Estou mais analógico que nunca

Um pouco de pé no chão nessa vida digital.

Estou mais analógico que nunca

Ok, não mais do que nunca, óbvio. Ninguém aqui se mudou pra uma cabana no meio do mato.

Mas acho que vale compartilhar essa história.

Quando eu era criança minha família colocou na sala um computador desktop que chamou minha atenção e, desde então, nunca mais abandonei essas máquinas. A minha é a história de muita gente.

Aprendi música com um programa que editava arquivos MIDI e exibia os sons em uma partitura. Depois, comecei a gravar minhas próprias canções em casa. Meus desenhos, que antes eram feitos no papel, foram passados para o Photoshop e eu alcancei resultados que nunca conseguiria antes. Hoje, mesmo esse texto, eu escrevo direto no navegador.

Eu aprendi a cozinhar na internet. Fiz amigos. Até mesmo o meu atual trabalho, como editor no PdH, eu devo aos computadores e à maravilhosa rede mundial de computadores.

A união do digital com o acesso à internet teve um impacto profundo em como executo minhas tarefas e me relaciono com as pessoas, a cidade e até com a minha alimentação. Eu sei que nunca vou voltar a ser como antes. Simplesmente não dá.

Os smartphones, em especial, foram um passo além que tornaram tudo ainda mais fácil. Não importa onde eu esteja, toda a informação de que eu preciso está ali.

Porém, junto com as redes sociais, eles trouxeram — pra minha vida, que fique claro — uma camada a mais de ansiedade com a qual vem se tornando difícil de lidar. Quando acontece algo importante na política ou no mundo, acabo acompanhando de forma frenética, obsessiva. Ao acordar, se caio no deslize de rolar a TL, chego a perder horas do dia como se estivesse bebendo água do mar pra matar a sede. Quando vejo, estou numa condição que começou a me preocupar. Agitado, inquieto, preocupado, mal humorado, reativo.

Quando notei a relação entre minha má saúde emocional e a forma como vinha usando redes sociais e smartphone, passei a sentir aversão. Eu comecei a não gostar, a querer me afastar do computador e das telas.

Comecei a ter dificuldade em escrever, pensando em toda a toxicidade dos comentários, até cheguei a soltar alguns textos anônimos, só pra não ver essas reações vinculadas a mim.

Paralelamente, imergi no universo da música folk, como parte dos meus estudos, buscando referências pra criar. Ouvindo artistas, vendo vídeos (sim, essa eu devo ao Youtube), fiquei absorvido por aquele universo idílico. Tocando meu violão, sentindo a madeira, as características que só o som acústico possui, acho que fui picado por um bicho.

Então, tive um estalo e comecei a pensar em alternativas para meu problema de concentração.

Primeiro, comprei um pequeno timer de cozinha, com um tomatinho, pra fazer meu método Pomodoro. Assim, eu não precisaria deixar o celular na mesa contando o tempo enquanto estivesse trabalhando.

Percebi que eu me distraia também quando ia abrir o Todoist e o Trello pra checar minhas tarefas. Então, abandonei todos os sistemas digitais de gerenciamento de tarefas. Comprei um caderno e estou usando a boa e velha caneta.

Agora tenho de novo um relógio com despertador.

Passei a evitar artigos na internet e a considerar mais os livros impressos como fonte.

E, claro… estou mais do que nunca, absorvido por instrumentos acústicos.

A ideia tem sido diminuir minha dependência e o risco de cair em tentação ao colocar o celular na mão ou mantê-lo por perto. Sem radicalismos, mas também sem ser condescendente demais.

Nos últimos meses, um pouco mais afastado de todo esse reboliço digital, venho em uma empreitada artística mais sistemática. Acordo todos os dias, trabalho e, em casa, dedico de duas a três horas aos afazeres musicais.

Mais recentemente, tenho voltado a nutrir hábitos um pouco mais saudáveis e até noto que meu tempo se esticou. Acordo cedo, sento, começo e termino algo.

Não é milagre. Em algum momento eu vou encontrar alguma outra confusão que vai me colocar naquele velho estado mental ansioso e reativo.

Mas é bom compartilhar essa ideia e, quem sabe, trocar um pouco a respeito.

Você tem tentado alguma coisa assim? Gostaria de experimentar também?

Daqui, tem sido bem interessante, mais produtivo, porém principalmente mais saudável seguir dessa forma.

Ouça meu EP De Volta pra Casa

Acabei de lançar um EP chamado De Volta Pra Casa. Se quiser me fazer feliz, não economize nas palmas aqui embaixo mas também ouça minhas músicas, deixe um recado, siga minha página ou no Spotify. Assim eu garanto que você faz o meu dia. :)

* * *

Nota: este texto foi originalmente publicado no meu Medium.


publicado em 28 de Setembro de 2017, 09:08
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Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no Youtube, ouvir no Spotify e ler no Luri.me. Quer ser seu amigo no Instagram.


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