem sempre as coisas seguem um bom rumo. Porque vinculamos nossos sentimentos às expecativas que temos do outro, cada interação tem o potencial de transformar radicalmente nossas percepções – que briga não é, em última instância, uma decepção?

Mas reencontrar alguém é sempre uma possibilidade de trocar miúdos sobre o que passou e sobre o que viraram as pessoas daquela relação. É a oportunidade de, pela primeira vez, enxergar o outro como alguém independente e realizar que aquele fio de lã que une duas pessoas num ideal romântico é, na verdade, todo tracejado, abstrato, nada concreto.

O outro está fora de nós, ele não nos pertence. As relações são construídas nos tracejos desse fio, nos respiros do contrato, nas brechas do testamento, no lugar onde ninguém tem controle.

Foi isso que me despertou o curta Amy, do diretor e roteirista Jacob Chase e estrelado pelo Alex Karpovsky, de Girls, e Troian Bellisario, de Pretty Little Liars. Ele conta a breve história de um ex-casal que, por acaso, se encontra na rua. Passam a tarde juntos, levando uma conversa sobre o presente e o passado que só pode ter dois destinos possíveis: uma reaproximação ou um rompimento doloroso.

 


publicado em 26 de Janeiro de 2016, 16:16
Img 5371 jpg

Marcela Campos

Tão encantada com as possibilidades da vida que tem um pézinho aqui e outro acolá – é professora de crianças e adolescentes, mas formada em Jornalismo pela USP. Nunca tem preguiça de bater um papo bom.


Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.

Sugestões de leitura