Homens podem se reunir ao redor de bebidas, videogames, esportes, mulheres ou negócios. Podemos nos juntar para matar, ganhar dinheiro, jogar poker, vencer um jogo, beber whisky, comer picanha ou conquistar mulheres.
Mas e se nos encontrássemos para cortar todas as distrações? E se nos reuníssemos para nos manter acordados e livres? E se, em vez de diversão, dinheiro ou mulheres, nosso objetivo fosse uma vida autêntica, pronta para gerar dinheiro, satisfazer mulheres, beneficiar as pessoas e enriquecer o mundo?
Em janeiro de 2008, tal grupo foi criado em um espaço que se chamou Cabana do Dr. Love. O próprio escreveu um post de lançamento e eu descrevi o projeto logo em seguida. Um ano depois, o espaço está mais rico do que nunca e é hora de compartilhar.
Antes de avançar, conto três cenas que realmente já aconteceram na Cabana (apenas troquei terceira por segunda pessoa e alterei dados que poderiam comprometer os participantes):
1. Você mora no Sul. Conheceu uma mineira pela Internet, trocou mensagens por 2 meses e agora descobre que ela vai viajar para sua cidade. Você já tinha lido o relato de um encontro parecido, mas gostaria de ter mais idéias sobre como recepcioná-la e proporcionar alguns dias de aventura e prazer para ambos. Então você escreve para a Cabana e no mesmo dia recebe várias sugestões do que fazer, do que não fazer, relatos de quem já viveu isso, contribuições de todo lugar do Brasil. Você não só consegue planejar os seus dias com a menina, como faz com que todos na Cabana acompanhem e aprendam com o processo. É por isso que um dos cabaneiros criou o slogan: “Cabana: o lugar onde 100 seduzem e 1 come”.
2. Você foi traído, decidiu terminar a relação, mas ainda assim não consegue se desvincular de sua ex-namorada. De tempos em tempos tem recaídas justamente quando não tem nenhum amigo ao seu lado para lembrá-lo de algumas coisas. Você está sozinho à noite. Sua carência o leva a escrever um email desesperado para ela, ou a ligar e deixar uma mensagem confusa na caixa postal. Ou, pior, ela está online no MSN e vocês começam a conversar.
Resultado: no dia seguinte, você está ainda mais ferido e confuso. Acorda com ressaca, se toca do equívoco e escreve para a Cabana copiando o email enviado ou a transcrição dos diálogos online. Depois disso, passa a semana inteira sendo lembrado de como não adianta reagir em momentos de instabilidade, de algumas práticas que servem para desenvolver lucidez e de que MSN é a pior coisa neste caso. Seus obstáculos e condicionamentos são impiedosamente criticados, mas em nenhum momento você é humilhado. Pelo contrário, todos os incentivam a, no minuto seguinte, começar a agir com mais direcionamento e estabilidade.
3. Você está na Inglaterra (sim, temos mais de um membro fora do Brasil). Sua namorada mora no Brasil e você a encontra de tempos em tempos. Você quer ajuda para manter a energia da relação, dicas de como surpreendê-la e envolvê-la à distância, sugestões de locais para levá-la em suas visitas… Você escreve sua apresentação para a Cabana e dá início a um diálogo rico com outros dois membros que também moram longe de suas namoradas (esposa, no caso de um deles). Os outros observam e lentamente ganham uma experiência que talvez seja usada quando se meterem em uma situação parecida.
O que é, como funciona e o que acontece na Cabana PdH
Objetivamente, a Cabana é um fórum (o mesmo sistema do fórum aberto do PdH). Os tópicos dos cabaneiros se organizam em 6 seções:
• Apresentações, onde cada um conta sua história e a motivação de participar.
• Artigos, com textos exclusivos (publicados apenas dentro da Cabana) do Dr. Love, que não mais participa mas deixou vários no arquivo, e do Gustavo Gitti. Alguns títulos: “Sexo de qualidade: 17 dicas simples para antes, durante e depois”, “3 atitudes essenciais para lidar com as tempestades do feminino”, “Conversa com quem deseja se tornar Don Juan, Casanova ou Hitch”, “Dois modos de se posicionar no mundo: o mendigo e o guerreiro”.
• Práticas, que traz sugestões de exercícios, treinamentos e atividades envolvendo corpo, mente e interação social. Em um ano, foram 22 práticas. O amplo espectro de aplicação e as mudanças relatadas pelos participantes comprovam a riqueza dessa área.
• Discussão, espaço no qual todo mundo propõe temas, compartilha conhecimento, puxa assunto e expõe dúvidas. É o espaço que mais se assemelha a um fórum convencional.
• Sexo, para discussões e relatos com forte ênfase sexual.
