Falar em público, por definição, está conosco pelo mesmo tempo que a linguagem falada.

Instrução profissional para o discurso como uma ferramenta de persuasão é ligeiramente mais recente, mas só ligeiramente. Egípcios antigos recebiam educação formal para discursar, e nos séculos IV e III a.C. era o principal método para a resolução de conflito na Grécia ateniense.

Nos dias de hoje, na maioria das vezes pensamos em discursos como o campo dos políticos. (Apesar de, nessa era da internet, não é improvável que os políticos usem listas numeradas e conferências de imprensa de dois minutos para apresentar suas intenções.) Mas, na verdade, qualquer ‘discurso’ maior do que algumas sentenças se qualifica como um exercício de persuasão, desde que você esteja tentando convencer alguém — sem ser você mesmo — de algum ponto de vista.

Uma apresentação de venda numa sala de reunião é falar em público. Assim como uma explicação mais longa no bar sobre porque Hank Aaron é um batedor melhor que Barry Bonds. (Se bem que, se você está preparando seu discurso de baseball da mesma maneira que a sua lábia de vendedor, você talvez precise ajustar suas prioridades!). Mas os mesmos princípios sustentam as duas atividades — quanto melhor você for neles, mais convincente você será em ambos os casos, independente se você se preparou extensivamente ou se está improvisando à medida que as coisas se desenrolam.

Falar em público é tão velho quanto a linguagem falada.

Os três princípios

Centenas de milhares de palavras foram escritas sobre o assunto de falar em público, mas neste artigo vamos separá-las em três princípios:

  • Foco;

  • Retórica;

  • Apresentação;

Se você fizer o seu trabalho nessas três áreas, provavelmente irá causar uma boa impressão.

Todos os três fundamentos compartilham um tema em comum, e esse é o conselho mais importante que daremos a você:

Todos os princípios do discurso são melhorados pela preparação que você faz.

Quanto mais esforço você emprega antes do discurso, menos trabalho você tem durante.

Vamos olhar primeiro para a anatomia de uma boa apresentação, e depois nos aprofundarmos nos três pilares, um por vez.

Anatomia do discurso

Se você já teve que escrever uma “redação de cinco parágrafos” no ensino fundamental, parabéns! Você já sabe como estruturar um discurso.

Isso é um pouco de simplismo, mas a moldura geral para a maioria dos discursos é mais ou menos assim:

  • Abertura, incluindo uma declaração sobre a tese no geral.

  • Primeira parte de provas comprovativas e sua análise disso.

  • Segunda parte de provas comprovativas e sua análise disso.

  • Terceira parte de provas comprovativas e sua análise disso.

  • Conclusão, resumindo sua análise e reafirmando sua tese.

Ou, nas famosas palavras de Dale Carnegie: “Diga à audiência o que você vai falar, fale e depois diga a eles o que você falou”.

Se você assiste a longos discursos, verá que a maioria dos oradores segue esse formato de “cinco parágrafos”. Transcrito, algo como o Discurso sobre o Estado da União talvez tenha dúzias de páginas, mas ainda tem uma introdução e uma conclusão, com três seções gerais no meio: um perfil da política doméstica, um perfil da política externa e um calendário específico das prioridades do próprio presidente.

Link Youtube — Discurso sobre o estado da nação de Donald Trump.

Três partes de evidências não são obrigatórios. E nem toda "parte" necessita de uma análise separada. Você talvez abra a seção de seu discurso com uma citação, ou com uma anedota ou com um estudo científico, todos demonstrando o mesmo fato básico da teoria.

Tenha certeza que cada fato de embasamento esteja separado. Por exemplo, digamos que você está defendendo uma obrigatoriedade no setor alimentício para que restaurantes usem creme de leite de verdade, e não substitutos desnatados. Se você vai apresentar evidências que os substitutos não são saudáveis, que os restaurantes com creme de leite de verdade irão ter uma renda maior, e que uma indústria forte do creme de leite é bom para a economia nacional, cada um desses tópicos devem estar bem separados, ao invés de simplesmente jogar argumentos em cada pedaço de evidência durante todo o discurso.

