Gostaria de contar um causo.
Que as redes sociais estão repletas de impropérios ditos em alto e bom som, todo mundo já está mais do que cansado de saber. Afinal, é abrir o Twitter ou o Facebook que você se depara com todo tipo de ironia e alfinetada voltada àqueles que pertencem ao outro time, seja ele qual for.
Mas aí, quando foi outro dia, tomando conta de meus afazeres, postei na rede social azul um texto que continha um diminutivo no título, escrito pela Marcela, nossa querida estagiária de conteúdo. O título, em princípio, não me escandalizou em nada. Mas alguém se sentiu ofendido que uma página chamada PapodeHomem ousasse tornar a palavra "comida" mais amável, escrevendo-a no diminutivo.
O moço, em um gesto de revolta apressada, escreveu a palavra que o incomodou, entre aspas. Assim, cheio de malícia e desprezo. "Comidinhas". Eu quase podia ouvir o tom jocoso, ~comidinhas~.
Aquilo foi importante, me fez lembrar de uma outra vez, em uma época muito distante, quando alguém que queria ser um macho alfa imponente e forte, me corrigiu pelo mesmo motivo. Parte foi uma zoeirinha à toa, mas outra parte foi também uma tentativa heroica de me consertar e melhorar minha postura. Afinal, usar diminutivo não é coisa de homem.
Aqui, vale abrir um parêntese. Fui criado pela mãe. Logo, não tive uma figura paternal que tenha servido como modelo pra essas regras subentendidas da masculinidade ideal. Então, muito disso acaba passando batido.
Minha mãe supriu esse papel de ser um modelo de conduta. Portanto, uma boa fatia do meu comportamento é um arremedo de como ela se comporta. E isso inclui os tais diminutivos.
Quando quero tomar uma cerveja, eu peço uma brejinha. Às vezes, como uma feijuquinha. Ou um churrasquinho.
Eu também leio uns livrinhos, vejo uns filminhos. Agora, enquanto escrevo, observo que isso saiu da ideia de escrever um textinho rápido. Eu sei que fica forçado falando assim, mas foi pra exemplificar que não me faço de rogado com isso.
Frequentemente, chamo carinhosamente alguns amigos pelo nome no diminutivo. E noto que muitos não gostam. Acho que tem a ver com aquela coisa de nunca aceitar ser pequeno, menor, frágil. Parece bobo, mas quem é homem sabe que não. Isso é serious shit.
Mas confesso que, cá com meus botões, tenho a impressão de que há muito mais fraqueza em fazer cara feia ao ser chamado pelo diminutivo do que aceitar a alcunha com um sorriso no rosto.
Digo isso por que a gente não rejeita nada que não nos afeta. Em geral, quando algo não pode ser mencionado ou sequer pode virar brincadeira, o motivo é um profundo receio de que aquilo seja verdade.
E a verdade aqui diz respeito à fragilidade da masculinidade do ser em questão.
O homem que não quer usar um diminutivo tem medo, está apavorado. O mesmo vale para aquele que não quer demonstrar afeto em público. Ou não quer elogiar a beleza de outro homem. Ou não quer nem olhar um homem nu. Ou que evita ser associado, de qualquer forma, com tudo aquilo que é tido como feminino, seja uma camisa rosa, uma música da Beyoncé ou um abraço afetuoso.
Essa lista vai longe mas, no final, sempre é um demonstrativo de quão frágil é a masculinidade – um conceito cada vez mais difícil de definir, vale frisar. Afinal, mesmo as qualidades das quais os homens sempre se vangloriaram, como honestidade, coragem, força, caráter, senso de aventura, ímpeto de ação, nenhuma delas é exclusiva.
Minha mãe possui todas essas qualidades e conheço trocentas outras mulheres que também as possuem. Não há nada que uma mulher não possa fazer.
Enquanto isso, vejo homens se debatendo com micro regrinhas de conduta, como que segurando desorientados um manual de instruções desatualizado.
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