“Eu quero representar a ideia de que você pode fazer o que quiser.”
–Will Smith

Desde os tempos em que coordenava uma lista de discussão sobre Ken Wilber, no famoso Yahoo! Grupos, me divirto ao criticar o movimento Nova Era, um dos departamentos da inescapável autoajuda. Para quem não sabe o que é, sempre aponto como referência os filmes The Secret e What The Bleep Do We Know.

O dilema é que cada vez mais esses equívocos se alastram por nossas retinas e horizontes. Como não é tão fácil detectar a visão new age, fiquei bem feliz ao encontrar a pérola abaixo.

Vídeos editados no YouTube são o novo PPT com mensagens romantizadas do Paulo Coelho. Aliás, em uma das cenas, Will Smith diz que O Alquimista é um de seus livros favoritos.

Link YouTube

Apesar do título, minha motivação não é apontar falhas em Will Smith. Não o conheço e não me interessa o grau de seu envolvimento com a Cientologia ou de sua sabedoria. Ele é um ator que admiro e dispara alguns bons discursos nesse vídeo, como aquela em que diz como nossa vida realmente ganha sentido quando beneficiamos outras vidas. Seria maravilhoso ouvir e incorporar essa generosidade sem que houvesse a necessidade de “Eu” fazer isso para “Eu” ser inesquecível e “Eu” me tornar especial.

Meu foco, portanto, está na visão de onde surgem tais falas. Aproveito o vídeo de modo impessoal para levantar um papo que considero importante para todos nós.

Aponto minha provocação para a salada de pseudo-física-quântica, PNL, espiritualidade-de-super-mercado, ocultismo e filosofia do sucesso. É um debate complicado, afinal tais abordagens podem ser relativamente benéficas – ajudam muita gente, sim. Ao mesmo tempo, talvez estejam criando um ambiente de bastante sofrimento e confusão para quem se esforça em “vencer na vida”.

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“Nós vamos dobrar o universo e exigir que ele se torne o que queremos que ele seja.”
–Will Smith

“Comer rezar amar”, outro belíssimo exemplo da visão nova era.

Pretendo dedicar um longo texto sobre cada um dos equívocos e mostrar como boa parte do discurso Nova Era ignora o melhor da ciência e o melhor da religião, reunindo o pior de ambas. Acreditar que a realidade é moldada pelos nossos pensamentos, por exemplo, pode dar um gás inicial a quem está mal, porém é uma visão que cultiva o autocentramento e abre espaço para o sofrimento gerado pela impermanência e pelos fenômenos que não conseguimos controlar.

Sem falar que a transformação proposta passa apenas por uma mudança de crenças, sem nenhum treinamento da mente envolvido. Nada para efetivamente cultivar qualidades positivas e superar nossa mente ansiosa, aflitiva, dispersa. Pelo contrário, as falas de Will Smith sugerem uma mente competitiva, orgulhosa e mimada.

“Eu estudo os padrões do universo.” […]
“Basta decidir. E a partir desse ponto o universo vai sair do seu caminho.” –Will Smith

Link YouTube | “O seu desejo é meu comando” (cena final). Sério mesmo que o universo é alguém que fala isso?

Tais apontamentos já são suficientes para abrir um papo inicial.

Vocês se identificam com muitas falas desse vídeo? Quais equívocos ou virtudes encontram em visões assim? Conhecem mais movimentos com bases similares? E, mais importante, como essa cultura condiciona o modo com que nós vivemos?

Gustavo Gitti

Professor de <a>TaKeTiNa</a>