À medida que você evolui como orador, torna-se possível desviar dessa estrutura básica. E há alguns casos em que essa estrutura não funciona de jeito nenhum (narrativas longas em primeira pessoa com o objetivo de entreter, e não persuadir, por exemplo).

Mas, para os iniciantes, e para a maioria das situações persuasivas, pense em “introdução, argumento um, argumento dois, argumento três, conclusão”.

Foco

O foco de um discurso é, em seu sentido mais básico, o assunto do mesmo.

Na verdade, é um pouco mais complicado do que isso, mas não muito. Se você sabe o assunto em questão, você já avançou bastante em direção a um bom discurso.  

O truque está em realmente conhecer o seu assunto — não só o tópico de maneira geral, mas especificamente o que você quer dizer sobre ele.

É o caso que você quer construir, e se você conhece o caso até pelo avesso, você fará um bom discurso. Se você está falando sobre um tópico mas não pensou direito em sua argumentação específica, estará em apuros.

De tópico para tese

A não ser que você esteja participando de um clube de oratória ou algo similar, não é provável que te peçam para discursar sobre “qualquer assunto”.

A maioria das situações de discurso são previsíveis. Você tem um tópico e um objetivo.

A chave para um bom discurso é saber como ir de um tópico para uma tese:

  • O tópico é uma categoria geral de interesse. “Os maiores rebatedores no baseball” é um tópico; assim como “o novo modelo de caneta esferográfica à prova de vazamentos”. É um assunto, e não uma opinião sobre o assunto.

  • A tese é um argumento específico que você está construindo. É um resumo do que você quer que o ouvinte saia acreditando. ‘“Hank Aaron era um rebatedor melhor que Barry Bonds” é uma tese. Assim como “Vale a pena atualizar suas canetas esferográficas”. Uma boa tese pode ser resumida numa única sentença ou num parágrafo pequeno, que irá ou não aparecer no texto do discurso em si.

O objetivo do discurso é ir de um tópico amplo para uma tese específica. Um discurso longo e complexo talvez apresente várias teses; a maioria dos discursos mais curtos foca somente num único argumento geral.

A pergunta-chave sempre deve ser: “Se meu discurso funcionar, o que as pessoas irão acreditar depois que ele acabar?”

Esta é a definição de 'saber claramente qual é o tópico do seu discurso'.

De modo geral, você precisa ter essa pergunta respondida antes de colocar a caneta no papel. Essa é a prova de fogo para a composição toda: palavras que ajudam seu argumento podem ficar; palavras que não adicionam nada ao caso são cortadas.

Conhecer sua tese antes da hora te impede de divagar e de falar sobre o tópico em geral. Informação sobre o assunto pode ser interessante, mas se não está avançando sua tese, então estão atrapalhando o caminho.

Quanto mais específica for sua tese, melhor você será em usar um tópico mais abrangente para tornar seu caso convincente. E lembre-se: nunca confunda o tópico com a tese em si.

Coletando evidências

“Evidência” nos dá a impressão de sala de tribunal, mas na retórica (falaremos disso depois) simplesmente significa qualquer coisa que suporta sua tese.

Evidência não é sempre factual. Uma citação de alguém famoso e inspiracional não “prova” nada, num sentido lógico, a não ser que essa pessoa se sentia daquela forma num período de tempo específico. Mas ela pode ser um recurso atraente que te ajuda a transferir a afeição da audiência por uma pessoa famosa para sua causa específica ou objetivo.

Em geral, a maioria das evidências se enquadram em uma destas três categorias:

  • Evidência factual: incluindo estatísticas, conclusões provadas cientificamente, declarações de registros históricos e qualquer coisa verificável como realidade crua. São poderosas porque não podem ser diretamente negadas, o que torna o argumento, no lugar, sobre interpretação. No entanto, evidências factuais em demasia ficam insossas, e se você tem muitos dados separados, fica mais difícil de elaborar um único argumento que abranja todos eles (sem deixar espaço para outras interpretações).

