Fora do Brasil, o modelo de treino Crossfit já existe faz algum tempo. Mas, por aqui, vem se popularizando pelos últimos anos. Esse é um formato de treino bem diferente para quem está acostumado com as academias tradicionais.

Na Crossfit, a prática busca uma movimentação voltada para força funcional e sempre com bastante intensidade. As pessoas que treinam nessa linha não possuem uma rotina fixa de exercícios. Os treinos são bem variados e cada dia representa um novo desafio.

O que me atrai no modelo é o resgate de exercícios pouco convencionais para as academias modernas. Movimentos como levantamento terra, power-clean, snatch e muscle ups são rotina para esses atletas. No centro de treinamento, não existem máquinas que automatizam o exercício, tudo é feito com peso do corpo ou peso livre.

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Recentemente li alguns artigos apontando um número crescente de lesões em atletas da Crossfit, e seu duro formato de treinamento. Vou aproveitar este assunto para explicar um pouco sobre como funcionam treinamentos físicos e como muitas vezes nosso viés de confirmação prejudica nosso julgamento em relação as coisas.

O texto da GoOutside faz dois posicionamentos bem importantes para nosso esclarecimento:

O primeiro é o relato de um quiropata apontando o aumento de pacientes vindos de academias Crossfit.

O segundo é o aumento gritante de praticantes da modalidade.

Entretanto, em nenhum momento a reportagem constata o óbvio. Se é uma prática relativamente nova e com uma crescente popularidade, nada mais comum que uma quantidade maior de pessoas acabem se lesionando e procurem tratamento. Isso não significa que seja um treinamento mais lesivo que os outros, mas que existe uma nova prática e pessoas estão treinando. Se a quantidade de lutadores de MMA aumentasse 400%, você teria um aumento expressivo em lesões oriundas do esporte.

Quando comecei a ouvir que pessoas estavam com medo de praticar Crossfit pelo risco de se lesionarem, fiquei confuso e resolvi perguntar para um grande amigo de treinos, hoje instrutor da KOR Crossfit, em Brasília. O Rodrigo Hollanda me explicou o óbvio que a maioria das pessoas se nega a ver e o que as reportagens ocultam para causar um impacto maior.

É difícil, para quem está de fora, aceitar que não existe uma atividade física que não proporcione ou exponha os praticantes a algum tipo de lesão. Caso existisse, tal atividade seria considerada ineficiente para ganhos físicos. “Um método com 0% de lesões não é eficiente, pois não promove adaptações fisiológicas suficientes”, explica Rodrigo.

De fato, se observarmos qualquer esporte, dos mais simples aos mais complexos, todos apresentam um percentual de lesões, mesmo quando a atividade é praticada de forma recreativa. O Rodrigo também me apontou alguns estudos interessantes sobre o índice de contusões entre atletas Crossfit e outras modalidades. No estudo mais recente o resultado mostra o oposto completo do que as noticias vem dizendo:

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“Uma taxa de lesões de 3.1 a cada 1000 horas de treinamento foi calculada.

[…] As médias de lesões em treinamento Crossfit são similares as relatadas na literatura de esportes como Levantamento de Peso Olímpico, Power-Lifting e Ginástica, mas menores do que esportes competitivos de contato como Rugby.”

É curioso levantar as estatísticas de outros esportes e ver como algumas são bastante elevadas, mesmo quando consideradas seguras. O SportsInjuryBulletin diz que 85% dos praticantes badminton, sendo eles atletas de elite ou praticantes recreativos, se machucam durante um ano normal de treino. Em corredores, o número é de 65% e, quem acha que uma leve caminhada é livre de risco, 21% das pessoas que caminham apresentaram lesões.

O jornal americano de medicina esportiva tem uma lista de lesões por esportes a cada 1000 horas de treinamento.

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Não pense também que se abster destes exercícios irá garantir uma vida livre de dores.

Quanto menos o corpo é exposto a irregularidades, menos adaptável se torna e, consequentemente, fica mais propenso a lesões por motivos simples, como torcer o pé descendo de uma calçada ou um “mal jeito” enquanto dorme. Uma pesquisa do governo de Queensland, na Austrália, mostra o percentual de lesões mais comuns em trabalhadores de escritório e serviços administrativos.

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Entre as lesões listadas,  21% são causadas por levantar caixas ou abaixar por algum motivo. 11% são cortes causados por facas para abrir caixas ou envelopes. A lista ainda inclui ombros, joelhos, punhos, pescoço e tornozelos, causados por pisar em pisos irregulares.

É extremamente prejudicial para qualquer esporte ser listado como lesivo e perigoso. A sabedoria popular já possui mitos o suficiente, tirando pessoas de atividades benéficas pelo puro resultado de informações espalhadas de forma errada.

Minha mãe não me colocou na ginástica olímpica quando eu era criança, por acreditar que “atrapalha o crescimento”. Conheço pessoas que jogam futebol aos finais de semana, uma atividade extremamente lesiva, mas não treinam Jiu-jitsu porque têm medo de ter problemas no ombro ou Parkour porque pode causar problemas no joelho.

Tudo resultado da falta de informação.

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Ilustradora, engenheira civil e mestranda em sustentabilidade do ambiente construído, atualmente pesquisa a mudança de paradigma necessária na indústria da construção civil rumo à regeneração e é co-fundadora do Futuro possível.