• Relatos, no qual os membros colocam suas experiências de relacionamento e na vida em geral. Todos os cabaneiros concordam que esta é a fonte principal de aprendizado da Cabana. É na vida que tudo acontece. Nos relatos, cada momento resume o que lemos, discutimos e tentamos praticar. A vida é o grande desafio.
Os princípios ativos da Cabana PdH
Como um bom remédio, a Cabana possui alguns princípios ativos responsáveis pelos benefícios que o espaço é capaz de gerar nos participantes.
A mulher como vida: Quer admitamos ou não, grande parte da vida de um homem gira em torno das mulheres. Ainda que esteja preocupado com outras coisas, um homem sempre está se relacionando com alguma mulher (ou com a ausência feminina). É o único papo garantido com um estranho: “Olha ali que gostosa”. Além disso, o modo com que um homem lida com sua mulher reflete o modo com que ele trata a vida em geral. Se ele exagera na tentativa de agradar sua mulher, certamente vive buscando agradar os outros. Se ele deseja encontrar uma mulher não tão complicada, sem dúvidas fica desconfortável quando sua vida entra em caos.
Ora, se a relação com o feminino é tão fundamental em nossa vida, por que não usá-la para causar transformação em todos os níveis? Ao praticar liberdade e presença com mulheres, na verdade estamos praticando liberdade e presença em todas as situações, com todas as pessoas, com toda a vida. Eis o principal motor da Cabana.
O poder de um grupo: Com 10 amigos ao seu lado, você ganha coragem de fazer o que nunca faria sozinho. A Cabana utiliza o mesmo processo que leva um fracote a estuprar, colocar fogo ou bater em alguém. Em um grupo movido por raiva e cegueira, aumentamos e potencializamos a raiva até criarmos ações no mundo que a manifestem, como incendiar um índio em um ponto de ônibus ou quebrar vitrines na Avenida Paulista.
Por outro lado, em um grupo virtuoso de homens que se propõe a cultivar destemor, energia estável, sabedoria, alegria, equanimidade e presença, fica mais fácil agir com tais qualidades. Não só porque sempre somos lembrados disso, não só porque nossos relatos são analisados sob essa perspectiva, mas principalmente porque vemos as qualidades sendo aplicadas em 10, 20, 30, 40 vidas, tudo ao mesmo tempo, diante de nós.
O fortalecimento do masculino: Uma recente pesquisa finalmente apontou o nascimento de uma terceira espécie de homens, além do machão arcaico e do sensível pós-feminismo. “Entre outros pontos, o estudo detecta que as mulheres estão à procura de um novo tipo de homem, cuja principal característica é resgatar antigos valores da masculinidade, mas sem perder a sensibilidade. As mulheres querem uma masculinidade mais evoluída”, disse Elisabete Lemos para o Portal Bem Paraná.
E não só as mulheres. A própria vida exige que os homens fortaleçam e aprofundem sua energia masculina. David Deida, especialista em conduzir grupos femininos e masculinos por mudanças na dinâmica dos relacionamentos, explica como um homem pode ajudar na transformação dos amigos apenas propondo desafios e não aceitando posturas medíocres (quem quiser, pode traduzir a citação nos comentários, posto a original já que não há tradução oficial):
“Just as your woman must regularly spend time with only women, you must regularly spend time with only men. At least once a week, get together with your men friends to serve one another. Cut through the bullshit and talk with each other straight. If you feel your friend is wasting his life, tell him so, because you love him. Welcome such criticism from your friends. Suggest challenges for each other to take on, in order to bring each other through the fears which limit your surrender in gifting. Always agree on consequences for not persisting in the challenge. For instance, if you agree to ravish your wife for three hours every other day for a week, then also agree to mow your friend’s yard if you miss a day of ravishment.” –David Deida
O empurrão a longo prazo: Mais de 10 pessoas já saíram da Cabana e depois se arrependeram, pedindo para voltar e assinando novamente. Isso revela uma das características essenciais da Cabana: ela serve mais a médio e longo do que a curto prazo. Como isso se dá? Ainda que estejamos vivendo bem agora, nada nos impede de, a qualquer momento, termos nossa visão obscurecida ou sermos vítimas de uma espécie de adormecimento – o maior responsável pelas reclamações femininas e pelo adoecimento das relações.
Na Cabana, tal sonolência é mais difícil de se instalar pois assim que vacilamos, alguém nos alinha, nos cutuca, nos chacoalha, nos desperta na hora! Se 99 vacilam, sempre tem um que não vacila e pronto: o grupo inteiro se alinha. Se não estamos sozinhos, assim que perdemos a estabilidade encontramos alguém que está muito bem e que nos lembra de nossa condição natural. Infelizmente, isso nem sempre acontece na vida pois em geral todos estão preocupados com seus próprios caminhos. Por que então não criar um espaço em que esse incessante despertar seja a regra e não algo eventual?
