Esse tal João Sorrisão

O soco no ar de Pelé, os braços abertos de Falcão, a sambadinha de Júnior e o “embala nenê” de Bebeto. Comemorações que marcaram época, incentivaram criações e deixaram o futebol mais divertidos. Todas com o seguinte fator em comum: a espontaneidade.

Houve um tempo em que o Globo Esporte era o programa dos gols. Só gols. Léo Batista, de uma bancada invisível e possivelmente rústica, chamavas as reportagens. Sem piadas,easter eggs ou desafios de vídeo-game. Sem jogadores cantando, piadas de duplo sentido com repórteres ou trocadilho com nomes de jogadores. Globo Esporte era, enfim, o sinônimo de lances do final de semana.

Era.

Pois hoje o Globo Esporte entrou para a grade de programas de humor da TV Globo. Carlos Henrique Schroder e Luiz Fernando Lima, diretores do programa, descobriram no apresentador Tiago Leifert um carisma que vai além do fã do esporte. Ele agrada até quem não gosta de futebol. Leifert tem o senso de humor de um repórter do CQC. Não é genial, mas também não é imbecil. E isso faz com que o brasileiro goste de Leifert sem o peso na consciência de gostar de Zorra Total.

Esse modo engraçadinho como a TV Globo vem tratando o futebol pode ser observado no Fantástico. Tadeu Schmidt, aliado à audiência do quadro, leva 20 minutos para mostrar os gols. Aquele que sempre foi o momento mais esperado do Fantástico tornou-se o mais irritante. E a enorme diferença entre Schmidt e Leifert é que o irmão do Oscar não tem graça nenhuma.

Ficou divertido ver os gols no Fantástico, só que ao contrário.

Jogadores comemoram gol com João Sorrisão: previsível e sem graça

Aliar o futebol ao humor não é de todo mal. Futebol, especialmente o brasileiro, tem tudo a ver com isso. O problema é tratar o futebol como piada. Os momentos sérios, como a concentração para um jogo, a tristeza de uma derrota ou sofrimento da paixão, acabam ficando em segundo plano.

Vejam o João Sorrisão. Nada no futebol brasileiro atualmente é mais vergonhoso que a imagem do jogador comemorando o gol fazendo a movimento do boneco. A TV Globo, em algum momento, achou isso uma boa idéia. É obvio que funcionou, uma vez que o império possui os principais veículos do Brasil. Era João Sorrisão para tudo que é canto. Felizmente, não por muito tempo.

A maior parte dos torcedores considera ridícula a comemoração homenageando o boneco. Um excelente e surpreendente sinal de inconformidade. A TV Globo observou essa revolta e mudou a regra da premiação. Agora, para ganhar o brinquedo, o jogador terá que fazer uma comemoração criativa. A mais legal será premiada. O júri? Os coreógrafos Carlinhos de Jesus e Fly.

Ou seja: espere mais bobagens por aí. Ou você acredita que uma comemoração dando socos no peito em direção a torcidaderrubando a grade ou chorando de emoção vai sensibilizar dois dançarinos?

Link YouTube | É possível fazer graça no Globo Esporte. Só não precisa ser o tempo todo

O futuro não é dos mais promissores. A TV Globo, graças a audiência e popularidade adquirida aos seus programas de esporte e apresentadores engraçadinhos, vai seguir manipulando e moldando a personalidade de nossos jogadores. Atletas bestas e engraçadinhos que assistem Malhação no lugar da Champions League.

Que falta faz o caráter e a personalidade em campo. Que falta faz um Socrates, um Falcão, um Renato Gaúcho, um Romário, um Dunga no futebol brasileiro.

Daqui a pouco vão adicionar clac nas transmissões de futebol.

Menos sorrisão, mais criatividade.

Nota do Editor: A parte 3 do Reset no Futebol Brasileiro será publicada no próximo domingo (28.08).


publicado em 21 de Agosto de 2011, 12:50
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Fred Fagundes

Fred Fagundes é gremista, gaúcho e bagual reprodutor. Já foi office boy, operador de CPD e diagramador de jornal. Considera futebol cultura. É maragato, jornalista e dono das melhores vagas em estacionamentos. Autor do "Top10Basf". Twitter: @fagundes.


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