Volte a respirar!

Achamos fascinante quando encontramos alguma razão para alguém fodão ser, afinal, um fodão.

Você conhece o James Deen?
Você conhece o James Deen?

O Michael Phelps, que ganhou mais medalhas de ouro em competições do que pode carregar no pescoço, não parece feito para se movimentar em terra firme. Quando caminha, suas pernas curtas mal conseguem equilibrar o tronco longo e os ombros largos. Os braços compridos pendem desajeitados junto ao quadril estreito. Com freqüência, o rapaz tropeça nas próprias pernas. Já na água ele esbanja graciosidade. Dentro da piscina, a anatomia bizarra faz dele uma espécie de canoa longa e leve, capaz de deslizar em alta velocidade pela superfície com a ajuda do par de remos extragrandes. Graças a essas características físicas, Phelps é um dos melhores nadadores da atualidade".

Isso foi dito na Revista Veja em 2004, em um daqueles especiais para os Jogos Olímpicos de Atenas do mesmo ano.

O Usain Bolt possui pernas muito longas, o Messi tem um formato curvado de pé que garante que a bola fique mais perto dele do que dos outros jogadores, o menino que soletra anticonstitucionalissimamente tem um cérebro avantajado enquanto o James Deen -- astro pornô e atual namorado da Stoya -- tem, bem, você entendeu.

Tiramos, a cada descoberta maravilhosa, toneladas de culpa das nossas costas comuns por não sermos bons como esses seres especiais, dotados de dons, claras evoluções da espécie humana.

E assim voltamos para a nossas vidinhas de desculpas e distrações.

Não.

Não estou convidando pesosas a baterem recordes e disputarem provas de alta performance com o Phelps ou o Bolt ou o Messi ou o James Deen. Além de serem atletas "de outro mundo", eles são profissionais que recebem pesados patrocínios para ficarem o dia inteiro fazendo o que fazem: nadando, correndo, driblando e comendo a Stoya. E as amigas dela.

Voltando.

Ao mesmo tempo que ficamos impressionados, surge também esse alívio de não sermos menores. Não somos, nós, pessoas inferiores. Eles que estão em níveis que ninguém alcança.

Mas não é só de presentes da genética que vivem as pessoas que fazem coisas incríveis.

Conheçam a Hanli Prinsloo

"oi". (Foto: Charlie Dailey)
"oi". (Foto: Charlie Dailey)

A Hanli Prinsloo é uma mergulhadora profissional sul africana de 34 anos que já estabeleceu 11 recordes nacionais, incluindo um mergulho até a profundidade de 63 metros em um único fôlego, no Mar Vermelho. Ela adora água e fala com gosto sobre a água e nos lembra, como na palestra que ela deu no TED Bermudas (abaixo), que somos água, que o nosso corpo é 70% feito de água e que nossa pele e órgãos e a porra toda está preparada para a água, que não devemos temer tanto etc.

Tudo muito legal, tudo muito bacana. Mas, mais do que uma mulher que gosta da água, ela é especialista em respiração.

A Hanli não veio ao mundo com um pulmão fora do normal, com um par de respiradores super desenvolvidos, com brônquios que trabalham melhor ou com juma desenvoltura que permite que seu corpo receba menos oxigênio em muito mais tempo. A Hanli aqui bota de volta a nossa culpa.

Além, claro, de uma rigorosa disciplina de alongamentos do tórax que aumentou sua capacidade pulmonar de quatro para seis litros, a mergulhadora sul africana faz um trabalho mental constante para que, durante o mergulho, nada seja feito com distração, nenhum erro aconteça por qualquer frivolidade do mundo do mar.

Foco, conhecimento e lucidez.

Antes de mais Hanli, um pouco de Linda Stone

Após participar de um treinamento no método Buteyko de respiração, Linda Stone começou a praticar vinte minutos de Buteyko todo dia, antes de abrir seu notebook. Ao ler e responder emails, notou um gigantesco contraste: ela estava segurando sua respiração.
Linda passou os próximos 7 meses observando e entrevistando mais de 200 pessoas. E também conversou com pesquisadores e médicos sobre os efeitos fisiológicos de segurar a respiração. Chamou esse distúrbio de email apnea: ausência ou suspensão temporária da respiração devido à checagem de emails.
A respiração cortada, superficial, afobada provavelmente desregula o funcionamento do corpo. Não sei da veracidade das pesquisas levantadas por Linda, mas não ficaria surpreso se descobrissem que o modo com o qual checamos emails diminui nossa imunidade e causa desequilíbrios em nosso sistema nervoso. (Alguma médica ou médico leitor PdH conhece boas pesquisas sobre a relação entre respiração e saúde?)
Você também sofre de “apneia por email”?

Voltamos com a Hanli Prinsloo. Respira fundo

Infográfico "Como sobreviver sem ar". Para ver em tamanho maior, basta clicar na imagem
Infográfico "Como sobreviver sem ar". Para ver em tamanho maior, basta clicar na imagem

Obs: o infográfico acima foi feito pelo pessoal da Revista Superinteressante, para o blog do TED, sobre a ocasião em que o ilusionista David Blaine bateu o recorde de ficar sem respirar embaixo d'água por mais de 17 minutos.

A situação vai além do email. Paramos de respirar quando ficamos putos com o trânsito, quando nos esquecemos e tentamos lembrar de algo, quando estamos fazendo algum tipo de alongamento na academia ou nas aulas de artes marciais.

Até o ato de beber água parece ser assais complicado -- pela ansiedade de acabar ou distração de pensar demais na água e de menos no resto das funções motoras -- e muita gente para de respirar e termina a série de goladas já cansada, respirando acelerada.

Desaprendemos a respirar em detrimento da infinidade de possibilidades que temos e nos acostumamos com uma espécie de hiperventilação histérica, como se sempre precisássemos de um saquinho de papel para voltarmos ao "inspira e expira" padrão.

Respirar é fundamental para o funcionamento do nosso foco e da nossa lucidez. Só com esse tipo de respiração que ela consegue descer 63 metros no fundo do mar sem entrar em pânico ou perder o foco de sua respiração ou então sem ter plena noção de como seu corpo está funcionando em cada etapa da descida e subida. Não há como ir tão fundo sem esse conhecimento todo, sem esse foco todo, sem a lucidez do que está acontecendo com ela e em volta dela.

Precisamos voltar a respirar em nosso cotidiano e ter foco e conhecimento e lucidez, como se estivéssemos cercados de água por todos os lados.

A nossa amiga Hanli Prinsloo nos ajuda. Hoje, além de ser fodona no que faz, ela ensina suas técnicas e compartilha conhecimentos com outros atletas, de atividades distintas até. Há surfistas de ondas grandes, mas também tomam aula com ela corredores e jogadores de rugby, interessados em desenvolver melhores técnicas de respiração e fazer aumentar o nível de seus trabalhos como atletas.

A Go Outsite publicou uma matéria bem bacana com ela, com algumas das técnicas que ela ensina:

Link YouTube | I Am Water: Hanli Prinsloo at TEDxBermuda

Expanda seus limites

Prender a respiração pode te ensinar a superar barreiras de performance durante atividades anaeróbicas como corridas de velocidade. Esse exercício, que deve ser realizado em posição deitada e de costas, ajudará seu corpo a se adaptar a níveis mais elevados de dióxido de carbono no sangue e te mostrará até onde você pode ir. “Prender a respiração é um treinamento de força mental”, explica Hanli. “É preciso chegar àquele ponto no qual o corpo está berrando, e você responde com voz calma.”
1ª Respiração
Prenda a respiração até chegar ao ponto em que seu corpo começar a te dizer para respirar por causa do alto nível de gás carbônico em seu sangue. Inspire.
2ª Respiração 
Prenda a respiração após o ponto acima, até seu diafragma começar a contrair. Segure mais alguns segundos além das contrações, e então inspire.
3ª Respiração 
Por fim, prenda a respiração até as contrações começarem, e lute contra elas o máximo de tempo que conseguir (concentre-se em algo além do desconforto; contar costuma funcionar). Descanse o tempo necessário entre tentativas.

Amplie sua capacidade

Os músculos intercostais, que ficam entre as costelas, permitem que seu tórax se expanda durante a respiração. Alongá-los com estes exercícios ajudará seus pulmões a reterem mais oxigênio. Os alongamentos devem ser feitos em uma inspiração máxima, e devem ser mantidos por 15 a 20 segundos (ou o tempo que você se sentir confortável).
1º Alongamento
Respire profundamente, depois se incline lateralmente de um lado para o outro, mantendo-se na posição inclinada alguns segundos. Alongue-se lentamente. Expire.
2º Alongamento
Inspire o máximo que conseguir, em seguida estique os braços acima da cabeça, com os cotovelos próximos às orelhas, o peito para fora e o queixo para baixo. Prenda a respiração pelo tempo que for confortável, e depois expire.
3º Alongamento
Entrelace os dedos atrás do corpo e inspire profundamente. Puxe os ombros para trás e os braços para cima e fique nessa posição até precisar respirar.

Recupere-se mais rápido

Mergulhadores de apnéia chamam de hook breath, ou “respirada-gancho”, a primeira inspiração que dão após um mergulho profundo, quando eles necessitam de oxigênio circulando imediatamente pelo corpo. Essa também é uma ferramenta de recuperação surpreendentemente eficaz para atletas de outros esportes, já que te reoxigena mais rápido que as respiradas curtas e ofegantes a que nós geralmente recorremos quando estamos exaustos.
É simples: ao final de um exercício desgastante – como um tiro de corrida –, expire cerca de metade do ar que te resta e, depois faça uma inspiração rápida e profunda. Segure por dois ou três segundos. Expire e depois respire normalmente.

publicado em 30 de Janeiro de 2014, 22:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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