O que a Cabana NÃO é
Alguns dos cabaneiros fazem terapia, muitos namoram ou são casados e vários pegam mulher direto. Ou seja, a Cabana não se confundiu com um espaço terapêutico, não se configurou como um refúgio de nerds desincorporados e não se reduziu tampouco a um reduto de solteiros em busca de métodos infalíveis de sedução. Veja o que a Cabana não é:
Comunidade de auto-ajuda: grande parte do discurso auto-ajuda fundamenta-se no idealismo (“Você cria o mundo pelo poder do pensamento”, vide The Secret e What The Bleep Do We Know), na reprogramação neurolinguística (“Livre-se de suas crenças negativas e será feliz”), no ideal de sucesso (“As sete leis espirituais para o sucesso”) e no self-service religioso (“Deus é tudo, logo você é Deus, então misture reiki, taoísmo, shiatsu, xamanismo, sushi e espiritismo para se iluminar mais rapidamente”). A Cabana não se alinha com nenhuma dessas abordagens.
Terapia em grupo: a prática terapêutica (individual ou coletiva) implica em abrir cada conteúdo de nossos dramas e tratá-los um por vez. Além disso, demanda contato físico e um especialista em psicologia, psicanálise ou psiquiatria. Na Cabana, estamos mais preocupados na estrutura dos problemas e em cultivar um espaço de onde (e uma linguagem pela qual) podemos olhar nossas próprias vidas de modo elevado. Os detalhes cabem a nós. Ainda que falemos sobre eles, os outros não nos conhecem, eles apenas se preocupam em analisar se somos livres ou não, eles oferecem esse “olho” adicional que muitas vezes nos falta. Sem pretensão científica, somos apenas amigos. E, claro, se alguém chegar precisando de cuidados específicos, recomendaremos um médico ou psicólogo (algo que não aconteceu até agora).
Manual de sedução: há muitas técnicas interessantes no movimento dos pickup artists e nas diversas comunidades de sedução que encontramos por aí. De fato, muitos entram na Cabana esperando aprender técnicas e estratégias de um bando de sedutores profissionais. O que acontece depois disso é melhor explicado nas palavras de um cabaneiro:
“Eu já posso perceber as mudanças que ocorreram desde que entrei aqui. No início, só me passava pela cabeça em entrar aqui e comer mulher pra caralho. Depois vi que o foco não era só esse. O foco é se tornar um cara melhor em todos os sentidos. Comer mulher é apenas uma consequência – muito boa por sinal.”
Quem é o coordenador do projeto?
O Dr Love parou de participar no segundo semestre de 2008. Como a Cabana não se configurou como um consultório amoroso guiado por um guru, nada mudou. Apenas 2 pessoas saíram alegando a ausência do Doc. Foi uma perda, claro, mas não alterou a estrutura essencial do projeto – que, aliás, foi construída pelos próprios cabaneiros, já que o Doc e eu, ao implementarmos a ideia, não sabíamos bem no que isso ia dar.
Ainda que eu seja apenas mais um cabaneiro, sou o responsável pela organização do espaço e acho importante me apresentar por dois motivos: para deixar claro que não sou psicólogo, muito menos “Doutor” em nada, e que meu interesse não é tecnologia, e sim pessoas e o modo como elas se relacionam e se desenvolvem.
Em meus textos aqui na Papo de Homem, compartilho um pouco do que conversamos diariamente na Cabana. Os melhores exemplos são os artigos sobre tapa na cara, sobre como deixar que sua mulher seja uma puta na cama, homem guerreiro, meditação e 10 conselhos para homens.
Em meu próprio site, Não2Não1, muitas vezes também me dirijo aos homens. Já escrevi sobre como tratar mulheres com fome e raiva, sobre o poder do corpo, dança de salão, homens sensíveis e machões, prática de liberdade, profundidade e presença…
Para quem quiser participar…
Faça aqui sua inscrição para a Cabana.
Para as mulheres que desejam presentear o namorado ou o marido com esse treinamento, veja aqui como oferecer uma assinatura.
A quem não tem interesse algum em participar, espero ter contribuído ao explicar como um projeto desse tipo vem funcionando. Mais do que convidar, como disse na introdução, me propus a falar sobre outras possibilidades disponíveis quando um bando de homens se junta.
Por fim, agradeço a todos os participantes por esse trabalho na construção de um grupo virtuoso de homens que está formando, de fato, um grupo de homens virtuosos.
Atualização (julho de 2013)
O texto acima foi escrito em 2009. Desde então muita coisa amadureceu. Acesse o novo site, acompanhe nossa página no Facebook e nosso canal no YouTube.
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