  • Evidência anedótica: é uma história ou histórias que sustentam sua alegação. Ela não tem a autoridade de um estudo estatístico ou ciência provada, mas pode ter um apelo mais pessoal. Dizer que “mais de quinze mil crianças foram feridas por armas de fogo em 2010” é uma evidência factual, enquanto dizer que “quando eu era criança perdi dois dedos num acidente com arma” é anedótica. Evidência anedótica não é tão confiável quanto a factual, mas pode ter um apelo pessoal mais poderoso para a audiência. É muito mais fácil de se relacionar do que com números ou estatísticas.

  • Opiniões de especialistas: não são nem factuais nem anedóticas. Em vez disso, você traz a opinião de outra pessoa, com a implicação de que elas estudaram o tópico mais profundamente. Citar Thomas Jefferson num argumento para aprovar um determinado projeto é uma maneira de sugerir tanto que Jefferson aprovaria o projeto quanto que ele é um especialista qualificado por causa de seu papel no início do governo americano. Evidências dessa natureza nem sempre sustentam nenhuma análise factual profunda, mas ela ajuda a apresentar sua opinião como algo compartilhado por especialistas qualificados, ao invés de simplesmente ser um produto de suas crenças pessoais.

Se possível, você deve querer uma mistura desses três tipos de evidência em seu discurso.

Se você não tem nenhuma evidência factual, talvez seja um osso duro de roer — mesmo quando se trata de algo tão subjetivo quanto “o melhor” rebatedor, você ainda deveria ser capaz de falar inteligentemente sobre médias de rebatidas e duração das temporadas, ou você vai parecer alguém que não fez sua tarefa de casa.

Por outro lado, se tudo o que você tem são números, as pessoas vão ver você como um sabe-tudo sem-graça. O toque humano de uma anedota pessoal ou o apelo de autoridade famosa/especialista te ajuda a tornar seus dados — e seu argumento — acessíveis.

Retórica

A ideia de estudar as palavras em si, e os métodos para torná-las mais persuasivas, é algo antigo. Exemplos de instruções de discursos persuasivos vêm desde o século XXII a.C., e foram descobertos em todos as regiões, do Egito, à Mesopotâmia e até a China.

Então o que é a retórica? É o método para estruturar e formar seu discurso a fim de torná-lo mais persuasivo.

Se você já “re-palavreou” uma frase para deixá-la mais fácil de entender, isso é retórica! Aplicar essa metodologia em seus discursos formais (e em seus discursos do dia a dia) pode fazer a diferença entre uma oratória persuasiva e uma que passa batido apesar de sua argumentação forte e lógica.

Como estruturar suas sentenças

É difícil expressar ideias complexas em frases curtas.

Infelizmente, esse também é o jeito mais efetivo, pelo menos se você não está falando com especialistas acadêmicos.

Persuadir uma audiência comum — a situação “pessoa na rua” – funciona melhor quando você usa uma estrutura similar a essa seção: várias frases curtas com espaço em branco entre elas.

(Quando você fala, é claro que as pessoas não conseguem ver o espaço em branco. Mas elas podem ouvi-lo se você faz uma pausa a cada frase ou quebra de parágrafo).

Além de serem curtas e sucintas, as sentenças de um bom discurso têm uma estrutura simples. Evite orações subordinadas – você quer que cada ideia se sustente por si só.

Caso esteja na dúvida, procure por vírgulas que você pode remover. Vírgulas não são universalmente ruins — seria horrível escrever sem elas —, mas elas são sinais de que você está enfraquecendo sua estrutura frasal. Por exemplo: “Uma pesquisa independente mostrou que usuários de Mac são de maneira geral mais felizes que usuários de PC” soa mais forte do que “Usuários de Mac são mais felizes do que usuários de PC, de acordo com uma pesquisa independente”.

Não tenha medo de revisar seu rascunho várias vezes. Mude as frases para eles ficarem o mais diretas possível. Há luga e hora para o ocasional floreio verbal (falaremos mais sobre isso na nossa seção sobre ritmo e ênfase), mas o grosso do texto devem ser sentenças que funcionam como declarações diretas e claras, mesmo quando você as tira de seu contexto.

Taí um cara que teve bastante chance pra fazer um bom discurso.

A arte da cadência

Cadência, num discurso, significa as pausas entre as palavras e frases. Se você não costuma falar em público, é seguro dizer que você não está parando o suficiente.

