Em recente entrevista, no programa "SuperSoul Conversations", apresentado pela Oprah, o ator Michael B. Jordan comentou que precisou fazer terapia após o trabalho em Pantera Negra.
O ator explicou que “Killmonger” exigiu que ele colocasse pra fora “dor e raiva e todas aquelas emoções” que o personagem representa do que é “ser negro na América”. Segundo ele, foi um trabalho que impactou na sua vida particular.
“Quando tudo acabou, acho que estar nesse tipo de estado mental… me alcançou”.
Ele também comentou como esse processo é desencorajado para homens.
“Sua mente é poderosa. Sua mente leva seu corpo além de limites que te fariam desistir, e honestamente fazer terapia, só falar com alguém, me ajudou muito. Como homem, você pode acabar negligenciando isso, o que não recomendo. Todo mundo precisa descarregar e falar.”
Quantas vezes você, homem, se sentiu confortável para falar, entre seus amigos, sobre os problemas emocionais, sexuais e/ou sentimentais que vinha passando?
Quantas vezes mentiu sobre ser ou não virgem ou sobre suas performances sexuais? Ou brigou em algum momento somente pela pressão de não parecer fraco perante outras pessoas?
Quantas vezes já se sentiu culpado por não ser bom em qualquer esporte? Ou não falou sobre o medo de ser pai e não saber se vai dar conta das responsabilidades?
Trabalhando há anos como professor, vejo que estabelecer vínculos afetivos, de confiança mútua e de abertura ao diálogo, afeta positivamente não só os alunos, como a mim também e favorece o processo de aprendizagem. Percebo que o conhecimento aflora de maneira muito mais significativa em ambientes confortáveis, principalmente para meninos e homens.
Caminhando nesse sentido, os grupos de homens que debatem masculinidades são um excelente passo inicial. Acredito que por sermos homens e estarmos, ainda que com muitos recortes, dentro de uma construção muito semelhante, podemos entender com mais facilidade essas questões que ainda nos afligem com bastante intensidade.
Aqui no PdH já listamos 129 projetos, iniciativas e pessoas que trabalham com a transformação dos homens no Brasil e no Mundo, pois entendemos que o trabalho coletivo é essencial para tornar a sociedade mais saudável.
Grupos como o "MilTons" de Porto Alegre, "MEN – Machismo Entre Nós" de Belo Horizonte e "MEMOH" no Rio de Janeiro são exemplos práticos de grupos voltados para homens que buscam mudar esse panorama.
O psicólogo Ronald F. Levand, da Nova Southeastern University, usa o termo “alexitimia masculina normativa” para se referir a essa dificuldade que os homens têm para expressar os seus sentimentos.
Fatores sociais, que impactam as nossas vidas, são muito incisivos nesse comportamento, fazendo com que homens façam terapia menos do que as mulheres.
Fazer um exercício honesto de autocrítica sobre a maneira que estamos exercendo nossa masculinidade desde que nascemos é importante. Precisamos humanizar nossas relações sociais, nossos corpos e nossas emoções e entender de que maneiras estamos colocando isso no mundo.
É importante que estejamos alinhados com outros homens (e outras mulheres) na busca de uma masculinidade sadia. Quebrar todas as barreiras que impedem de nos comunicar e estabelecer laços afetivos.
Eu acredito que é possível. Vamos conversar mais?
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