Escritórios abertos: os novos inimigos da produtividade

Será que esse novo conceito de 'open office' está realmente funcionando? Parece que não. Mas é mais barato

Vão-se as paredes, as baias e a privacidade, surge o incentivo à interação e cooperação no ambiente de trabalho. Os open offices, ou escritórios abertos, surgiram como opções de economia estrutural e maior aproximação entre colaboradores e chefes. Após o auge do hype, surge o questionamento: realmente vale a pena investir neste formato?

A criação dos escritórios abertos não é algo necessariamente moderno. Na década de 20, as salas fechadas chegaram a ser tratadas como elementos fascistas por alguns arquitetos. Entre eles, o americano Frank Lloyd Wright, que serviu de referência aos empresários no momento de adotar grandes galpões como núcleos de serviço – transformação nada ideológica, mas sim, visando linhas de montagem formadas por escrivaninhas e homens de terno.

Trinta anos depois, surgia na Alemanha um movimento formado por projetistas chamado Quickborner, que desenvolveu um modelo mais humanizado, orgânico e com foco na privacidade do trabalhador. O estilo ganhou o alcunha de “escritório planejado”, que em 1968 começou a ser vendido na América em conjuntos modulares, desconstruindo qualquer resquício de humanização no ambiente corporativo.

Cinquenta anos depois, os escritórios abertos viraram sinônimo de modernidade. Startups impulsionadas pelo conceito ‘i wanna be google’ investem em ambientes descontraídos que motivam a criatividade. Hoje, com uma demanda de entrega bem maior que a 1920, questiona-se o estilo.

The Great Workroom, mais conhecida criação da carreira de Frank Lloyd Wright

Embora bem intencionados, os escritórios abertos promovem conflitos na relação interpessoal. Pelo menos é que aponta o estudo do Dr. Vinesh Oommen, da australiana Queensland University. Segundo ele, há aumento de pressão pela produtividade e rotatividade pessoal.

“Escritórios abertos deixam você doente. O alto nível de ruído faz com que os funcionários percam a concentração, levando a baixa produtividade. Há problemas de privacidade e uma tremenda sensação de insegurança”, diz o professor, que aponta problemas de saúde causados pelo stress no ambiente de trabalho, como pressão alta e até depressão.

Segundo a pesquisa da universidade, o barulho ainda é o que mais atrapalha. Mais da metade dos entrevistados demonstraram insatisfação com as conversas, telefones e até o barulho do teclado dos vizinhos de mesa.

Em busca do foco

A necessidade de concentração no trabalho é uma das principais defesas de quem prefere trabalhar entre quatro paredes. E o motivo é simples: não é nada fácil executar um serviço com distrações constantes, por menores que sejam. Essas interrupções atrapalham o desenvolvimento das idéias e acumulam trabalho durante o dia, levando a outro problema moderno, que é o de transferir o trabalho para casa.

Para atuações que solicitam grande foco, como redação, programação ou gerenciamento financeiro, os escritórios abertos tornam-se inimigos na mesma escala que os fones de ouvido são companheiros inseparáveis. Desta forma, cai por terra qualquer proposta de interação que as mesas compartilhadas oferecem.

Paralelamente, vem a pressão por resultados. "Ser visível para chefes e colegas pode fazer com que os trabalhadores sintam-se pressionados a cumprir as expectativas dos outros", diz Leigh Stringer, especialista sênior em meio ambiente na EYP Architecture and Engineering, de nova York. “Os empregados preferem manter a cabeça baixa e digitar para parecerem ocupados, ao invés de tomar tempo para refletir ou fazer um brainstorming com outros. Deste modo, o trabalho analítico corre riscos”, completa

Em um experimento com as fábricas chinesas publicado em 2012, Ethan Bernstein, professor assistente de liderança e comportamento organizacional da Harvard, descobriu que as equipes são até 15% mais produtivas quando trabalham atrás de uma cortina que as protegia da visão dos supervisores. “Os funcionários se sentiram mais livres para experimentar novas maneiras de resolver problemas e melhorar a eficiência quando estavam protegidos do olhar crítico de seus chefes”, explicou o Dr. Bernstein.

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Para quem sente algum tipo de intimidação ao trabalhar em escritórios abertos, uma péssima notícia: essa moda não tem data pra acabar. O que deve acontecer, especialmente após as pesquisas universitárias que questionam o formato, é considerar mudanças. Com foco na qualidade de trabalho e, claro, no resultado à empresa.

Abrangemos nossa curiosidade sobre quem trabalha ou já teve experiência em escritórios abertos. Qual a maior dificuldade que você encontrou? E qual foi a melhor parte?


publicado em 18 de Outubro de 2017, 00:05
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Redação PdH

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