Você deve saber o quanto pode ser sacrificante a rotina de estudos para uma prova de vestibular. Estudar durante um ou mais anos, com a pressão de imaginar que, sem aquilo, sua vida provavelmente estará arruinada. Isso é o mínimo sobre o que pode significar o ENEM para muitas pessoas.
Mesmo diante desse sacrifício, imprevistos acontecem. Por ignorância, por acidente, falta de atenção ou leviandade. Qualquer que seja o motivo, estamos sujeitos ao fato de que todo esse esforço pode ir pelo ralo, de uma hora pra outra.
Ok, se ninguém morrer, outras provas virão. Não é exatamente o fim do mundo – por mais que imaginar a espera de um ano inteiro por uma nova chance já me tire o fôlego.
É assustador observar, novamente, como nós conseguimos comemorar e rir da desgraça alheia, sem fazer ideia de que temos pessoas do outro lado, lendo e sendo impactadas pelas nossas palavras.
Não sabemos ficar calados, não conseguimos nos colocar no lugar do outro, nem mesmo se ela está sendo mostrada nitidamente desesperada, chorando, exausta, totalmente rendida. É de assombrar como é prioritário para nós dar uma de espertinhos e arrancarmos algumas risadas, seja qual for o motivo.
A gente está ficando maluco e não está percebendo.
Uma pessoa atropelada por atravessar a rua, tamanha a pressa para chegar a tempo para a prova. Uma mulher agarrada à grade, tentando pular para dentro do local. Seguranças bloqueando a passagem, enquanto são empurrados por uma candidata. Um garoto derrotado, de cabeça baixa e mão na cabeça olhando para seu cartão de inscrição. Fotógrafos carniceiros ao redor da moça que chora ao telefone.
As nossas risadas simbolizam a forma como estamos tratando a vida das pessoas.
Me desculpem, isso não tem graça.
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