O que é o vício em masturbação e/ou em pornografia?
Com o aumento do acesso à internet e conteúdos eróticos abundantes e gratuitos, estamos vendo mais homens relatarem que se sentem viciados em pornografia.
Na nossa pesquisa sobre "O silêncio dos homens", 24% dos homens se autodeclararam viciados em pornografia, numa amostra com mais de 40.000 pessoas.
Em artigo do Diego Villas-Bôas da Rocha, especialista em sexualidade humana da USP, o autor comenta que o acesso a pornografia online aumentou nos últimos anos, incluindo o uso abusivo da pornografia on-line, o qual pode impactar em disfunção erétil e no desejo hipoativo, por exemplo.
O vício em masturbação está ligado ao vicio ou consumo compulsivo de pornografia. Os vídeos pornô são conteúdos eróticos que envolvem diversas problemáticas (abuso de atrizes, exploração de imagens não autorizadas, violência não consentida, cultura do estupro), o que tem motivados homens (viciados ou não) a romperem com este tipo de prática.
[Assim como o consumo de álcool, cannabis e até de fastfood, acreditamos que é possível ter uma relação recreativa, prazerosa e positiva com a masturbação e, inclusive, com a pornografia (vale ouvir este podcast que apresenta alternativas positivas de produção pornográfica). Não queremos recriminar a prática, mas, sim, oferecer ferramentas para aqueles que tem enfrentado dificuldades relacionadas ao uso excessivo.]
É vício ou compulsão? E qual a diferença?
No geral, psicólogos entendem o vício em pornografia como uma compulsão: um comportamento que se repete excessivamente com a função de aliviar uma tensão ou evitar aflições.
Uma possível causa para as compulsões é a ansiedade (que também pode estar relacionada a disfunção erétil e ejaculação precoce). Além disso é que comum que depois repetir o comportamento compulsivo, masturbar-se, a pessoa sinta culpa, o que aumenta ainda mais a espiral de ansiedade.
Essa relação entre compulsão e ansiedade é um dos motivos pelos quais livrar-se de um vício não é uma tarefa tão simples como "parar e pronto".
O comportamento compulsivo se torna alívio para uma tensão e, impor restrições muito rígidas que, ao evitar a compulsão, criam uma nova tensão e tiram os momentos e prazer, pode-se gerar ainda mais ansiedade, desencadeando recaídas sucessivas ou até mesmo outro tipo de comportamento compulsivo.
Trago isso para lembrar de como é importante de ter o acompanhamento de um psicólogo ao enfrentar um comportamento compulsivo. Os tratamentos comportamentais vão avaliar, caso a caso, e então o profissional vai definir:
-Que estratégias vão te ajudar a parar de repetir a masturbação?
-Que estratégias vão te ajudar a lidar com os elementos da sua vida que estão gerando a ansiedade e necessidade desse vício?
– Que estratégias vão te ajudar a enfrentar possíveis consequências da compulsão (como disfunção erétil, ejaculação precoce ou falta de desejo pela interação da vida real)?
Sim, vamos de dar sete dicas práticas para você pensar em como aplicá-las no seu dia a dia, mas não podíamos fazer isso, sem garantir que você entenda que procurar um psicólogo é essencial.
O passo 1 e 2 é essencial pra que cada um pense sobre o seu caso e o que é melhor para si, tendo estas respostas em mente, veja dos outros exercícios, quais fazem sentido aplicar na sua rotina.
1. Entenda se você tem hábito ou compulsão por masturbação
Palavra de ouro nesse texto: caso é um caso. É possível que várias pessoas se masturbem regularmente e queiram reduzir esse hábito, mas que não se encaixem em quadros de vício ou compulsão.
Separamos algumas perguntas que, se suas respostas foram positivas, indicam sinais de compulsão.
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Ao ficar sem masturbação, você sente irritado, ansioso e triste (sintomas de abstinência)?
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Ao longo do tempo, você percebe que a frequência de masturbação tem aumentado cada vez mais?
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Você sente que não consegue controlar, mesmo quando tenta, a quantidade de vezes que se masturba?
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Seu desejo/interesse por atividades sexuais com outras pessoas tem diminuído?
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Você mente para as pessoas sobre a frequência com que se masturba?
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Você usa a masturbação para evitar sentimentos negativos, como culpa, desamparo, ansiedade?
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A frequência excessiva da masturbação te coloca numa posição de risco de perda de emprego ou de um relacionamento?
Estas são algumas perguntas chaves a se fazer para entender se você tem uma relação habitual com masturbação, ou se é uma relação compulsiva. Lembrando que só quem pode te diagnosticar com certeza é um psicólogo.
2. Reflita: que mudanças fazem sentido para você?
Bom, pensando nas perguntas a cima, você está se vendo como alguém compulsivo, ou como alguém que quer mudar um hábito?
