Ciúme, orgulho, insegurança. Imagine-se tomado por tudo isso. Uma suspeita que consome noites de sono, tempo de trabalho, acelera seu batimento cardíaco, o arrasta pra todo lado. Imagine-se completamente dominado pelo medo da traição.

Sua mulher está metendo chifres em você? Até onde você seria capaz de ir para descobrir se suas suspeitas têm fundamento? Você teria coragem de contratar um cara para dar em cima e testar a fidelidade da digníssima?

Se conseguíssemos ilustrar a vida real, chegaríamos em algo assim

Não? Então, como você conviveria com essas dúvidas? Não acha que em algum momento ficaria descontrolado e acabaria fazendo alguma besteira? Gritar, xingar, bater, se humilhar, talvez encher a cara em algum boteco da vida.

Se sim, como você lidaria com a sensação de ver o cara se aproximando? Ver as primeiras reações da sua namorada, a forma como ajeita o cabelo e sorri quando ele fala alguma coisa engraçada. Ou como ela toca no braço dele e se aninha. Até onde você suportaria?

Mais ainda, até que ponto você o permitiria ir? O que você define como traição? Só considerar a possibilidade? Os primeiros flertes? Olhar, corresponder? Dar o telefone? Beijar? Trepar? Chamar de amorzinho? Ou só se ele comesse o cu dela e ela se apaixonasse? Onde mesmo começa a traição? Ou, melhor, o que tem de acontecer para disparar o sofrimento da sensação de ser traído?

Jack Knowles: contratado para seduzir sua mulher

Este cara existe. No melhor estilo “Teste de Fidelidade” do João Kleber, ele recebe dinheiro para pegar esposas e namoradas e colocar à prova a fidelidade das moças. Basta uma foto para identificar a vítima e ir à caça.

Para esta tarefa, Jack Knowles recebe cerca de £1000,00 por noite, dependendo de quão longe tem de viajar. Ele conta que ganhou mais de £200.000,00 em dois anos, tudo bancado por gente desconfiada. Saldo: a maioria das mulheres abordadas, segundo o que ele conta, foram infiéis.

Jack não acha que o seu trabalho tenha sido prejudicial aos caras que o contrataram; pelo contrário, sente empatia por eles. A razão?  Descobriu sua namorada dando mole para caras nas redes sociais.

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Jack em ação (fonte: The Sun)

O tribunal da traição

Observar esse tipo de dinâmica – nessa histórias e em nossas vidas – me faz visualizar uma espécie de tribunal. Um mundo policial, CSI buscando os culpados, fazendo justiça, colocando quem merece na cadeia. Como se o traído fosse indubitavelmente a vítima da infidelidade cruel de uma mulher.

O que nos faz agir desta forma? Que tipo de sofrimento pensamos estar evitando quando testamos a pessoa que constrói uma relação conosco? Que tipo de garantia estamos buscando? Se a mulher passar no teste, isso significa que ela servirá como base segura para sempre? Ela nunca o trairá? Fidelidade é mesmo prova de amor?

Faz sentido pensar que aquele que trai (termo que uso na falta de outro melhor) tem culpa e está provocando o sofrimento do outro? Se assim fosse, o sofrimento da traição só surgiria diante de um fato consumado, não por um telefonema, um SMS ou qualquer outra coisa que fazemos com qualquer um, de maneira trivial. Mas o que assistimos muitas vezes é um festival de alucinações e exigências que, por si só, já são suficientes para desencadear toda uma rede de aflições.

Você nunca contrataria esse cara, certo?

É bem fácil falar “Que otários esses homens que pagam para descobrir se são cornos! É um absurdo, eu nunca faria isso, não consigo sequer tentar começar a imaginar eu contratando esse cara!”.

No entanto, muitos de nós não têm vergonha de olhar as mensagens de Facebook, checar Twitter, vigiar chamadas no celular, ligar para saber onde estão nossas namoradas (dando justificativas de que isso é “cuidado”), ou mesmo proibir determinadas atitudes, roupas, falas, relações etc. Na real, nós temos um pouco desse perfil de corno, em diferentes graus.

Estamos dia após dia contratando um cara para testar a fidelidade de nossas mulheres.

Luciano Ribeiro

Cantor, guitarrista, compositor e editor do PapodeHomem nas horas vagas. Você pode assistir no <a>Youtube</a>