Limpar seu armário, esvaziar sua caixa de entrada, colocar as coisas no lugar onde elas “pertencem”.

Há alguns anos, eu trabalhei em uma agência de webdesign como gerente de produto.

A parte que eu mais amava era trabalhar em produtos com nosso time de design e clientes. Infelizmente, isso era apenas 10% do trabalho que eu tinha de fazer.

A maior parte do tempo estava tentando controlar o constante fluxo de coisas – fazendo notas, procurando arquivos e tentando me manter atualizado com as novidades tecnológicas.

Eu estava mentalmente exausto.

Ia para casa sentindo que não tinha realizado coisa alguma.

Quando deixei a agência e comecei o oomf, queria corrigir a maneira como abordava o consumo na minha vida.

Nos últimos anos, descobri maneiras de reduzir o ruído das coisas ao meu redor para que pudesse me focar na criação e tivesse mais tempo para o que realmente importa.

O último ano tem sido o mais produtivo da minha vida e devo bastante ao entendimento da importância de diminuir o quanto consumo e criar formas de evitar bagunça.

Como a bagunça acontece

Você coleciona objetos por uma variedade de razões – talvez você ache que vai precisar usar mais tarde, por valor sentimental, ou gastou dinheiro naquilo e acha que tem de manter o item, mesmo se você não tiver tocado ou usado em semanas, meses ou anos.

Você pode estar guardando aquele livro que comprou há um ano jurando que vai ler ou aquele par de sapatos que você vai usar na ocasião exata.

Mas a realidade é: você provavelmente cometeu um erro comprando essas coisas e literalmente dói em seu cérebro admitir esse fato.

Pesquisadores em Yale recentemente identificaram que duas áreas no nosso cérebro associadas com a dor, o córtex cingulado anterior e a insula, se iluminam em resposta a deixar coisas que você possui e com os quais sente conexão.

Esta é a mesma área do cérebro que reage quando você sente a dor física de se cortar em uma folha de papel ou tomar café muito quente.

Seu cérebro vê a perda de uma ou mais posses valiosas como a mesma coisa que sentir dor física.

E quanto mais você é emocionalmente ou financeiramente comprometido com um item, mais quer mantê-lo ao seu redor.

Por que a Apple quer que você toque seus produtos

Quando se diz respeito a objetos físicos, tocar um item pode fazer com que você se torne mais emocionalmente apegado a ele.

Neste estudo, os pesquisadores deram aos participantes canecas para tocar e examinar antes de participarem de um leilão.

Os pesquisadores variaram a quantidade de tempo que os participantes poderiam manusear as canecas para ver se isso teria algum efeito na quantidade de dinheiro que eles estariam dispostos a gastar durante o leilão.

Os resultados do estudo mostraram que participantes que seguraram as canecas por mais tempo, estavam dispostos a pagar até 60% mais que participantes que as seguraram por menos tempo.

O estudo concluiu que quanto mais você toca um objeto, maior o valor que você atribui a ele.

A Apple está familiarizada com o efeito de tocar na sua psicologia e tem projetado brilhantemente suas lojas para ajudá-lo a construir um apego emocional aos seus produtos.

Aqui a foto de uma Apple Store:

Fonte: reprodução

O autor Carmine Gallo está escrevendo um livro sobre os erros e acertos da Apple Store. Gallo explica que tudo em uma Apple Store é projetado para você tocar e brincar, para fazer você sentir que é seu. Gallo afirma:

“A principal razão pela qual as telas dos notebooks são ligeiramente anguladas é para encorajar os consumidores a ajustar a tela ao seu ângulo ideal de visão… a experiência de posse é mais importante que uma venda.”

Quando você introduz novos itens à sua vida, imediatamente associa valor, tornando mais difícil desistir deles no futuro.

Essa conexão psicológica é o que leva à acumulação de coisas.

O impacto da bagunça no seu cérebro

Seja o seu armário ou mesa de escritório, o excesso de coisas nos arredores pode ter um impacto negativo na sua habilidade de focar e processar informação.

Isso é exatamente o que neurocientistas da Universidade de Princeton encontraram quando observaram a performance de pessoas ao executar tarefas em um ambiente organizado versus em um desorganizado.

Os resultados do estudo mostraram que desorganização física nos arredores compete pela sua atenção, resultando em queda na performance e aumento do stress.

Um time de pesquisadores da UCLA recentemente observou 32 famílias de Los Angeles e descobriu que o nível do hormônio do stress de todas as mães teve picos durante o tempo no qual elas passaram lidando com seus pertences.

De forma similar ao que a multitarefa faz com o seu cérebro, desorganização física sobrecarrega seus sentidos, fazendo você se sentir estressado e prejudica sua habilidade de pensar criativamente.

Bagunça não é apenas física

Arquivos no seu computador, notificações das suas contas de Twitter e Facebook, e qualquer coisa que vá alertá-lo durante a noite competem pela sua atenção.

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Isso cria uma forma digital de bagunça que erode a sua habilidade de focar e executar tarefas criativas.

Mark Hurst, autor de Bit Literacy, um best seller do New York Times, foi feliz ao dizer, sobre controlar o fluxo de informação na era digital:

“Dados são um novo material.”