O vício em masturbação depende em grande medida do consumo pornográfico. Portanto, você conseguir, tente definir se você:
A. Gostaria de parar ou de reduzir a frequência da masturbação?
B. Gostaria de parar de consumir pornografia e de masturbar-se ou gostaria de se masturbar ocasionalmente sem o estímulo em vídeo?
Uma terceira pergunta seria entender
C. Quais são os motivos pelos quais você quer parar?
Estas respostas vão ajudar a você e ao profissional que te acompanhar a pensar em como lidar com o caso de um jeito que faça sentido pro seu contexto. Lembrando que não tem resposta absoluta como "cortar o mal pela raíz".
Pode ser que para pessoas em alguns casos de compulsão, seja ideal parar com os dois pornografia e masturbação por algum um tempo. Também pode ser que, para outros, a resposta seja cultivar uma relação mais controlada com a masturbação.
3. Procure ajuda profissional
Sim, estou dizendo de novo. Psicólogos são os profissionais que vão te ajudar a identificar a raiz do seu problema e te guiar por uma combinação de práticas e aprendizados faça sentido para você lidar melhor com os problemas que tem enfrentado
.Sabemos que nem sempre é fácil ou acessível conseguir tratamentos. Se você tem possibilidades de pagar por um psicólogo, não tenha receio ou vergonha de pedir ajuda, pense que isso vai ser um investimento para uma vida sexual com mais significado e realização para você mesmo.
Se possível, procure um psicólogo especializado em terapia sexual. Terapias comportamentais ou cognitivas-comportamentais são recomendadas.
Se você não pode bancar, procure na sua cidade serviços de atendimento gratuito em centros universitários.
4. Controle ou bloqueie o acesso a sites
Se achar que deve romper com o acesso a conteúdo erótico, uma ferramenta que pode te ajudar nessa missão é instalar aplicativos que controlem a quantidade de tempo ou bloqueiam por completo o acesso a site eróticos.
5. Mapeie seu comportamento
Montar um diário de anotações pode ferramenta muito útil para você entender seu comportamento e o que te leva para o comportamento que está querendo evitar:
O site comoparar.com.br tem um espaço para diários como este.
Você pode anotar quando sente mais vontade, os horários, os motivos, como você se sente. Assim você aprende mais sobre o que te leva a fazer isso e como romper estes ciclos.
6. Veja se vale a pena fazer um Reboot
Reboot seria como apertar um "reiniciar" no seu modo de lidar com a masturbação. É um período de completa abstinência de pornografia e estímulos sexuais artificiais até que seu cérebro volte ao que seria um funcionamento menos sobrecarregado de estímulos e expectativas. O tempo mínimo indicado para essa vivência é de 90 dias.
Conheça o movimento Reboot e veja se faz sentido para você.
7. Encontre outras atividades prazerosas
Se cada caso é um caso, elaboramos esta lista observando vários casos e relatos disponíveis na internet.
Como coloquei no começo, cortar uma compulsão é especialmente difícil porque cria uma restrição que aumenta a ansiedade e a busca por "alívio".
Nesse sentido, encontrar uma atividade que ocupe o espaço da compulsão e que também te traga alegria e relaxamento pode ser uma boa estratégia.
Por exemplo, em um caso de estudo clínico, o rapaz de 27 anos que se masturbava todos os dias por duas horas ao chegar do trabalho, passou a praticar corrida nesse mesmo horário.
8. Tente reduzir a ansiedade
Parecido com o item anterior, aqui podemos pensar não só em práticas que sejam um hobby prazeroso, mas em ferramentas que ajudem no controle da ansiedade, no autocontrole e no bem estar diário.
A terapia entraria aqui novamente, assim como a yoga ou meditação.
9. Reconstruindo conceitos sobre sexo e prazer
Anos de pornografia ou de vício em masturbação podem criar expectativas irreais, desejo por modelos inatingíveis ou por violências não-consensuais, além das pressões sobre certos tipos de performances masculinas.
Em outro caso clínico, encontramos a história de um rapaz que não conseguia ter ereções com a vida real e que precisou reaprender a imaginar a si mesmo como alguém que pode participar do ato sexual, sendo mais que um observador.
Repensar estes modelos e reconstruir a relação com o erotismo pensando em referências reais, compreensivas e possíveis, também é peça chave para lidar com as consequências do vício em masturbação e/ou pornografia.
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Despertou em mim a descoberta intuitiva de que a masturbação é o grande hábito, o “vício primário”, e que é apenas como substitutos e sucedâneos dela que outros vícios — álcool, morfina, o fumo e coisas parecidas — adquirem existência. (Sigmund Freud, 1897).
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