A Record parece ter encontrado a fórmula certa para o sucesso de suas religiões. A emissora comandada por bispos da Igreja Universal apostou na temática religiosa e buum! “Os Dez Mandamentos” já superou a audiência da Globo, inclusive durante a exibição do “Jornal Nacional”.
O sucesso é tanto que a emissora pretende consolidar a faixa da 20h30 para produções com temáticas religiosas. E, pasmem, a novela que tem um orçamento em torno de R$ 700 mil para produzir cada episódio, montou uma superprodução de R$ 1 milhão apenas para a cena em que Moisés abre o Mar Vermelho para que os hebreus possam chegar à Terra Prometida como conta o Velho Testamento.
Já estamos acostumados a ver diversos programas que se aproveitam de supostos milagres para ganhar audiência. Casos fantásticos envolvendo a fé das pessoas sempre foram motivos de fait divers na mídia. E a ciência até explica isso. Acontece que agora, mais do que nunca, a religião virou produto comercial.
Pipocam canais de TV e emissoras de rádio com conteúdo religioso. Nos canais abertos, quase todos os horários menos concorridos já haviam sido ocupados por programas independentes comandados por padres ou pastores dessa ou daquela igreja. Acontece que agora a Record iniciou um novo capítulo dessa relação: as telenovelas.
Falar de religião é falar daquilo que você acredita ou não. Parece óbvio. E até é. Mas é preciso lembrar disso. Agora, só porque cada um tem ponto de vista, não me venha com aquela história de que religião não se discute. Afinal, é justamente pontos de vista distintos que alimentam uma boa discussão, não é? Portanto, desde já, esteja convidado a contribuir com esse debate.
Pessoalmente, acho religião uma das coisas mais legais de conversar. Do meu ponto de vista, há poucas coisas no mundo que revelam tanto sobre uma pessoa e sua visão de mundo quanto a crença religiosa dela. Na religião como na vida, tento colocar o máximo de lógica e racionalidade na tomada de decisão. Porém, em maiores ou menores proporções, sempre existe aquela porção de imaginação que ajuda a preencher as lacunas. E é aí que mora a magia. A ciência também explica isso.
Fui criado em família católica. Como ainda acontece com a maioria das pessoas que eu conheço. Mas numa situação delicada, meus pais recorreram ao espiritismo. Até então, meu universo religioso era esse. Muito restrito. Foi quando me mudei pra São Paulo, há quase três anos, que descobri um mundo novo que eu achava estar tão distante de mim. Conheci vários judeus. Trabalhei com uma budista. Conversei com uma infinidade de espíritas. E, veja só, a família da minha namorada frequenta terreiros de umbanda regularmente.
Não sei dizer se essa relação é mais normal para quem viveu a vida inteira numa cidade enorme como São Paulo. O que eu sei é que a religião está ocupando cada vez mais esferas da sociedade e refletir sobre essa repercussão me parece um ponto realmente interessante. E necessário.
Queria falar sobre religião e política. Sobre o Estado laico. Sobre o crucifixo na sala do Superior Tribunal de Justiça. Mas isso será assunto pra um outro dia. Hoje, especialmente queria propor uma reflexão sobre a apropriação da religião por parte do entretenimento.
Sabendo da influência que as novelas e a TV exercem sobre as pessoas, o que pensar dessa introdução da religião nas histórias? Por um lado, é só mais um dos assuntos abordados pela sociedade e portanto nada mais justo do que isso se tornar tema de produções como as telenovelas. Por outro lado, o impacto que tudo isso pode provocar nas pessoas contribui para aumentar o abismo que existe entre as diferentes crenças. Afinal, não estamos falando de uma distribuição igualitária, certo?
Qualquer tipo de restrição é censura? Religião e entretenimento se misturam? O futuro é mesmo apostar em públicos de nicho? Alguém nos ajude, Lázaro, a entender.
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