O artista plástico brasileiro Paulo Nazareth acabou de caminhar de Belo Horizonte até Nova York. Foram seis meses e quinze dias.

Segundo reportagem da Folha, ele não lavou o pé durante todo o percurso, para levar um pouco da poeira da América Latina para os EUA. Só lavou os pés no rio Hudson.

Taí o artista

O feito de Nazareth é parte de um projeto artístico, mas as pessoas costumavam andar enormes distâncias simplesmente para chegar em seu destino. Caminhar é o mais antigo meio de transporte da humanidade.

O homem chegou nas Américas pelo Estreito de Bhering e, em menos de mil anos, completamente a pé, colonizou todas as Américas.

Não precisam acreditar em mim: bastar ler os gibis do Asterix. Quase todas as viagens que ele e Obelix empreenderam foram a pé.

O filósofo e escritor Jean-Jacques Rousseau morava em Genebra e, sempre que tinha que ir a Paris, ia caminhando — uma distância de 500 km, mas ladeira abaixo. A volta não sei se Rosseau fazia a pé também.

Na verdade, pensando em sua saúde física e mental, eu te sugeriria sempre morar perto do trabalho. Se você mora na zona oeste de São Paulo e aceitaria um trabalho na zona norte, mesmo significando, digamos, três horas por dia no carro, mas não aceitaria um emprego em Limeira, porque é longe demais, então claramente você tem um raio de quilômetros em sua cabeça dentro do qual é factível trabalhar.

Mas eu te pergunto: é mesmo?

Não valeria a pena procurar outro trabalho — já que esse é tão longe? Não valeria a pena vender sua casa e comprar outra mais perto? Ser adulto também é saber abrir mão.

Já falamos sobre isso aqui no PapodeHomem, um trajeto curto casa-trabalho é um dos principais indicadores de felicidade.

Um homem teria que ganhar um total de 40% a mais num trabalho para compensar um tempo mais longo no trânsito. E, ainda assim, as pessoas frequentemente escolherão a maior casa em detrimento da menor e da possibilidade de andar até o trabalho. Por quê? Eles cometem um “erro de ponderação”, que é explicado pelo autor Jonah Lehrer e pelo psicólogo Ap Dijksterhuis:
“Suponha duas opções de moradia: um apartamento de três quartos localizado no centro da cidade, a 10 minutos do trabalho, ou uma McMansão de cinco quartos no subúrbio, a 45 minutos. As pessoas pensarão sobre essa troca por um bom tempo”, diz Dijksterhuis.
“E a maior parte delas escolherá a casa maior. Afinal de contas, um terceiro banheiro ou um quarto extra são muito importantes para quando os avós vêm passar o Natal, e dirigir duas horas todo dia não é tão ruim assim”.
O que é interessante, segundo Dijksterhuis, é que quanto mais tempo as pessoas passam deliberando, mais importante aquele espaço extra se torna. Eles vão imaginar todo tipo de situação (uma grande festa, jantar de ação de graças, mais um filho), que tornará a casa suburbana uma necessidade absoluta. Enquanto isso, a aflição do trânsito parecerá mais e mais insignificante, ao menos quando comparada à atração de um banheiro extra.
Mas, aponta o psicólogo, o raciocínio é exatamente o inverso: “O banheiro extra é um adicional completamente supérfluo durante pelo menos 362 ou 363 dias por ano, ao passo que um longo percurso se torna um fardo depois de um tempo”.

Pensa assim: se você escolheu essa casa, longe do seu trabalho, porque ela tem um quintal ou um quarto de hóspedes, e se essa casa linda e longe te faz passar todo dia duas horas A MAIS no trânsito, será que vale mesmo a pena? Duas horas a mais no trânsito todo dia… por um quintal que você usa quando? Um quarto de hóspedes útil quantas vezes por ano?

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Andar pode ser um meio de transporte factível ou é puro lazer?

O nosso alcance é impressionante. Pense em quanto tempo se demora para percorrer, de carro, 6km na cidade de São Paulo na hora do rush. Pois bem, 6km é uma caminhada super tranquila de uma hora.

Quando era moleque, no Rio, eu morava na Barra e estudava no IFCS, no centro. Uma distância de 36 quilômetros. Algumas vezes fiz o percurso da volta a pé. Saía do IFCS ao meio dia e vinha andando. Centro, Lapa, Glória, Botafogo. Nunca me senti tão próximo da minha cidade.

Em três horas, eu chegava ao Mirante do Leblon e dava uma descansada antes da parte realmente punk da jornada: a avenida Niemeyer e o Joá. Na Niemeyer, andando por cima da mureta, o mar à minha esquerda, eu tinha que parar e firmar os pés sempre que vinha um ônibus ou caminhão. Mesmo com os meus cem quilos, se estivesse com um dos pés levantados, o deslocamento de ar poderia me jogar lá embaixo.

Como nunca morri, chegava sempre em casa lá pelas seis da tarde, bem a tempo de ver o pôr-do-sol na praia. 36 km em seis horas e meia. Sem fazer esforço físico algum. Passeando.

Link Vimeo | Cristoph Rehage andou 4500km pela China, rumo à Alemanha, durante um ano.

Navegar não é preciso, caminhar sim. Para onde você anda?

Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu