Em discussões sobre racismo, de vez em quando me desafiam:

"Alex, não é um fato inquestionável que a maioria dos criminosos são negros?"

Não, não é. Nem perto disso.

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As pessoas ricas e branquinhas com quem cresci, no eixo Morumbi-Leblon, cometiam regularmente uma série de crimes:

Compravam e usavam drogas, faziam abortos, dirigiam bêbadas, batiam nas esposas/namoradas/amigas, brigavam em ruas ou boates, cometiam fraudes contra seguradoras, roubavam o governo de todas as maneiras possíveis e imaginárias, sonegavam imposto de renda, corrompiam agentes do poder público, cometiam assassinato.

Com exceção do último, esses foram apenas os crimes que eu testemunhei minhas pessoas amigas cometerem ou que elas admitiam abertamente, sem culpas nem vergonha, na mesa do bar.

Imagino que também cometessem outros crimes dos quais talvez se envergonhassem.

Imagino que outras pessoas privilegiadas do resto do Brasil não sejam lá muito diferentes.

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Como disse Hélio Luz, então chefe de polícia civil do Rio de Janeiro, no documentário "Notícias de uma guerra particular" (1999):

“A sociedade não quer uma polícia honesta, porque no dia em que a polícia for honesta, o filho do banqueiro e do juiz será preso da mesma maneira que o jovem favelado.”

(Veja o filme online aqui; ou veja a entrevista completa de Hélio Luz.)

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Então, para responder à pergunta, eu diria que o fato inquestionável é que a maioria das pessoas presas por crimes são negras.

Em um país racista como o nosso, não há nada surpreendente nesse fato.

Aliás, ele é um dos fatos que prova e demonstra o nosso racismo estrutural.

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Um exemplo: pesquisas nos Estados Unidos, um país quase tão racista quanto o nosso, indicam que tanto pessoas brancas quanto negras usam maconha nas mesmas proporções… mas só as negras vão presas por porte de maconha.

Leia também  Como usar as mídias sociais com atenção

Por que será?

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Dois links sobre o Brasil, sobre o racismo da Guerra às Drogas:

— Por trás da barbárie nas prisões: o racismo vive no “combate ao tráfico de drogas”

— Política de drogas no Brasil é dicotômica, racista e estereotipada

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Ilustrações originais por Flávia Tótoli. Confira o trabalho dela aqui e aqui.

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Imersão "As Prisões"

As próximas imersões "As prisões" vão acontecer em Areias, SP (a meio caminho entre Rio e São Paulo) e em Viamão (a 20km de Porto Alegre), nos meses de junho, outubro e novembro de 2017.

Para saber mais e se inscrever, assista o vídeo abaixo ou clique aqui:

Link Youtube | imersão "as prisões", de alex castro.

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Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu