Em setembro, dias depois do time sofrer uma derrota por 3 X 0 pro Flamengo, um torcedor abordou Bruno Henrique, jogador do Palmeiras, enquanto ele caminhava com sua esposa e o cachorro do casal.
O homem em questão chamou Bruno de "pipoqueiro" e, em tom calmo, a esposa de Bruno confronta o torcedor dizendo que ele estaria sendo desrespeitoso e desagradável ao ofender seu marido fora do estádio, no seu momento familiar.
A discussão foi filmada e o vídeo viralizou na internet. Enquanto muitos parabenizaram o casal pela forma pacífica como confrontaram o torcedor, outros os criticaram.
Bruno Henrique do Palmeiras: quanta paciência, calma e educação! Mas sua esposa é brava como o Felipe Melo. Tô com ela! pic.twitter.com/zcQEmmPqbP
— Milton Neves (@Miltonneves) September 3, 2019
Tá nervoso?? O acomodado aí? Acho que o torcedor pegou até leve, esses babacas estão curtindo com a cara dele e do clube, o salário está em dia, o clube fornece tudo e um pouco mais ai e ainda quer que a torcida aceite viver de derrota? Folgados! Ninguém quer isso pro seu clube
— Luma Félix (@LumaFelixx) September 3, 2019
Neste domingo, após o empate 1×1 com o Atlético Paranaense, Bruno Henrique relatou que, na saída do estádio, sua esposa foi acuada, xingada e empurrada por outro grupo de torcedores.
A violência nos estádios, apesar de atroz, não é novidade. Os confrontos entre torcedores, tampouco. Nessa era de vendas multimilionárias de boleiros, tem sido cada vez mais frequente que os torcedores intimidem os jogadores, tal qual agiotas que exigem, violentamente, vitórias como juros devidos aos investimentos do clube.
Com o episódio da intimidação e agressão de Bhel Dietrich, chegamos ao ponto em que, por se posicionar em contra este tipo de cobrança, a esposa do jogador é punida por um grupo de torcedores que não aceitam ser contrariados.
A discussão do vídeo
A discussão do vídeo e a forma como Bhel confrontou o torcedor fez com que ela virasse alvo da revolta de torcedores descontentes com o time. Mas qual foi a postura que causou tanta revolta?
Enquanto o seu tom de voz era firme porem calmo e ponderado, as palavras de Bhel na discussão foram as seguintes:
[Bhel] "Não pode (xingar). Você gostaria que alguém xingasse sua esposa, sua mãe, sua filha? Você pode até falar, mas você está sendo desrespeitoso e desagradável. Você não falou time, você xingou diretamente ele. Assuma as coisas que você faz, seja homem para fazer na frente. Quer fazer, faz, mas assume. Você acha que está certo? Pô, a gente tem vida também. Você quer xingar? Vai no estádio xingar então."
[Bruno]"Eu to com a minha esposa, a gente sabe que o time está passando por um momento ruim você acha que a gente está feliz? Ninguém está feliz. Eu estou passeando com a minha esposa."
[Bhel] "Porque você vem magoar os outros, meu? Você acha que perde porque quer?"
Em seguida ela repara que está sendo filmada, se dirige a quem está gravando e diz "você vai apagar esse vídeo agora". A última coisa que se vê é sua mão tocando o celular. Este ato foi o ponto de crítica de diversos torcedores.
Perdeu a razão quando foi tentar pegar o celular. Eu concordo totalmente com ela até ela tentar pegar o celular da mão do cara.
— Joabe Soares (@jowabesoares) September 3, 2019
No entanto, este tipo de comentário ignora a lei de direito de imagem. Filmar alguém sem sua autorização e reproduzir esta imagem é crime e cabe indenização, portanto Bhel tem o direito garantido pela constituição de demandar que o vídeo seja apagado.
O machismo nas críticas
Os comentários em sites de notícias e no Twitter nos mostram alguns aspectos da reação do público diante da postura de Bhel Dietrich.
Se não fosse a mulher dele, ele apanhava.
— Wendell Alvarenga (@WendellAlvaren1) September 3, 2019
Os comentários manifestam uma carga machista na qual se espera uma postura agressiva do homem e passiva da mulher: repreendem Bhel por ela se impor diante do torcedor, ofendem a Bruno Henrique por sua esposa tomar a frente da nessa situação:
A esposa do BH exerce dupla função esposa e guarda costas. O BH, por sua vez, é tão molenga para se defender quanto jogando pelo time do Palmeiras.
— Celso Reginato (@celsoreginato) September 3, 2019
"Torcedor tem que apavorar mesmo!!! Mulher arrogante!!! E o Bruno Henrique mostrou que é frouxo mesmo. Tá mais que evidente que em casa a última palavra é a dele: "SIM SENHORA".-Comentário por LeoSG.
A torcedores que não compactuam com a intimidação cometida exigiram um posicionamento do Palmeiras. Muitos pedem para que os culpados pela agressão sejam responsabilizados e banidos dos estádios.
Na nota oficial, o clube declara:
“A Sociedade Esportiva Palmeiras repudia veementemente o deplorável e constrangedor episódio ocorrido na saída do estádio neste domingo (20), após a partida contra o Athletico-PR, em Curitiba, envolvendo a esposa do jogador Bruno Henrique e sua família.
É inadmissível que aconteçam situações lamentáveis envolvendo ataques de supostos torcedores a atletas, comissão técnica, dirigentes e seus familiares. O clube está dando todo o suporte necessário ao jogador e sua família”
Como foi muito bem colocado por Renata Mendonça no site Dibradoras:
"O futebol virou desculpa para se naturalizar o que, na verdade, são crimes. Ameaça, agressão, intimidação. Nada disso pode ser tratado como "normal" ou como "parte da rotina" de uma profissão…. "
Puxe uma cadeira e comente, a casa é sua. Cultivamos diálogos não-violentos, significativos e bem humorados há mais de dez anos. Para saber como fazemos, leianossa política de comentários.