Eu era um menino prodígio, hoje me sinto um fracassado | Mentoria PdH #16

"O que me dói mais não é ter falhado, mas ter desistido de tudo para falhar."

Pergunta da semana:

"Eu fui uma criança prodígio. Muito estudioso, sempre com as melhores notas da turma, amado pelos professores e muito incentivado pelos meus pais, que se mataram para me dar uma boa educação. Mesmo em condições de vida humildes, eu tive um ensino de elite, pago com o salário suado deles.

Todos me diziam que eu alcançaria grandes objetivos e eu concordava. Eu queria entrar numa boa faculdade e construir uma carreira acadêmica. Conseguir independência financeira e viver a minha vida. Não parecia impossível.

Mas aí a vida foi acontecendo.

Não consegui entrar numa universidade pública quando saí do ensino médio, por ter feito poucos pontos no vestibular. Não pude estudar numa particular porque não tinha dinheiro para isso, e o salário do meu trabalho num supermercado servia para ajudar a manter as despesas de casa. 

Também não pude me dar ao luxo de passar mais um ano estudando para o vestibular, então continuei trabalhando e juntando um dinheirinho. 

No ano seguinte, entrei numa particular a duras penas. Foi um sofrimento conseguir conciliar meu trabalho com a faculdade, dormia 4 horas por dia e passava o tempo das viagens de ônibus estudando no meu celular.

No final do ano percebi que não era aquilo que eu queria, que eu não estava seguindo o projeto. Eu estava estudando numa universidade particular ruim, por ser barata e não conseguia me dedicar como deveria. Não era o que eu tinha planejado.

Então, tomei um decisão drástica: largaria tudo para tentar o vestibular novamente. Tranquei a faculdade, larguei o meu trabalho e pedi calma para minha mãe.

Passei um ano inteiro me matando de estudar. Quase 9 horas, de segunda à sexta, com a cara enfiada em apostilas que conseguia baixar na Internet. 

Não era só o meu projeto acadêmico que eu queria retomar, mas a minha vida. Eu tinha me tornado uma pessoa reclusa, melancólica, cansada, sem expectativas. Não me reconhecia mais, não reconhecia aquele menino que tinha tesão na vida, que queria descobrir o mundo.

Mas deu errado.

Por poucos pontos, de novo, eu não consegui uma vaga na minha cidade. Consegui em outro estado, mas o curso era em tempo integral, e eu não tinha como ser sustentado pelos meus pais em outro lugar. A solicitação de bolsa também era muito burocrática, eu não sabia quanto tempo demoraria para conseguir o auxílio e se haveria vagas. Não consegui resolver tudo isso a tempo.

Foi um baque muito forte, mas eu consegui segurar as pontas. Acalmei os meus pais e disse que ainda teria mais uma edição no meio do ano, com a minha mesma nota.

Deu errado de novo.

Não abriram vagas na minha cidade, nem para programas de bolsa.

Agora eu tô aqui sem saber o que fazer. Eu simplesmente não sinto mais vontade de correr atrás do que eu queria, de sair do lugar. Tô sem rumo.

O que me dói mais não é ter falhado, mas ter desistido de tudo para falhar. Eu larguei o que era ruim - mas que era seguro - e falhei.

Tô desmotivado, me sentindo um fracassado. Não consigo pensar na minha mãe e no tanto que ela sofreu pensando no meu futuro. Eu sinto que joguei toda a minha capacidade e meu investimento no lixo. Não tenho mais idade para pedir tempo para os outros, para tentar de novo. Muito menos condição financeira.

Sei lá, preciso de uma palavra de apoio, do conselho de alguém que já fracassou também, qualquer coisa."

— André

* * *

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publicado em 23 de Julho de 2018, 15:09
File

Guilherme Nascimento Valadares

Editor-chefe do PapodeHomem, co-fundador d'o lugar. Membro do Comitê #ElesporElas, da ONU Mulheres. Professor do programa CEB (Cultivating Emotional Balance). Oferece cursos de equilíbrio emocional.


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