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A maioria dos oradores novatos tende a acelerar. Isso faz com que a fala acabe mais rápido, mas fica mais difícil para o ouvinte, que tem menos tempo para digerir cada ideia ou assimilar cada pedaço de evidência.

A cadência geral de um bom discurso deve ser ligeiramente mais lenta do que uma conversa. Um exemplo popular ocidental é falar como se você estivesse recitando o “Pai Nosso” ou uma oração similiar — contínua e comedidamente.

Você pode usar seu material escrito para controlar sua cadência até determinado ponto. Se você está lendo palavra por palavra do texto preparado, use as quebras de linhas em intervalos regulares como uma deixa para pausar, mesmo em lugares que você não precisaria de uma quebra de parágrafo se fosse somente um texto escrito. Se você estiver trabalhando com slides ou cartões, deixe cada ideia independente num quadro diferente para que haja uma pausa natural enquanto você passa para o próximo.

Procure colocar suas pausas mais longas depois de ideias complexas ou pontos importantes. Essas são as partes do discurso que você quer que a audiência passe a maior parte do tempo pensando. Um segundo ou dois de silêncio dá às pessoas tempo cerebral para processar. Você não precisa deliberadamente fazer um show de “dar um tempo para as coisas se assentarem” — uma pausa para uma respiração lenta é o suficiente.

A cadência pode funcionar nos dois sentidos, é claro — é bastante comum os oradores “evoluírem” seus apelos emocionais, aumentando tanto o ritmo do discurso quanto seu volume. Isso é feito quando o texto do discurso não se beneficia com um diagnóstico analítico profundo. Dados requerem um discurso lento e pausas para pensar; um apelo emocional é mais efetivo quando o receptor não para para examinar o conteúdo e, no lugar, confia no sentimento.

Discursos persuasivos tendem a fazer um arco cadenciado: eles começam devagar, enquanto o fundamento e a evidência são apresentados, depois aceleram, quando o orador faz seu apelo, e depois desacelera com a reafirmação da tese para dar à audiência tempo para digerir tudo que ouviram.

Ritmo e ênfase

Um dos aspectos mais técnicos do estudo da linguística é a medição do ritmo da fala.

O ritmo vem da combinação de sílabas e acentos na fala. É de óbvia importância para poetas, mas também é uma consideração para a prosa falada há muito tempo.

A maioria dos discursos casuais é arrítmica — não tem um padrão estabelecido.

Discursos preparados também serão arrítmicos, na maioria das vezes. Sentenças mais curtas parecerão mais rítmicas do que as longas, especialmente quando a maioria das palavras só tiverem uma ou duas sílabas, mas mesmo assim isso não é um padrão geralmente discernível.

Um bom orador pode fazer disso uma vantagem ao adicionar ritmo a ideias ou declarações importantes.

Uma maneira comum de se fazer isso é repetir construções para oferecer várias frases com a mesma estrutura. O discurso de Winston Churchill, “Nós lutaremos nas praias”, é um bom exemplo disso:

“Lutaremos nas praias, lutaremos nas pistas de pouso, lutaremos nos campos e nas ruas, lutaremos nas colinas; nunca iremos nos render.”

Ao introduzir várias ideias com o “lutaremos”, Churchill constrói um ritmo que os ouvintes sentem como uma pressão crescente. Quando ele “alivia” a pressão ao sair da estrutura, enfatiza a importância do conceito “nunca iremos nos render”.

Outro dispositivo comum é introduzir passagens importantes com uma seção de prosa iâmbica. “Iambo” se refere à uma sílaba átona seguida de uma sílaba tônica; quando você combina várias em sequência (como no famoso pentâmetro iâmbico de Shakespeare, que introduz iambos em sequência de cinco), o resultado é algo similar ao batimento cardíaco humano. A Declaração da Independência dos EUA usa uma estrutura iâmbica para introduzir aquela que passou a ser sua mais importante frase:

“We hold these truths to be self evident, that all men are created equal, that they are endowed by their Creator with certain unalienable Rights, that among these are Life, Liberty and the pursuit of Happiness.”

A frase inicial é iâmbica: “We HOLD these TRUTHS to BE self-EV-i-DENT.”

