Se você é um ouriço, a última coisa que pode fazer é se comprometer a não usar seus espinhos.

Guerra naval na Baía da Guanabara

Em setembro de 1893, a Marinha Brasileira em peso se rebelou contra o governo e ameaçou bombardear a capital federal se o presidente Floriano Peixoto não renunciasse. Ele se recusou e as fortalezas passaram o mês seguinte atirando contra os navios e os navios, contra as fortalezas.

Depois de um mês, os comandantes dos navios estrangeiros ancorados na baía conseguiram um acordo entre as partes, no qual a Marinha se comprometia a não atirar contra a cidade e o governo se comprometia a não atirar contra os navios rebeldes.

Os líderes da revolta, almirantes Custódio de Mello e Saldanha da Gama, são até hoje revenciados como heróis da Marinha, mas é difícil de entender o por quê: ao aceitar esse pacto, eles passaram atestado de não entender nada de guerra.

O tempo estava a favor do governo em terra, que foi se fortalecendo e costurando alianças. Já a Armada rebelada no mar abrira mão de sua única arma, de sua única ameaça crível, e basicamente se condenara à ociosidade, à inutilidade e à derrota.

O Encouraçado Aquidabã, um dos mais poderosos navios de guerra do Brasil, rebelado.
O Encouraçado Aquidabã, um dos mais poderosos navios de guerra do Brasil, rebelado.

Finalmente, quando o governo se sentiu forte o bastante, desfez o pacto unilateralmente e ainda teve a gentileza de avisar quando começaria operações de guerra contra os navios rebeldes.

Sem outro remédio, os estrangeiros saíram da frente e os revoltosos ou se renderam ou saíram corridos da Baía de Guanabara, encerrando assim a chamada Revolta da Armada. Floriano cumpriu seu mandato até o fim.

Como escreveu Joaquim Nabuco no livro que dedicou ao episódio,

“quem não quer empregar os meios de guerra não faz a guerra”.

Nabuco era favorável à revolta, eu não, mas nenhum de nós dois acha que os navios deveriam ter atirado contra a capital. Entretanto, se os líderes rebeldes não estavam dispostos a isso teria sido mais humanitário nem mesmo começar a revolta.

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(A explicação é simples: dois anos antes, em 1891, o almirante Custódio de Mello fez exatamente a mesma coisa e conseguiu que o então presidente Marechal Deodoro, já velho, cansado e de saco cheio, renunciasse no mesmo dia. O erro de cálculo foi considerar que Floriano Peixoto fosse fazer o mesmo. A revolta se viu na insustentável posição de não ter estômago para cumprir as próprias ameaças. Por isso, como todos que já se colocaram nessa mesma sinuca, perdeu.)

Resoluto, Floriano Peixoto se recusou a sair do poder!
Resoluto, Floriano Peixoto se recusou a sair do poder!

Neymar na Orquestra Sinfônica

E aí você pergunta, amigo leitor:

“E daí? Qual é a relevância disso pra mim?”

É simples. A revolta foi derrotada porque se comprometeu a não usar a sua única arma.

E, todo dia, observo várias pessoas, amigos, colegas de trabalho, familiares, dando com os burros n’água pelo mesmo motivo.

Vejo o inteligente tentando competir com o lindo na beleza, vejo o lindo tentando competir com o inteligente na cultura.

Vejo o Neymar desafiando o Federer para uma partida de tênis, vejo o Cesar Cielo desafiando o Usain Bolt pra uma corrida. Nunca dá certo.

A vitória tem várias chaves. Uma delas é não desistir. A outra é escolher suas batalhas e escolher suas armas.

O mundo está cheio de Mozarts que ninguém ouviu falar porque ao invés de estudar piano estavam dando murro em ponta de faca na quadra de futebol.

"Luiz, seguinte, talvez o futebol não seja a sua praia. Já pensou em se dedicar a outra carreira? Política, quem sabe?"
“Luiz, seguinte, talvez o futebol não seja a sua praia. Já pensou em se dedicar a outra carreira? Política, quem sabe?”
Alex Castro

alex castro é. por enquanto. em breve, nem isso. // esse é um texto de ficção. // veja minha <a title=quem sou eu