Quando você tem tarefas constantemente flutuando ao redor da sua cabeça ou você ouve um alerta ou vibração do seu telefone a cada poucos minutos, seu cérebro não tem a chance de processar experiências ou entrar completamente em fluxo criativo.

Quando seu cérebro tem muito em seu prato, ele divide seu poder. O resultado? Você se torna terrível em:

  • filtrar informação
  • mudar rapidamente entre tarefas
  • manter uma memória poderosa e funcional

A sobrecarga no consumo de material digital tem o mesmo efeito no seu cérebro que desorganização física.

Encontrando o temporal perfeito

Gosto de manter as coisas arrumadas, mas quando eu costumava organizar meu quarto até a perfeição, minha mãe ainda olhava aquele mesmo quarto como um desastre.

A tolerância de cada um à bagunça é diferente.

Pesquisadores descobriram até mesmo que certas pessoas precisam de um pouquinho de bagunça ao redor para se sentirem inspiradas e produtivas, afirmando que:

“Uma mesa limpa pode ser vista como uma área inativa, uma indicação de que nenhum pensamento ou trabalho está sendo empreendido.”

Por exemplo, se você olhar para esta foto do escritório da casa de Steve Jobs, não é exatamente a imagem que você espera de um visionário quase zen, obcecado por menos.

Fonte: Apartment Therapy
Fonte: Apartment Therapy

Por outro lado, há o fundador da ThreeHugger, Graham Hill, que trocou sua mansão de milhões de dólares por um apartamento de 40 metros quadrados que só tem o estritamente essencial.

Sua cozinha é composta por 12 tigelas e utensílios.

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Cozinha do Graham Hill | Fonte: Life Edited

Em uma entrevista para o New York Times, Hill afirma:

“Eu gosto de coisas materiais tanto quanto qualquer um. Eu estudei design de produto na escola. Eu me interesso por gadgets, roupas e todo tipo de coisas. Mas minha experiência mostra que, após um certo ponto, objetos materiais têm a tendência a agravar as necessidades emocionais que eles deveriam amenizar.”

Enquanto a bagunça tem demonstrado afetar negativamente a sua performance, é a sua percepção de desorganização que importa, não a de outra pessoa.

Se ter um caderno, caneta ou uma foto de alguém significante na sua mesa não parece ser bagunça para você, então não é.

Você deve procurar criar espaços que fazem você se sentir à vontade.

Editando o ruído: 4 formas de dominar a bagunça

Há milhões de fontes de informação e coisas para você consumir, portanto, é importante descobrir um jeito de controlar esses fluxos para você ter mais tempo de fazer coisas que importam.

Aqui vão quatro coisas que têm funcionado para mim:

1. Aplique restrições

Um dos princípios do bom design são as restrições.

Você pode aplicar essa mesma teoria para criar um sistema para melhorar seu consumo.

Por exemplo, defina um limite de quantas pessoas você segue no Twitter, quantos livros compra ou quantos aplicativos possui.

Eu defini um limite de 200 pessoas que sigo no Twitter e não compro nenhum livro enquanto não terminei o que estou lendo no momento. Eu também não compro ou baixo nenhum aplicativo até precisar dele.

Sempre vai haver mais informação disponível do que você consegue consumir. Portanto, defina limites para não ficar apenas tentando passar por ela e para, ao invés disso, poder aproveitar mais do que você consome.

2. Use espaços de armazenamento pequenos

Cortar o seu espaço de armazenamento pode fazer maravilhas para ajudar a limitar o consumo. Tente limitar seu guarda-roupa a 10 cabides ou force-se a usar uma bolsa pequena quando viajar.

Você precisa mesmo de um closet walk-in ou de uma estante para todos os seus sapatos? Tente limitar seus espaços de armazenamento e você rapidamente vai identificar do que realmente precisa.

3. Faça uma revisão mensal do seu guarda-roupa

Todo mês, revise seu guarda-roupa procurando por itens que você não tenha usado. Se é verão e você tem camisetas, bermudas ou sapatos que não está usando, coloque-os em um saco para vender pelo eBay ou Craigslist ou então doe.

Outra opção é tentar se livrar de um item por semana até você cortar seus pertences ao que realmente usa.

4. Tire todos os arquivos do seu desktop diariamente

Se você trabalha em um computador, ter um desktop bagunçado pode deixar você com um sentimento de desconforto constante, cada vez que o ligar.

Ao final de cada dia, remova todos os arquivos do seu desktop. Se você não tem um lugar imediato para mover o arquivo, crie uma pasta no seu desktop e jogue-o lá.

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Meu desktop

A bagunça, seja física ou digital, é algo com o qual você sempre vai ter de lidar. Porém, ela pode ser controlada. Encontrar formas de orientar os fluxos de consumo a seu favor te dará senso de poder e uma mente livre, deixando espaço para criar e experimentar a vida sem encher seu copo até o topo com o doce de outra pessoa.

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Nota do editor: esse texto foi originalmente publicado no Medium e traduzido por nós mediante autorização do autor.

Mikael Cho

Co-fundador do <a>ooomf.com</a> e designer."