Todo mundo tem heróis.
Pode ser um irmão mais velho que, quando você era moleque, conseguia passar aquela fase foda do Alex Kidd e te ensinava a lição de matemática. Também pode ser o seu pai, que chega em casa ao anoitecer com a maleta e a roupa do trabalho e que promete um passeio de carro no próximo sábado. Enquanto ele dirigia, mostrava como mudar as marchas.
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Conforme você cresce, mais e mais modelos masculinos aparecem no seu caminho. Pessoas que inspiram coisas impressionantes. Que fazem aquilo que morremos de vontade de fazer.
Um dia você vai pra escola e começa a conhecer as pessoas que fizeram diferença na história. Seus heróis de carne e osso deixam de ser do meio familiar. Você se identifica com cada um desses personagens históricos, simpatiza, deseja um dia ser igual a esses caras.
Fica puto da vida com o desgraçado que entregou Tiradentes e admira a pintura dele no livro, em pose digna, pronto para morrer feito homem. Vê na resistência pacífica de Gandhi a mesma determinação e poder de mudança do Vandré, com seu “Pra não dizer que não falei das flores”. Sente um puta arrepio na espinha quando escuta “Que país é esse” cantado pelo Renato Russo. Imagina como era difícil a época da ditadura que viveram o Nascimento – o Milton, não o Capitão – e o Buarque. Sente algo quando ouve “Cálice”.
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Percebe que tem alguma coisa em comum neles todos, alguma coisa que você queria ter também. Você fica feliz quando vê nos jornais os estudantes chilenos saindo às ruas por uma educação melhor e quando fica sabendo que os rebeldes que lutam na primavera árabe derrubam mais um ditador.
Mas mesmo com as denúncias do Wikileaks mostrando todos os podres do Araguaia e os excessos americanos, mesmo com hackers e ativistas mascarados dando o sangue para ajudar Assange ou alguém que precisa em hospital, parece que ainda falta alguma coisa.
Falta você
Você olha nas ruas e vê pessoas em situação de extrema pobreza. Vê hospitais lotados e pessoas morrendo nos corredores. Vê seu irmão sem aula de Física por quase um ano na escola pública.
Nessa hora, você quer fazer algo, mas não tem ideia de como fazer a diferença. Quer sentir o que aqueles homens de verdade – os heróis – sentiram. Quer ser também um herói. Mas olha no espelho e se sente de mãos atadas. O que este refletido pode fazer?
Nossos heróis têm algo em comum. São homens simples que fizeram a diferença, que disseram o que era para ser dito, fizeram o que devia ser feito. Muitos destes heróis pagaram com perseguição, exílio, e mesmo com a vida, para que hoje você não precise se arriscar tanto para lutar pelos seus direitos. Essa luta pelos direitos leva um nome: cidadania.
Hoje em dia, existem vários jeitos de fazer a coisa certa. Não precisamos pegar umas facas e sair por aí matando parlamentares usando a máscara do V de Vingança. Pra agir feito homem de verdade, não precisamos voar com uma cueca por cima da calça e capa vermelha.
Nossos poderes não são super, mas são muitos
Pequenas coisas que estão ao alcance de todos podem mudar significativamente a sociedade. E assim deixamos nossa marca na História.
O Ministério Púbico é o órgão responsável pela defesa dos interesses da sociedade, principalmente contra abusos do poder público. É uma instituição independente. Por isso, se você se sentir lesado por qualquer um dos três poderes, procure um promotor de justiça para orientação e defesa.
Como acionar: Você pode procurar a ouvidora do MP. Eles te designarão um ouvidor para entender qual é o seu problema e qual promotor é adequado para ajudá-lo. Uma alternativa a isso é ligar nos plantões jurídicos. Um promotor lhe atenderá pessoalmente e você pode conversar com ele para ver o que pode ser feito para resolver seu caso. Uma terceira opção é aparecer lá de gaiato. Acredite, sou testemunha de que você será muito bem atendido.
Quando acionar: Sempre que você sentir que alguém está abusando do poder para ferir o interesse social. Pode ser a água da companhia de distribuição que você desconfia que não esteja tendo o tratamento adequado. Pode ser a escola do seu bairro que não tem merenda todos os dias para as crianças. Ou ainda um policial que abusou da autoridade e lhe agrediu sem que você tenha feito nada. Ou o prefeito que não explica a porra do preço da passagem do ônibus… Os exemplos são infinitos.
Lá ficam os representantes de um determinado município – ou seja, os vereadores. Eles são responsáveis por fiscalizar a prefeitura e legislar sobre os assuntos de interesse da sociedade local.
Como acionar: As câmaras municipais têm sites na internet e também são abertas ao público. Em São Paulo, por exemplo, existem iniciativas como o Parlamento Jovem, onde adolescentes do ensino fundamental fazem as vezes de vereadores por um dia e votam projetos de lei. Um cidadão comum pode também falar em plenário e os representantes terão que ouvi-lo. Um jeito eficiente de fazer isso é procurar um vereador de oposição ao partido do governo – ou seja, contra quem provavelmente você quer prestar queixas. Na experiência que tive, fui bem atendido , mas demorou um pouco.
Quando acionar: Procure os vereadores para propôr um determinado projeto de lei ou para fazer denúncia de algo que esteja acontecendo no seu município. Um exemplo é alguma medida da prefeitura que prejudicou muito o seu bairro, a falta de obras públicas de saneamento ou cuidados com escolas, praças, monumentos ou qualquer patrimônio público.
3. Grupos
Na sua universidade certamente existem movimentos de defesa dos interesses estudantis. É um bom primeiro passo para formar cidadãos participativos e os resultados você vê de perto. Acompanhe as reuniões do centro acadêmico e apareça nos debates que sempre acontecem. No caso de quem está no ensino médio, participe de grêmios estudantis. Levem-se a sério e não esperem tratamento menor que esse.
Quando houver manifestações no mundo real, apareça . Isso não arranca pedaço e há quem lute pelas mais diversas causas: investimento em educação, negação à construção da usina de Belo Monte, expulsão de parlamentares, entre outras tantas. Para quem se interessar, dia 7 de setembro haverá vários manifestos simbólicos ao redor do Brasil. Eles serão uma forma de protesto contra a corrupção generalizada no país. Mesmo que não se trate de uma denúncia específica, vale para reunir pessoas com ideais parecidos.
Agora é com vocês. Convido os leitores a mostrarem suas opiniões e propôr meios de fazer a diferença.
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