Esqueçam a gafe do Oscar: Moonlight ganhou melhor filme e tem muito pra te dizer

Mais importante que o erro da festa são os acertos desse filme

Moonlight é maior que a confusão.

O filme levou prêmios em três categorias: melhor ator coadjuvante, roteiro adaptado e melhor filme também.

É o filme mais barato a levar o Oscar de melhor filme. Seu orçamento total foi de aproximadamente um milhão e meio de dólares, muito inferior aos gastos de divulgação de muito blockbuster. Para se ter ideia, o filme Batman vs Superman: Dawn of Justice teve o custo avaliado em 250 milhões.

O elenco de Moonlight. Da esquerda pra direita, Mahershala Ali, Trevante Rhodes, Naomie Harris, Ashton Aanders, o pequeno Alex R. Hibbert e o diretor Barry Jenkins

Também é o primeiro filme com todo o elenco negro a levar o prêmio mais importante da noite. É também a primeira vez em que um filme com protagonista LGBT é premiado com a estatueta de melhor filme. Mahershala Ali é o primeiro ator muçulmano a ganhar um Oscar. Em épocas de Donald Trump, isso ganha importância extra, certamente.

Uma nova safra de diretores! Barry Jenkins tem apenas 37 anos. Damien Chazelle, que levou oscar de melhor diretor por La La Land, tem só 32. Frescor necessário pra um mercado ainda dominado por homens velhos.

Pra além de todos esses fatores sociais, importantíssimos de serem comentados, La La Land é um filme delicioso e com uma fantasia muito bem vinda pros dias de hoje. Moonlight é um filme delicado e necessário que pega uma história que poderia se perder em melodrama angústias e passa toda uma beleza dentro da tragédia.

Bonito, sim. Lindo, sim. Merecido, sim.

Minhas críticas de ambos os filmes

Moonlight, Sob a Luz do Luar: um filme poético e necessário;

La La Land é isso tudo mesmo?

Outros textos relevantes sobre Moonlight

Moonlight review – a five-star symphony of love (do The Guardian);

‘Moonlight’: Is This the Year’s Best Movie? (do The New York Times, já antecipando o título de melhor filme ainda em 2016);

Moonlight: Sob a Luz do Luar | Crítica (do Marcelo Hessel lá no Omelete).

Sobre masculinidades tóxicas

Somos criados para sermos agressivos e sem medos. Passamos todas as fases da vida de um homem, infância, puberdade, adolescência, vida adulta, minando afetos e exaltando a nossa sexualidade, desde que apontadas para mulheres, nunca para outros homens. 

Moonlight, além de um filmão, escancara muito disso e deve ser visto também com esse olhar crítico. Um garoto negro e gay, filho de mãe viciada, tomando bullying e contratempos da vida, perdendo pessoas que gosta, se afastando de pessoas que ama pelo simples fato de não seguir uma cartilha limitada. 

Ser homem é poder ser muito mais que isso.

Temos uma avenida aberta para manifestar muitos outros trejeitos e tiques que também são masculinos, mais afetuosos, mais sensíveis sim, mais atenciosos e com o impulso constante de florescimento, de querer impulsionar positivamente a vida de outras pessoas.

 Moonlight é um lampejo de alegria, é uma porta escancarada mostrando que, mesmo inseridos em comportamentos errôneamente chamados de naturais, o carinho pode dar certo. 

O carinho pode prevalecer.


publicado em 01 de Março de 2017, 00:00
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Jader Pires

É escritor e colunista do Papo de Homem. Escreve, a cada quinze dias, a coluna Do Amor. Tem dois livros publicados, o livro Do Amor e o Ela Prefere as Uvas Verdes, além de escrever histórias de verdade no Cartas de Amor, em que ele escreve um conto exclusivo pra você.


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