Qualquer ritmo contínuo dará cadência ao discurso, e criará um caminho natural para o ponto que o orador deseja identificar. Estrutura iâmbica é a mais comum e um bom ponto de partida para um novato que deseja experimentar o uso deliberado do ritmo. Tenha em mente, no entanto, que um pouco é o suficiente — ritmo demais pode tornar um discurso musical demais.

Use o ritmo para ressaltar um ou dois dos pontos mais importantes num discurso e deixe por isso mesmo. A audiência irá sentir seu efeito sem notá-lo.

Apresentação

O fundamento final para falar em público é a apresentação: a aparência física de seu discurso.

A apresentação é levada mais e mais em conta esses dias, e com boas razões — com câmeras em todos os celulares, qualquer momento público é, potencialmente, um momento gravado. Mesmo uma série de observações curtas e espontâneas podem ser assistidas inúmeras vezes e avaliadas.

É clichê afirmar que o que você fala não importa tanto quanto como você fala, mas os clichês são clichês por um motivo. Há verdade neles.

Se uma boa apresentação não pudesse amparar um argumento ruim, vendedores de carros usados não teriam um emprego. Nem todo mundo será cativado pela elocução excelente — mas algumas pessoas sim, e, mais importante, várias pessoas serão desencorajadas por uma elocução ruim mesmo se o argumento for excelente.

Usando auxílios visuais

Tudo o que você faz quando fala é um auxílio visual. Isso inclui suas roupas, seus gestos e até mesmo suas expressões, assim como qualquer objeto físico que você usa (como uma apresentação de slides ou uma lousa).

Seus auxílios visuais devem reforçar sua tese central. Se eles não o fizerem, pode-os da mesma maneira que você podaria palavras inúteis.

A maioria das frases em nosso discurso não precisam de gestos acompanhando-as. Mantenha suas mãos relaxadas e estendidas no púlpito, se você tem um, ou confortavelmente ao seu lado se você não tem. Só erga suas mãos se você precisa enfatizar algo, e tenha certeza que elas estão “dizendo” a mesma coisa que você. Bill Clinton, por exemplo, era um especialista em estender as mãos com as palmas para fora quando ele falava sobre união ou convergência, mas trazia as mãos ao peito quando falava de luto ou compaixão. Os gestos não só enfatizavam as sentenças, eles as personificavam.

Auxílios visuais menos pessoais seguem a mesma regra. Uma apresentação de slides pode ser útil, mas qualquer um que já teve que aguentar uma apresentação de PowerPoint sabe que elas geralmente são só um enchimento. Se você não tem uma informação visual específica que você precisa transmitir — dados num gráfico, digamos, ou fotografias que provam o seu ponto —, provavelmente estará melhor sem slides.

Ao introduzir um auxílio visual, não fale por cima. Diga à audiência o que você irá mostrar, apresente o auxílio visual e pare por um momento. Dê tempo ao cérebro das pessoas mudar para o processamento visual, deixe elas digerirem, e aí volte para o discurso. Use uma frase curta de preenchimento, como “Agora que vocês viram isso…”, para puxá-los de volta para o modo de escuta antes de apresentar ideias adicionais.

Em geral, mantenha os auxílios visuais no mínimo e pense bem no que eles “dizem”. Se eles estão adicionando força ao seu argumento, vá em frente e os use, e dê a eles o ênfase apropriado. Mas não encha o discurso com comunicações visuais desnecessárias — isso só é uma distração para o que você está dizendo.

Um bom terno e alguns gestos bem-planejados quase sempre farão mais por você visualmente do que o PowerPoint.

Como ler o espaço e o público

Mesmo um novato pode geralmente dizer se ele ‘tem espaço’ ou não. O nível de energia e atenção normalmente são bastante evidentes na linguagem corporal das pessoas.

Se você observa uma multidão e consegue ler o que ela está sentindo, isso te diz o que o seu discurso precisa fornecer: uma multidão tumultuada precisa de uma válvula de escape para sua energia; uma sonolenta precisa de algo que as faça acordar, e por aí vai.

