Espanta-me que algo tão grande continua em expansão. E não estou falando do buraco da camada de ozônio ou do hipotireoidismo de Ronaldo, mas sim do exército de babacas, que vem sem multiplicando como coelhos putanheiros no cio.

Aos que têm dúvida, levem seus carros para passear por São Paulo e andem sem pressa.

Em poucos minutos uma horda de babacas passará zunindo, gritando seus carros, acelerando suas gargantas. Indignificando, entre outros elogios, sua pobre mãezinha, que nada tem a ver com isso.

Babacas disputando “par ou ímpar” no trânsito.

O tanque do babaca é pequeno, seu combustível é a disputa. Modelo Flex, pode se abastecer não só trânsito, mas no trabalho, restaurantes, botecos e qualquer lugar onde pode se sentir importante, e, por consequência, temido.

Babacas adoram entrar em disputas que vão ganhar. Apegam-se as suas vitórias, especialmente as pequenas. Consolam a mediocridade. Não pudera ser diferente, o mundo parece não só validar, mas glorificar conquistas da abundante raça. É só ver a admiração desses jovens, esses que justificam babaquices com suas vitórias, por Mark Zuckerberg ao final da projeção de A Rede Social.

A escola, cativeiro da raça, treina-os basicamente para uma coisa: obedecer. Inseri-los em uma lógica. Faça isso. Não faça aquilo. Seja assim. Ordens simples. Lição de casa. Executar é melhor do que pensar. Quem pensa questiona, e questionamento é perda de tempo, e tempo é dinheiro. O babaca é tacanho e eficiente, o que lhe sobra em utilidade lhe falta no resto.

Como todo bom processo de domesticação, ordem cumprida, recompensa dada. Elogios, estrelinhas, notas, diplomas, vagas. O biscrok dos professores, sabor vitória.

“Another Brick in the Wall” já nos alertava sobre a criação de babacas em cativeiro.

Entidade mais cultuada que Yoda nas convenções de nerds, o “mercado de trabalho” vem depois da domesticação, põe o treinamento à prova. Dos cortes de cabelo aos sorrisos amarelos, passando pelas piadas de escritório, toda a conduta e comportamento são padronizados. Maior o “esforço”, maior a “recompensa”.

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Dessa vez, o sabor é felicidade. Conforto, promoções, bônus, benefícios. O babaca não é apenas treinado para gozar com o pau dos outros, ele é treinado para gostar e se orgulhar disso.

Babaca que é babaca se orgulha em ser um vencedor. Se Maria justificou sua puladinha de cerca com o “espírito santo”, o Babaca justifica suas babaquices com o “espírito empreendedor”. Sente-se líder, sente-se importante, sente-se alguém. Mas ninguém é alguém.

Babaca que é babaca precisa do seu orgulho, caso contrário, não se suporta. Precisa do seu carro, seu sapato, sua casa, suas roupas, sua classe, sua cultura, seu networking, seu dinheiro, seu nome, sua felicidade, sua razão, seus 150 canais, seu espaço no trânsito, seu cargo, seu corpo.

Babaca que é babaca precisa provar que não é babaca.

E você? Está no exército ou fora dele? Como saber realmente onde está?

Paulo Leierer

Escreve e dirige (tirou sua carta em 2003). É apaixonado por cinema desde que viu Esqueceram de Mim" e morre de vergonha de escrever em terceira pessoa."