Se, a dois segundos de entrar no útero, fosse possível descobrir o quanto a vida é difícil, você hesitaria?

Meu primo tinha uma maneira peculiar de explicar como os seus amigos se tornaram zigotos. Fulano havia vencido a corrida porque saiu arrotando durante o caminho e apodrecendo os concorrentes, o Sicrano só conseguiu entrar no óvulo porque saiu socando todo mundo, e não podemos esquecer do grande Otávio, que só venceu a corrida dos espermatozoides porque peidou na largada e matou todos os outros concorrentes.

Não fosse por isso, todos sempre concordaram, ele nem teria virado feto.

Bem lá no comecinho da largada, ninguém nos deu a chance de pensar sobre as consequências. O sinal tocou e a gente não tinha ideia alguma de onde realmente estávamos nos metendo. Mas, e se fosse possível parar e pensar por dois segundos sobre todas as coisas que poderíamos passar para, entre outros costumes e vivências, simplesmente ter a oportunidade de estar aqui em frente a essa tela, lendo esse texto?

Pela impossibilidade de parar a caminho do óvulo, tenho pouca dúvida de que a gente já nasce pré-disposto a se jogar literalmente de cabeça nas coisas. O problema é que, depois que a gente cresce e tem ideia de como a vida funciona, começamos a hesitar. Não só por dois segundos, mas às vezes por três meses ou durante uma vida inteira.

Nos tornamos máquinas de acordar no dia seguinte com dúvidas sobre o que poderia vir depois, se parássemos de hesitar.

Você venceu, e não foi por acaso

Mas e se eu te dissesse que aquela coisa de que todos nós já nascemos vencedores é pura balela e que a grande verdade é que somos ejaculados destinados a vencer?

Link YouTube | Vai lá, campeão, mostra pra eles

Em 1988, dois autores americanos, R. Baker e M. Bellis, elaboraram a “hipótese camicase”, na qual defendiam a ideia de que há três grupos de espermatozoides:

  • 49% são formados por pequenos “Bruce Waynes”. Eles possuem uma química tóxica que detecta os companheiros de “procedência duvidosa” e os matam, defendendo o óvulo de ser dominado pela pessoa errada. Segundo Bellis e Baker, eles literalmente são jorrados para te ajudar a chegar lá. E, como nem todo espermatozoide leva desaforo para casa, começa uma luta pela sobrevivência entre “Waynes” e os inimigos, que não veem você nadando por eles.
  • Os outros 49% são espermatozoides coringas. Eles começam devagar e nem vão atrás do óvulo. Pelo contrário, param nas paredes do organismo feminino e dificultam a passagem de outros espermatozoides. São praticamente agentes do caos, só gostam de atrapalhar e ver o circo pegar fogo.

O 1% restante é formado pelo pelotão do Capitão Nascimento.

Missão ejaculada é missão cumprida

Esses são ejaculados com uma carga natural de energia que os ajudam a resistir a todas as dificuldades do percurso e também às “enzimas matadoras” que protegem o organismo feminino. Quem manda na porra são eles, e não, eles não vão pedir para sair. Melhor ainda, eles serão fecundados, depois se tornarão feto, e se desenvolverão durante nove meses para se tornar fato.

Pensando em todo esse processo que te ajudou a chegar lá em uma época em que você só tinha cabeça e cauda, por que diabos depois de tudo isso a gente às vezes ainda para pra pensar se hesitaríamos ou não?

Eu nunca vou saber porque fui um dos 1% com energia potencializada para vencer a competição, mas sei que posso perder muita coisa se eu me focar nas coisas ruins do caminho e não arriscar nas que podem valer a pena. O problema não é nem hesitar por dois segundos, mas sim tudo aquilo que você pode perder por causa disso. Todos aqueles que podem passar na sua frente e te deixar pra trás.

Como espermatozoides, nós metemos as caras na competição pensando somente que no objetivo. Agora que já nascemos, vamos todos continuar correndo, superando as dificuldades e vencendo. Vamos crescer, cair, superar, amar, produzir espermatozoides, ter óvulos fecundados e envelhecer, mesmo que a vida seja muito mais que isso.

Acredito que fomos ejaculados com uma tendência enorme para arriscar nas coisas, e não vale a pena alimentar os bloqueios que criamos após algumas experiências.  Não valeria a pena hesitar por dois segundos e deixar o cara do lado entrar nessa loucura fantástica que é a vida. Não vale a pena nem continuar pensando demais e perder qualquer chance que você tenha agora na sua vida.

E quando falo de chances, não estou falando de viver e continuar vivendo, isso já é consequência de uma vitória que você teve lá atrás.  As chances que você encontra no seu caminho são algum tipo de presente infinito por ter se jogado de cabeça, e eu realmente acho que você, meu amigo, deve mesmo aceitar e fazer bom uso desses presentes.

Somos descendentes de espermatozoides campeões, e destinados a sermos vencedores desde que fomos ejaculados. Eu e você nos tornamos um fato, e agora que temos coração e cérebro, não podemos hesitar muito nesse caminho que nos dá a chance de ir para algum lugar fantástico!

…ou nascemos por acaso e estamos aqui sem propósito. Não tem como saber, na real.

Letícia Cardoso

Escreve desde que se entende por gente e pretende fazer isso pelo resto da vida. Gosta de observar pessoas, de abraços e de rir com toda a força que pode. Admite que sente tudo muito à flor da pele mesmo e não tem vergonha disso. Atende por <a>@lemione</a>

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