A crise de coronavírus no Brasil traz grandes inquietações. Em primeiro lugar, obviamente, a saúde de todos nós, nossos amigos e parentes, a quebra do sistema de saúde e do sistema funerário e, logo em seguida, as consequências na economia, com a desaceleração do consumo e o desemprego.
Com esse cenário assustador, alguns podem ficar com medo de faltar comida na mesa e, em meio a fake news que ampliam a confusão, muitos correm em direção ao supermercado para abastecer a despensa.
Carolina Dini é uma ativista, ex-autora aqui no PapodeHomem e proprietária do @cebolanamanteiga, onde ensina receitas, dá consultoria sobre planejamento alimentar e fala sobre a influência da política no que comemos. "A menos que você more num local onde não haja fácil acesso aos mercados e feiras e, por essa razão, tenha que fazer compras volumosas de uma só vez, não precisa estocar nada, pois não vai faltar comida no Brasil. Nossa produção é mais que suficiente para alimentar todos os brasileiros. A fome existe por que faltam políticas públicas", afirma.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) estima que no âmbito mundial, entre um quarto e um terço dos alimentos produzidos anualmente para o consumo humano se perde ou é desperdiçado. A FAO calcula que esses alimentos seriam suficientes para alimentar dois bilhões de pessoas.
Para além da crise de coronavírus e uma suposta falta de abastecimento, o desperdício já era e é um problema.
Na microesfera, quando esses alimentos se perdem, o prejuízo afeta diretamente o bolso. Segundo a Embrapa, o desperdício de alimentos de uma família brasileira composta por três pessoas pode ultrapassar R$ 1.002,00 em um ano. Quase um salário mínimo de desperdício.
Abaixo listamos algumas informações importantes e dicas para evitar o desperdício.
Vá além das aparências
A aparência de legumes e frutas é um dos motivos pelos quais as pessoas consideram certos alimentos como impróprios para consumo. E, como os alimentos de aparência "estranha" não estão, em nada, desfeitos de suas propriedades nutricionais, acabam indo para o lixo à toa e, portanto, aumentando os números do desperdício.
"Como cozinheira e ativista, estou sempre falando da importância da gente se livrar do fetiche da padronização da nossa comida, para não descartarmos alimentos que sejam "feios" e começar a enxergar os vegetais por inteiro. O desperdício, ao meu ver, vem do fetiche da padronização que nos foi imposto pela indústria de alimentos e da nossa desconexão com a natureza", afirma Carolina Dini.
Portanto, caso se depare com alimentos menos favorecidos pela estética, dê uma chance. Quem sabe, dê até pra conseguir um desconto.
Não jogue fora os ramos e cascas
Mais uma dica da Carol Dini:
"Não faz sentido descartar as ramas das cenouras, que rendem um bom pesto, ou as cascas das bananas, que dão cremosidade às vitaminas. Aliás, as cascas de quase todos os vegetais são comestíveis e é um mito dizer que os agrotóxicos se concentram ali: eles estão no alimento como um todo."
Aqui alguns exemplos de receitas para aproveitar seus alimentos completamente:
Utilize a geladeira corretamente
A Dra. Fabiana Poltronieri, nutricionista, doutora em Ciência dos Alimentos, explica: “saber como armazenar e conservar os alimentos é condição essencial para se evitar problemas como a contaminação por microrganismos”.
“Talvez o mais importante seja manter a porta aberta o menor tempo possível, utilizar recipientes adequados e destinados exclusivamente para este fim, manter a geladeira limpa, higienizada, não guardar alimentos em panelas”, afirma.
Como armazenar alimentos na geladeira?
- Prateleiras superiores: Leites e seus derivados e outros alimentos que precisam de maior refrigeração.
- Prateleiras inferiores: Legumes, verduras e frutas vão na caixa que fica embaixo. As prateleiras inferiores são pra alimentos que precisam de menos refrigeração.
- Porta da geladeira: latas de bebidas, temperos, geleias, conservas, sucos e água.
- Freezer: No freezer, carnes e preparações certamente terão um tempo de conservação maior, chegando até a meses. Não lote o freezer e lembre-se que os alimentos não podem ser congelados novamente, uma vez que sejam descongelados.
Para aprender um pouco mais:
Uma ferramenta mágica: a fermentação
A fermentação é, provavelmente, o método culinário mais antigo que existe. Para que ela aconteça, há um batalhão de bactérias e leveduras que promovem reações químicas e, entre outros benefícios, é possível conservar alimentos com ela.
Se duvida da importância dela na nossa alimentação, basta dizer que tudo começou com cerveja, pão e vinho.
Abaixo, uma receita para fermentar repolho e preparar um chucrute. Você pode também aplicar o método a cenoura, rabanete, beterraba e por aí vai.
App Comida Invisível: para conectar quem tem alimentos sobrando com quem precisa deles
O Projeto Comida Invisível é uma startup social focada em reduzir o desperdício e má distribuição de alimentos e contribuir para a diminuição de gases de efeito estufa no planeta.
O aplicativo tem o objetivo de conectar quem tem alimentos que perderam o valor comercial com quem necessita deles. O doador pode informar sobre o que possui disponível e o donatário pode informar o que procura. Assim, fazendo a ponte entre a oferta e a demanda, o aplicativo consegue alimentar quem precisa.
Que tal tentar uma composteira caseira?
Nem todo método de aproveitamento precisa, necessariamente, incluir algo que vá para a sua mesa. Há situações nas quais não vai mesmo ser possível.
Para isso, há a compostagem, que é uma espécie de reciclagem de lixo orgânico.
Ou seja, até mesmo aquilo que não tem mesmo outro destino a não ser o lixo pode ser utilizado para um fim mais nobre que o mero descarte.
O vídeo abaixo explica de forma bem resumida o que é a compostagem:
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Antes de encerrar, gostaria de deixar uma importante nota: grandes supermercados não vão sentir o impacto da pandemia de maneira tão acentuada quanto os pequenos produtores e feirantes. Em várias cidades, esses produtores aceitam encomendas e entregam cestas. É uma ótima forma de evitar as aglomerações dos supermercados e, também, de se alimentar melhor, já que muitos desses produtores vendem orgânicos de ótima qualidade.
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