Aprenda a olhar para o modo como as pessoas estão em pé ou sentadas. Se elas estão inclinadas para frente e seus corpos estão relativamente imóveis, você tem a atenção delas. Inclinadas para trás, inquietos e, na pior das hipóteses, não olhando para você, significa que você não os tem.

Leve a situação em consideração ao ler a plateia. Se você é o terceiro orador num evento ao ar livre do inverno, as pessoas estarão se mexendo porque estão com frio, independentemente se você tem a atenção delas ou não. (Você também ganhará muitos pontos pela brevidade com essa plateia.)

A atenção desviada pode ser atraída de novo, mas só se você souber porque a plateia está dispersa.

Esteja pronto para adaptar seu estilo no improviso se necessário. Seu instinto talvez seja de adicionar mais volume e energia ao discurso, mas essa nem sempre é a abordagem correta. Isso chama a atenção, mas também pode ser desagradável para as pessoas que estão se sentindo cansadas, levando-as à irritação.

Iguale sua energia à da sala e, se precisar, aumente lentamente, ao invés de gritar para plateias quietas. Uma audiência vacilante precisa de um discurso claro e simples mais do que tudo.

Se você fez a preparação direito, tudo que você precisa fazer é achar o nível de intensidade que a plateia está procurando e entregar suas considerações nesse lugar ideal.

Saiba se está falando com operários num campo de futebol ou com presidentes na ONU.

Prática: Você precisa mais do que pensa

A chave principal para a apresentação não é linguagem corporal ou PowerPoint ou qualquer coisa do tipo.

É prática.

Praticar discursos parece algo extremamente não natural. Simplesmente é estranho quando você fala sozinho no seu quarto ou escritório. Adicione uma grande quantidade de insegurança — um bom treino significa que você está, no fim das contas, esquadrinhando a si mesmo em busca de erros — e você pode ver porque a maioria das pessoas acham ensaiar discursos uma experiência extremamente vergonhosa.

Infelizmente, é a única maneira realmente efetiva de aprimorar suas técnicas de apresentação.

Ensaios ao vivo te dão tempo para você descobrir quais são seus pontos fortes e onde o seu discurso está mais fraco. Seja meticuloso e brutal — em parte das vezes isso é o mínimo para um bom discurso, e você irá achar razões para revisar a maioria deles.

Está tudo bem parar e tomar notas nas primeiras vezes se chega a um ponto que você sabe que quer mudar, mas você deve passar gradualmente para um ensaio em que não haja interrupções. Você não quer desenvolver o hábito de parar para se corrigir — não será uma opção numa apresentação ao vivo.

Quanto treino é o suficiente? Isso dependerá de você, do seu discurso, do seu objetivo e de seus padrões. Mas, de maneira geral, se você não sabe as frases-chave os gestos acompanhantes de cor, você ainda não chegou lá. Os momentos mais importantes devem estar completamente internalizados antes de subir ao palco.

Conclusão

Para reiterar o que dissemos no começo: o sucesso de um discurso está no trabalho que você faz antes.

Seu argumento, sua escolha de palavras e sua elocução estão todos determinados antes do tempo. Mesmo num discurso improvisado, o sucesso do mesmo irá depender do quanto você está preparado para falar sobre esse assunto — o quanto você conhece o material de fundo e o quão coerente é o ponto de vista que você tem a apresentar

Os três princípios do discurso são:

  • Foco: o argumento central e a evidência coletada para sustentá-lo;

  • Retórica: a estrutura das palavras, frases e parágrafos;

  • Apresentação: sua elocução e os elementos visuais do discurso;

Quanto mais você pensar e revisar seus princípios, melhor será o seu discurso.

Tome o tempo que precisar — mas somente o tempo que precisar. No final do dia, se você está se preparando por horas antes de ir para o bar só caso você precise defender a reputação de Hank Aaron como rebatedor, você provavelmente precisa de um tipo de conselho que esse guia não fornece.

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Traduções é uma série sob curadoria de Breno França publicada semanalmente às quartas-feiras.

A dessa semana foi publicada originalmente em inglês no excelente e altamente recomendado The Art of Manliness e traduzido para o português por Julia Barreto.

Antonio Centeno

Fundador do <a>Real Men Real Style</a>